domingo, 15 de agosto de 2010

"Falar uma língua não é fazer o que a língua diz"


Leio numa curiosa entrevista com Daniel Heller-Roazen, linguista, pesquisador, algo que não conhecia: as misturas de línguas nos poemas medievais. Poemas que começam, por exemplo, em árabe, mas terminam em português ou espanhol; ou então que alternam entre latim e francês, ou galego e provençal. O que interessa a Daniel é a ideia de um texto cuja língua era incerta, ou mesmo impossível de se identificar. Como ele diz, "são textos escritos numa língua de ninguém".
Recentemente, Daniel H-R publicou um livro chamado Escolalias - Sobre o Esquecimento das Línguas, onde, entre outros temas, fala sobre a noção de pertença da língua, que ele comenta também na entrevista: "A preocupação com a conservação das línguas expressa uma concepção de linguagem que é, em minha opinião, contestável. Quem tem, enfim, o poder de decidir o que as pessoas falam, ou como elas falam? Uma língua pertence igualmente a todos que a falam, não é inalienável, como uma propriedade."
E ainda: "Falar uma língua não é fazer o que a língua diz, mas se envolver com ela, mudá-la, alterá-la."

Achei útil citar tais ideias, além da menção ao livro do autor, em tempos em que tantas dúvidas e questões de norma trazem a língua portuguesa para o debate quotidiano - e um debate, diga-se de passagem, bastante acalorado, e que ainda vai longe de terminar.

Escolalias: Sobre o Esquecimento das Línguas
Daniel Heller-Roazen
Tradução de Fábio Akceirud Durão
216 pp
Editora Unicamp
2010

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

129.864.880 de livros


O mundo tem hoje cerca de 129 milhões de livros. Quem se deu ao trabalho de fazer essa conta foi o Google, tendo como base seu ambicioso projeto de digitalização de livros, o Google Books. O número impressiona quando se pensa na Biblioteca de Alexandria, a maior da antiguidade. Segundo a previsão mais otimista, feita pelo físico Carl Sagan na série Cosmos, ela teria perto de um milhão de pergaminhos, possivelmente muitos deles duplicados.

O engenheiro de software Leonid Taycher explicou no blog do Google Books o complexo processo utilizado pela empresa para fazer o cálculo. O Google coleta informações de várias fontes como bibliotecas, livrarias e outros catálogos. Com um arquivo bruto que já ultrapassa um bilhão de registros, a empresa então analisa esses dados para diminuir a quantidade de duplicações em cada uma das fontes, baixando o número a 600 milhões.

A partir daí é preciso um ajuste fino para diminuir as duplicações que permanecem entre as diferentes fontes. Como exemplo, Taycher conta que existem 96 registros diferentes em 46 fontes do livro "Programando em Perl, 3ª edição". Duas vezes por semana a equipe unifica todos esses registros em volumes separados, levando em conta todos os atributos de cada um deles, como nome do livro, autor, editora, ISBN, ano de publicação, etc.

Após todo esse trabalho o algoritmo do Google entregou cerca de 210 milhões de volumes, mas esse número muda sempre que a conta é refeita, por causa dos novos dados que chegam e das mudanças para aperfeiçoar o algoritmo.

O número final foi alcançado após a exclusão de microfilmes, gravações de áudio, mapas e outras obras que não deveriam ser classificadas como livros: 129.864.880.

Em um de seus projetos mais polêmicos, o Google quer digitalizar todos os livros do mundo, o que tem lhe valido uma grande briga com editoras e autores. O Google Books já foi criticado até mesmo pelo Departamento de Justiça dos EUA, que acusa a empresa de não dar a devida proteção ao direitos dos autores das obras.

Fonte: O GLOBO de 06/8/2010: http://oglobo.globo.com/tecnologia/mat/2010/08/06/google-diz-que-mundo-tem-129-864-880-de-livros-917330576.asp

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

antiga Livraria José Olympio Editora

Rua do Ouvidor, 110

Imagem a propósito do lançamento do livro Rua do Ouvidor 110 - Uma História da Livraria José Olympio, na Livraria da Travessa, Rio.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Voyage to Brazil

Não sei se isto acontece sempre que estamos a viver em outro lugar que não o nosso, original. Mas o facto é que, de longe, o meu olhar em direção à minha cidade vem se demorando cada vez mais, interessado na sua história, à espera do que a sua paisagem, modificada ao longo dos séculos, ainda é capaz de contar; dos segredos das suas ruas que já tiveram tantos nomes; do casario que ainda consegue estar de pé em meio à indiferença de muitos - mas não de todos.
Estar longe de casa certamente tem a ver com esse desejo de estabelecer pontes onde, antes, pouco ou nada eu via.
Talvez por tais caminhos é que tenha vindo ao meu encontro, pelas mãos de uma amiga, este Journal of a Voyage to Brazil, escrito por Maria Graham.

"Rio de Janeiro, sábado, 15 de dezembro de 1821. - Nada do que vi até agora é comparável, em beleza, à baía. Nápoles, o Firth of Forth, o porto de Bombaim e Trincomalee, cada um dos quais julgava perfeito em seu gênero de beleza, todos lhe devem render preito, porque esta baía excede cada uma das outras em seus vários aspectos. Altas montanhas, rochedos como colunas superpostas, florestas luxuriantes, ilhas de flores brilhantes, margens de verdura, tudo misturado com construções brancas, cada pequena eminência coroada com sua igreja ou fortaleza, navios ancorados, ou em movimento, (...) em um tão delicioso clima, tudo isso se reúne para tornar o Rio de Janeiro a cena mais encantadora que a imaginação pode conceber. 19 de dezembro. - Passeei a cavalo, ao lado de Langford, por um dos pequenos vales ao pé do Corcovado. É chamado Laranjeiros [Laranjeiras], por causa das numerosas árvores de laranjas que crescem dos dois lados do pequeno rio que o embeleza e fertiliza. Logo à entrada do vale, uma pequena planície verde espraia-se para ambos os lados, através da qual corre o riacho sobre seu leito de pedras, oferecendo um lugar tentador para grupos de lavadeiras (...)."

Maria Graham (Inglaterra, 1785-1842) é responsável por um dos mais fidedignos e atentos depoimentos sobre o Brasil da década de 20 do século XIX. No Rio de Janeiro, testemunha os acontecimentos do chamado Dia do Fico e visita os arredores da cidade, desenhando e fazendo inúmeras anotações. Conquista então a amizade da Imperatriz D. Leopoldina, que a escolhe como preceptora da princesa D. Maria da Glória. Ficou no Brasil até 1826, quando volta definitivamente à Inglaterra.


Diário de Uma Viagem ao Brasil
Maria Graham
424 pp
Coleção Reconquista do Brasil, volume 157
Editora Itatiaia Ltda
Belo Horizonte, 1990


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