sábado, 27 de fevereiro de 2010

design editorial

Capa: bandeira da Festa de Santa Helena

Projeto à espera de publicação - o admirável trabalho da fotógrafa Consuelo Abreu não merece menos do que isso.

Título: os dias santos de Minas Gerais
Fotografia: Consuelo Abreu
Edição e design gráfico: Ana Lúcia Parga
Textos: Guimarães Rosa e Adélia Prado (fontes citadas no projeto)
Formato: 24 x 24 cm
44 pp
Projeto editorial de conclusão do curso de design gráfico da ETIC.

Algumas páginas da maquete:


quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

sem comentários

Editora erra o nome de Paulo Coelho em capa espanhola.



"The streets were dark with something more than night." Raymond Chandler










Letra e Música
272 pp
Oceanos
Lisboa, Novembro de 2008
...........................
Fora de Horas

264 pp
Oceanos
Lisboa, Fevereiro de 2009




Na leitura de ambos os livros de Paulo Castilho, encontrei um estilo de que gosto muito: directo, coloquial, com finas camadas de ironia. São livros que dialogam com o leitor de forma inteligente e lúcida.

Cito um texto da contracapa de Fora de Horas: "Aparentemente a estação de caminho-de-ferro do Union Pacific está ainda intacta, tal como descrita em Playback. Estação que eu tinha visitado em filmes sem conta. Mas faltava em tudo aquilo qualquer coisa de essencial. Demasiada luz. Uma inundação de claridade. Era isso. Faltava a noite. Faltavam as sombras. Faltava a chuvada negra do Big Sleep. Faltava a face obscura com que os homens contagiam as cidades que povoam. Faltava a lucidez gelada da escuridão. Faltava também o Humphrey Bogart. Faltava a Lauren Bacall.
Eventualmente faltaremos todos. Permanecendo, porém, como deuses imortais, os sítios para continuarem a prestar o seu indiferente testemunho de silêncio."



Acordo: sim ou não?

Tenho procurado manter aqui o português de antes do Acordo - opção da grande maioria dos editores portugueses e não só.
Por outro lado, sei de autores portugueses que já aderiram ao Acordo.
E mais: as novas normas terão de vingar mais cedo ou mais tarde, independentemente das preferências pessoais.

Em resumo: este blog está indeciso, mas não deveria manter a indecisão por muito tempo...

revelação


Dulce Maria Cardoso
Prémio da União Europeia para a Literatura 2009
com o livro Os Meus Sentimentos



É uma noite de temporal. A noite do acidente. Há uma gota de água suspensa num estilhaço de vidro que teima em não cair.
Há um instante que se eterniza. Reflectida na gota, Violeta mergulha nessa eternidade e recorda o que pode ter sido o
último dia da sua vida, e nesse dia, toda a vida, e nessa vida,
os pais, a filha, a criada, o bastardo, e em todos, a urgência da vida que prossegue indiferente como estrada de onde ainda
agora se despistou. Nessa posição instável, de cabeça para baixo, presa pelo cinto de segurança, parece que tudo se desamarra.
O presente perde a opacidade com que o quotidiano o resguarda e Violeta afunda-se nos passados de que é feita, uma espiral alucinada de transparências e ecos. (...) Para onde foi o futuro?
(da badana de Os Meus Sentimentos)

Os Meus Sentimentos
312 pp
Edições ASA
Lisboa, Agosto de 2009


Perturbadores e belíssimos, os romances de Dulce Maria Cardoso criam personagens inesquecíveis enredadas em vidas que nos emocionam tanto quanto nos permitem olhar o mundo de uma forma atenta, inteligente e muitas vezes inesperada.
(da contracapa de O Chão dos Pardais)

O Chão dos Pardais
224 pp
Edições ASA
Lisboa, Outubro de 2009



terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Kundera

... os seus saltos soando no passeio fazem-me pensar nos caminhos que não percorri e que se dividem como ramos de uma árvore. Você despertou em mim a obsessão da minha primeira juventude: imaginava a vida à minha frente como uma árvore. Chamava-lhe então a árvore das possibilidades. Só durante curtos momentos se vê a vida assim. Depois ela surge como uma estrada imposta de uma vez para sempre, como um túnel donde não se pode sair. Contudo, o antigo aparecimento da árvore permanece em nós sob a forma de uma indelével nostalgia. Você recordou-me essa árvore, e, em troca, quero transmitir-lhe a imagem dela, fazer-lhe ouvir o seu murmúrio feiticeiro.

Do livro A Identidade, de Milan Kundera
54 pp
Edições Asa






Má tradução é texto fadado à insuficiência, por mais que o revisor leia e releia.
Má tradução associada a prazos curtos: não há revisor que dê jeito.

Real Gabinete Português de Leitura - Rio de Janeiro

fachada


interior


Instituição fundada em 1837 por imigrantes portugueses.
Edifício projectado pelo arquiteto português Rafael da Silva e Castro.

pedaços de História – O Rastro do Jaguar






1º Prémio LeYa
Março de 2009
568 pp




O autor Murilo Carvalho leva-nos ao virar do século XIX em Congonhas do Campo, Minas Gerais.
Um antigo jornalista de origem portuguesa, acompanhado do amigo Pierre, conduz-nos ao interior do Brasil e testemunha os conflitos que deram origem a uma das guerras mais sangrentas do hemisfério sul – a Guerra do Paraguai.
É também a guerra pelo espaço vital das populações índias, que desde então tentam recuperar a sua Terra Mítica. E ainda a guerra pessoal do próprio Pierre à procura de suas origens.

Baseado em factos verídicos e personagens reais, O Rastro do Jaguar retrata os intensos choques culturais e sociais que marcaram o século XIX e a relação dos europeus com as suas antigas colónias.

Um épico, às vezes desigual entre o que pretende e o que consegue, mas sem dúvida um retrato impressionante de um Brasil em busca do seu destino.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Adélia Prado



O Coração disparado
112 pp

Editora Nova Fronteira

Rio de Janeiro, Abril de 1978


Cinzas

No dia do meu casamento eu fiquei muito aflita.
Tomamos cerveja quente com empadas de capa grossa.
Tive filhos com dores.
Ontem, imprecisamente às nove e meia da noite,
eu tirava da bolsa um quilo de feijão.
Não luto mais daquele modo histérico,
entendi que tudo é pó que sobre tudo pousa e recobre
e a seu modo pacifica.
As laranjas freudianamente me remetem a uma fatia de sonho.
Meu apetite se aguça, estralo as juntas de boa impaciência.
Quem somos nós entre o laxante e o sonífero?
Haverá sempre uma nesga de poeira sob as camas,
um copo mal lavado. Mas que importa?
Que importam as cinzas,
se há convertidos em sua matéria ingrata,
até olhos que sobre mim estremeceram de amor?
Este vale é de lágrimas.
Se disser de outra forma, mentirei.
Hoje parece maio, um dia esplêndido,
os que vamos morrer iremos aos mercados.
O que há neste exílio que nos move?
Digam-no os legumes sobraçados
e esta elegia.
O que escrevi, escrevi
porque estava alegre.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Livraria LELLO - Porto


Fotógrafo: Aurélio Paz dos Reis






Alain de Botton


Título original: How Proust can change your Life
Tradução: Sónia Oliveira
240 pp
Publicações Dom Quixote
Alfragide, Outubro de 2009


Este foi, sem dúvida, um dos livros que mais gostei de ler e rever. Às vezes era difícil manter o olho de revisor, tal o interesse que despertou em mim: pelas revelações sobre Proust, e sobretudo pelo estilo de A. de Botton, de um humor refinado e inteligente. Botton é alguém que fala de temas comuns de tal forma, em que o clichê jamais está presente.

É daqueles tais livros que damos graças quando nos entregam para rever. Trabalho que é só prazer.

A título de curiosidade, o primeiro capítulo chama-se: Como amar a vida hoje.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

as enciclopédias ontem - e hoje?


 Uma das minhas melhores experiências como assistente editorial foi a participação na edição de alguns livros do ano da edição brasileira da enciclopédia World Book, que no Rio era publicada por um pequeno departamento da antiga editora Guanabara-Koogan, hoje parte do Grupo GEN (Grupo Editorial Nacional).
O chamado Livro do Ano era uma forma de manter minimamente actualizada a enciclopédia como um todo, onde se incluíam, ampliados em relação ao original, verbetes específicos da realidade brasileira.
Ainda melhor foi, posteriormente, ter a oportunidade de actualizar alguns volumes da própria enciclopédia, cujos verbetes nacionais já se encontravam por demais desfasados.

Hoje, com a Wikipedia e muitas outras fontes de consulta na internet, não consigo imaginar qual terá sido o destino das enciclopédias impressas, com o espaço limitado do papel facilmente ultrapassado pelo espaço ilimitado da web. Haverá alguém interessado em folhear os exemplares que eventualmente ainda se encontrem nas casas de algumas famílias que um dia os adquiriram em prestações?



Revista LER, Abril 2011. Comentário elucidativo de Umberto Eco: "A internet tem o problema de não ser filtrada. Há todo o tipo de informação possível. No entanto, a cultura é feita de filtragem. O que é a enciclopédia? É o conjunto das notícias controladas pela comunidade científica que nos diz que vale a pena saber isto e não vale a pena saber aquilo."

Matéria publicada em 15/03/2012 no jornal Folha de S. Paulo sobre o fim da Enciclopédia Britânica: http://livrosetc.blogfolha.uol.com.br/2012/03/14/enciclopedia-x-wikipedia/

"(...) A web, como se sabe, é a principal concorrente. Os números de queda nas vendas dão a medida do estrago: em 1990, foram compradas 120 mil coleções, em 2010, apenas 8.500. E a concorrente é principalmente a Wikipedia, como também se sabe, com seus 3, 9 milhões de verbetes, atualizados a cada instante por infinitos voluntários em todo o mundo. A Britânica reúne 120 mil verbetes, que só podiam ser mudados a cada nova edição bienal – e se você pensar que ninguém renova a enciclopédia de casa a cada dois anos, é ainda maior o estado de desatualização do leitor fiel que, por algum motivo insondável, se recuse a procurar mais sobre o assunto na internet. (...)"


Encyclopædia Britannica, 1768-2012

diminutivo à brasileira (Mário de Andrade e Manuel Bandeira / 29-XII-1924)













(...)
Quanto aos diminutivos são uma coisa deliciosa na tua obra. A pena foi serem feitos quase sempre à portuguesa. Você já reparou que o diminutivo brasileiro ainda é mais carinhoso que o português? Eu creio que isso nos veio do fundo amoroso do negro. Bodezinho pra nós ficou bodinho, que é uma maravilha e a que nada se compara no mundo das línguas que conheço. É engraçado, agora que começo a escrever brasileiro, tenho usado uma quantidade enorme de diminutivos. Você compreende: a gente não pode fingir, quer falar brasileiro mas isso não basta. É preciso sentir brasileiro também. Pus isso num poema que estou fazendo, pequenininho aliás, "O poeta come amendoim", e que assim que ficar pronto te mandarei, já está pronto até, mas tem umas coisas que não gosto, eu pus um diminutivo que é um achado, veja:

"A noite era pra descansar. As gargalhadas brancas dos mulatos.
Silêncio! O imperador medita os seus versinhos.
Os Caramurus conspiram na sombra das mangueiras."


Não achas estupendo aqueles "versinhos"? É uma caçoadinha cheia de respeito, cheia de amor nosso, bem brasileiro. Acho um encanto.
(...)

Tirado do livro Seria uma rima, não seria uma solução - a poesia modernista
336 pp
Livros Cotovia
Lisboa, 2005

aférese (ou um nome misterioso para algo simples)

Em muitos livros que leio a trabalho acabo por encontrar, mais cedo ou mais tarde, situações que me obrigam a uma pesquisa mais demorada. Mas a fonte que quase sempre me ajuda muito, pelo menos com algumas pistas que me levam aonde quero, é o Ciberdúvidas. Estive há pouco a pesquisar o - no lugar de está. O autor do livro em que vinha trabalhando tinha escrito t'á, o que pra mim não fazia sentido porque o apóstrofo marcaria a supressão de uma letra que de facto não existe entre o t e o a.
Fui ao Ciberdúvidas e não deu outra: o , sem qualquer apóstrofo, está correcto. Assim como o tou no lugar de estou. Explicam como sendo um caso de aférese, que é quando uma forma perdeu a sílaba inicial.

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Corfu



Título original: Corfu
Tradução: Ana Teresa de Castro
Revisão literária: Maria da Piedade Ferreira
308 pp
Edições Gótica
Lisboa, Abril de 2004


Na sequência do Cartas de Veneza de Dessaix, caiu-me nas mãos Corfu, sobre o qual prefiro trazer as palavras justas da contracapa:

"Sozinho numa casa alugada na ilha de Corfu, um actor australiano entra pouco a pouco na vida do homem que ali vive permanentemente, agora ausente em viagem, um escritor obscuro que ele nunca chega a conhecer. (...) Inspirado na história verídica do escritor australiano Kester Berwick, Corfu é um livro sobre a amizade, o amor, o banal e o extraordinário, o exílio e a pátria. Com as ilhas gregas como pano de fundo, mas também Adelaide e os subúrbios de Londres, este segundo romance de Dessaix é também uma reflexão sobre certas paisagens literárias (...) e o papel que a arte pode desempenhar para dar beleza às nossas vidas."

Quando da publicação de Corfu, o autor esteve em Lisboa para divulgá-lo e dar entrevistas, pelo que foi indispensável pedir-lhe que assinasse o meu exemplar, que agora exibo com orgulho:







Robert Dessaix: Cartas de Veneza


Título original: Night Letters
Tradução: Mário Dias Correia
Revista e anotada por Igor Miazmov
240 pp
Edições Gótica
Lisboa, Fevereiro de 2003


Este foi o primeiro livro de Robert Dessaix que li - e revi, quando ainda trabalhava no antigo Grupo Difel. E como é bom quando há esta coincidência: o livro em que trabalhamos é o mesmo que nos dá imenso prazer de ler - e de ter nas mãos depois de pronto, impresso, aqui com a bonita capa de Rogério Petinga.
Na tradução de Mario Dias Correia, revista e anotada por Igor Miazmov, quase nada foi preciso fazer em termos de revisão, ou seja, apenas o mínimo. Tradução maravilhosa à altura do texto original de Dessaix. Traddutore, traditore - mas não neste caso.

São 238 páginas de uma viagem por Veneza e seus labirintos. Um livro intenso e sofisticado que começa com uma citação do Inferno de Dante:

"No meio do caminho em nossa vida, eu me encontrei por uma selva escura porque a direita via era perdida. Ah, só dizer o que era é cousa dura esta selva selvagem, aspra e forte, que de temor renova à mente a agrura! Tão amarga é, que pouco mais é morte; mas, por tratar do bem que eu nela achei, direi mais cousas vistas de tal sorte." Dante, Inferno, Canto I (retirado da tradução de Vasco Graça Moura)

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