terça-feira, 13 de julho de 2010

antes do nome


















Não me importa a palavra, esta corriqueira.
Quero é o esplêndido caos de onde emerge a sintaxe,
os sítios escuros onde nasce o "de", o "aliás",
o "o", o "porém" e o "que", esta incompreensível
muleta que me apóia.
Quem entender a linguagem entende Deus
cujo Filho é Verbo. Morre quem entender.
A palavra é disfarce de uma coisa mais grave, surda-muda,
foi inventada para ser calada.
Em momentos de graça, infrenquentíssimos,
se poderá apanhá-la: um peixe vivo com a mão.
Puro susto e terror.


Bagagem
Adélia Prado
2ª edição
Editora Nova Fronteira
Rio de Janeiro, 1979
p. 25

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