segunda-feira, 5 de agosto de 2013

tradutor poeta ou poeta tradutor?

Link para o texto completo: AQUI

«Se a obra de arte é o meio onde podem ser encontradas as respostas para as indagações da sociedade, o modernismo respondeu ao século 20 trocando a simetria pela irregularidade, pelo contraste, pela dissonância, pelo efeito do imprevisível e inesperado. Embora tivesse implícita uma democracia que não exigia que suas inovações fossem adotadas com exclusividade, dando espaço, também, àqueles que utilizassem os padrões fixos. É nesse cenário que surge Manuel Bandeira. Poeta modernista brasileiro, que chocou a sociedade com o poema “Os sapos” na Semana de Arte de 1922. A irreverência, a ausência de rimas, os elementos inesperados de construções metafóricas, os temas sociais em evidência são características marcantes da poesia de Bandeira.»

O parágrafo acima pertence ao texto de Cristina Patriota: «Manuel Bandeira: tradutor poeta ou poeta tradutor?»


Manuel Bandeira, poeta e tradutor, um dos mais
importantes autores de Língua Portuguesa. 



Os Sapos

Enfunando os papos,
Saem da penumbra,
Aos pulos, os sapos.
A luz os deslumbra.

Em ronco que aterra,
Berra o sapo-boi:
- "Meu pai foi à guerra!"
- "Não foi!" - "Foi!" - "Não foi!".

O sapo-tanoeiro,
Parnasiano aguado,
Diz: - "Meu cancioneiro
É bem martelado.

Vede como primo
Em comer os hiatos!
Que arte! E nunca rimo
Os termos cognatos.

O meu verso é bom
Frumento sem joio.
Faço rimas com
Consoantes de apoio.

Vai por cinquüenta anos
Que lhes dei a norma:
Reduzi sem danos
A fôrmas a forma.

Clame a saparia
Em críticas céticas:
Não há mais poesia,
Mas há artes poéticas..."

Urra o sapo-boi:
- "Meu pai foi rei!"- "Foi!"
- "Não foi!" - "Foi!" - "Não foi!".

Brada em um assomo
O sapo-tanoeiro:
- A grande arte é como
Lavor de joalheiro.

Ou bem de estatuário.
Tudo quanto é belo,
Tudo quanto é vário,
Canta no martelo".

Outros, sapos-pipas
(Um mal em si cabe),
Falam pelas tripas,
- "Sei!" - "Não sabe!" - "Sabe!".

Longe dessa grita,
Lá onde mais densa
A noite infinita
Veste a sombra imensa;

Lá, fugido ao mundo,
Sem glória, sem fé,
No perau profundo
E solitário, é

Que soluças tu,
Transido de frio,
Sapo-cururu
Da beira do rio...


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