terça-feira, 22 de maio de 2012

Snoopy escritor...


A língua é minha pátria, e eu não tenho pátria, tenho mátria e quero frátria



Gosto de sentir a minha língua roçar a língua de Luís de Camões
Gosto de ser e de estar
E quero me dedicar a criar confusões de prosódias
E uma profusão de paródias
Que encurtem dores
E furtem cores como camaleões
Gosto do Pessoa na pessoa
Da rosa no Rosa
E sei que a poesia está para a prosa
Assim como o amor está para a amizade
E quem há de negar que esta lhe é superior?
E deixe os Portugais morrerem à míngua
“Minha pátria é minha língua”
Fala Mangueira! Fala!

Flor do Lácio Sambódromo Lusamérica latim em pó
O que quer
O que pode esta língua?

Vamos atentar para a sintaxe dos paulistas
E o falso inglês relax dos surfistas
Sejamos imperialistas! Cadê? Sejamos imperialistas!
Vamos na velô da dicção choo-choo de Carmem Miranda
E que o Chico Buarque de Holanda nos resgate
E - xeque-mate - explique-nos Luanda
Ouçamos com atenção os deles e os delas da TV Globo
Sejamos o lobo do lobo do homem
Lobo do lobo do lobo do homem
Adoro nomes
Nomes em ã
De coisas como rã e ímã
Ímã ímã ímã ímã ímã ímã ímã ímã
Nomes de nomes
Como Scarlet Moon de Chevalier, Glauco Mattoso e Arrigo Barnabé
e Maria da Fé e Arrigo Barnabé

Flor do Lácio Sambódromo Lusamérica latim em pó
O que quer
O que pode esta língua?

Se você tem uma idéia incrível é melhor fazer uma canção
Está provado que só é possível filosofar em alemão
Blitz quer dizer corisco
Hollywood quer dizer Azevedo
E o Recôncavo, e o Recôncavo, e o Recôncavo meu medo
A língua é minha pátria
E eu não tenho pátria, tenho mátria
E quero frátria
Poesia concreta, prosa caótica
Ótica futura
Samba-rap, chic-left com banana
- Será que ele está no Pão de Açúcar?
- Tá craude brô
- Você e tu
- Lhe amo
- Qué queu te faço, nega?
- Bote ligeiro!
Nós canto-falamos como quem inveja negros
Que sofrem horrores no Gueto do Harlem
Livros, discos, vídeos à mancheia
E deixa que digam, que pensem, que falem

de onde veio e por onde anda a nossa língua portuguesa?


  
A história da língua portuguesa é a história da sua evolução desde a origem, no noroeste da península ibérica, até ao presente, como língua oficial falada em Portugal, no Brasil e em vários países de expressão portuguesa. Em todos os aspectos – fonético, morfológico, léxico e sintáctico – o português é essencialmente o resultado de uma evolução orgânica do latim vulgar trazido por colonos romanos do século III a.C., com influências menores de outros idiomas.

O português arcaico desenvolveu-se no século V d.C., após a queda do Império Romano e as invasões bárbaras, como um dialecto românico, o chamado galego-português, que se diferenciou de outras línguas românicas ibéricas. Usado em documentos escritos desde o século IX, o galego-português tornou-se uma linguagem madura no século XIII, com uma rica literatura. Em 1290 foi decretado língua oficial do reino de Portugal pelo rei D. Dinis I. O salto para o português moderno dá-se no Renascimento, sendo o Cancioneiro Geral de Garcia Resende (1516) considerado o marco do seu início. A normatização da língua foi iniciada em 1536, com a criação das primeiras gramáticas, por Fernão de Oliveira e João de Barros.

A partir do século XVI, com a expansão da era dos descobrimentos, a história da língua portuguesa deixa de decorrer exclusivamente em Portugal, abrangendo o português europeu e o português internacional. (Wikipedia)

Acordos (e tentativas de acordo) ortográficos:

1911 – primeira grande reforma ortográfica adoptada em Portugal, não extensível ao Brasil.
1931 – primeiro Acordo Ortográfico aprovado entre Portugal e Brasil.
1943 – Convenção Ortográfica que deu origem ao "Formulário Ortográfico".
1945 – Convenção Ortográfica Luso-Brasileira, mas cujo resultado afinal só é tornado válido em Portugal.
1971 a 1973 – ajustes feitos em Portugal e no Brasil para reduzir as divergências ortográficas que persistiam.
1975 – projecto de Acordo, não aprovado oficialmente, por razões de ordem política, entre a Academia das Ciências de Lisboa e a Academia Brasileira de Letras.
1986 – no Rio de Janeiro, o primeiro encontro, na história da língua portuguesa, de representantes não apenas de Portugal e do Brasil, mas também dos cinco novos países africanos lusófonos emergidos da descolonização portuguesa.
O Acordo fruto desse encontro ficou inviabilizado pelas fortes reacções contrárias, sobretudo em Portugal.
1988 – Anteprojecto de Bases da Ortografia Unificada da Língua Portuguesa.
1990 – Acordo Ortográfico de Língua Portuguesa, visando instituir uma ortografia oficial unificada para a língua portuguesa. Este Acordo não encontrou consenso, sobretudo em Portugal, gerando grande contestação, havendo mesmo quem tenha afirmado a inconstitucionalidade do Tratado.


Para uma informação mais pormenorizada, veja o Observatório da Língua Portuguesa, e o Portal da Língua Portuguesa.


legal ou ilegal?

Autores, professores e estudantes se manifestam em favor do livrosdehumanas.org em redes sociais desde a última quinta-feira – no Twitter, tem sido usada a tag #freelivrosdehumanas.
O site, por onde se podia baixar gratuitamente um número aproximado de 2300 livros, saiu do ar depois de ser notificado pela justiça.
À frente da ação está a ABDR – Associação Brasileira de Direitos Reprográficos, que responsabiliza o site por uma das maiores ações de pirataria já ocorridas no país,  prejuízo estimado em R$ 200 milhões.
Essa é a terceira vez que o livrosdehumanas.org tem de sair do ar. Um ano atrás, foi suspenso pelo wordpress, que então o hospedava a esse respeito no caderno “Prosa e Verso”, do Globo.
Quando estreou, em 2009, o site funcionava no blogspot, até o dia em que o Google lhes avisou que o conteúdo indexado era protegido pela lei americana. Por precaução, os organizadores o tiraram do ar. O endereço ainda está ativo. (Através do blogue Livros Etc, de Josélia Aguiar – Folha.com)


Ler a entrevista com Thiago, moderador do livrosdehumanas.org: AQUI





de vez em quando é preciso revitalizar a vida

Abaporu (do tupi-guarani, significa "O homem que come"). De Tarsila do Amaral, 1928.


A vitalidade do modernismo brasileiro, no período áureo dos anos de 1920, é devedora de significativas obras literárias, de exposições artísticas, debates candentes pelos jornais, criação de revistas, apresentação de manifestos. Nesse conjunto a Revista de Antropofagia destacou-se pela concepção ousada e pelas idéias polêmicas. Lançada em São Paulo, em 1928, por Oswald de Andrade e um grupo de amigos, como Raul Bopp e António de Alcântara Machado. Com proposta gráfica ousada, a Revista de Antropofagia teve duas fases bem diferenciadas, divulgando editoriais questionadores, textos ficcionais, artigos provocadores, comentários breves, notas de efeito cômico. Embora animada pelo espírito inovador, há escolhas bastante contraditórias.
De maio de 1928 a fevereiro de 1929, a revista circulou de modo autônomo como periódico, totalizando dez números, cada qual contendo oito páginas. Nessa primeira etapa os editoriais assinados por António de Alcântara Machado focalizam questões de ordem social e política. Oswald de Andrade, Raul Bopp são presenças constantes. Entre os colaboradores estão José Américo de Almeida, Luís da Câmara Cascudo, Ascenso Ferreira, Ruy Cirne Lima. Comparecem vários jovens escritores de Minas, a exemplo de Rosário Fusco, Abgar Renault, Carlos Drummond de Andrade, Rubens de Moraes, Pedro Nava, Murilo Mendes. Há nomes já consagrados: Yan de Almeida Prado, Manuel Bandeira, Augusto Meyer, Guilherme de Almeida, Menotti Del Picchia, Álvaro Moreyra. Em meio aos textos, são reproduzidos desenhos de Rosário Fusco (Cataguazes), Antonio Gomide, da argentina Maria Clemência.
A capa da Revista de Antropofagia estampa uma ilustração de Hans Staden (1525-1579). A composição destaca aspectos de um ritual ameríndio de devoração humana, em sintonia com o ideário proposto por Oswald de Andrade no “Manifesto Antropófago”, divulgado no primeiro número da revista. Ainda que pouco sistematizado, o manifesto é um norteador de princípios. Sua linguagem poética, disposta num conjunto de aforismos, contempla paródias, fórmulas exemplares, palavras de ordem, transliterações de canto em língua geral, jogos verbais. Convive com a irreverência e com o imediatismo panfletário. Em diálogo com o manifesto, engasta-se no miolo da página um desenho de Tarsila do Amaral, O antropófago, seguindo as linhas do seu óleo sobre tela Abaporu (“O homem que come”), ou seja, O antropófago, concluído em janeiro de 1928. A tela foi oferecida a Oswald em janeiro, como presente de aniversário. Seguindo essa temática, Tarsila publica na 2ª. “dentição” da revista o desenho Antropofagia (abril) e a reprodução do óleo sobre tela de mesmo título (junho), ambos de 1929.
Com o intuito de arejar idéias, provocar, agitar, propunha-se então a descida às nossas matrizes recalcadas, sem descartar o avanço técnico do mundo contemporâneo, e em paridade com as idéias de Marx, de Freud, e dos surrealistas. Oswald firma o manifesto “em Piratininga. Anno 374 da Deglutição do Bispo Sardinha”. No conjunto dos escritos, um exemplo a destacar é o artigo de página inteira na revista de número 5, em que Oswald de Andrade aproveita para rebater críticas de Tristão de Athayde, e reafirmar fundamentos de sua “antropofagia”, propondo uma revisão da “história daqui e da Europa”. Sugere, então, que a data de nossa independência seja 11 de outubro de 1492, “último dia da América livre, pura, descolombisada, encantada e bravia”. Compreender o país significava valorizar o legado primitivo dos ameríndios, o papel da cultura africana em nosso meio, as manifestações de nossa arte popular miscigenada. Nessa esteira reflexiva, envolvendo língua, cultura e sociedade, Mário de Andrade publica “O lundu do escravo”; “Romance do veludo”; “Lundu do escritor difícil”; “Antropofagia?”, além do capítulo de abertura de Macunaíma.(...)

Para continuar a ler, com sugestões de leitura sobre o tema, siga ESTE link.

Texto de Maria Augusta Fonseca, Professora Livre Docente da Universidade de São Paulo (USP).

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