Texto tirado de "Observatório da Imprensa" e escrito por Deonísio da Silva em 8/6/2010 (http://www.observatoriodaimprensa.com.br)
"Em inglês, técnico de futebol é coach e  a palavra está presente em expressões como he is a slow coach –  equivalente, no português, a "ele é devagar", "demora a compreender", "é  tapadão". Mas por que coach, que significou originalmente apenas  coche, carruagem, e ainda significa, veio a designar o técnico de  futebol?
No húngaro, onde a palavra surgiu, era kocsi szekér,  carro de Kócs, cidadezinha no Norte da Hungria, onde esses veículos  foram fabricados pela primeira vez. Quando o filho de Matthias Corvinus  (século 15), o mais popular dos reis húngaros, apelidado o Justo,  casou-se com uma duquesa de Milão, a palavra espalhou-se por toda a  Europa.
No alemão, foi escrito originalmente Kotsche,  coche, carruagem, diligência (no alemão atual é Kutsche e deve  ser escrito sempre com a inicial maiúscula por se tratar de  substantivo). Dali foi para o holandês ets, para o polonês kocz  etc. Espanhóis e portugueses escrevem coche, embora os primeiros  pronunciem com um "t" intermediário: "cotche".
O veículo deu  nome ao ofício
Foi mais ou menos o que ocorreu com a carruagem  feita em Berlim, que os franceses escreveram berline, cujas  vidraças laterais permitiam ver quais as pessoas que eram ali  conduzidas, ensejando os comentários. Hoje, "estar na berlinda" é ser  objeto de comentários.
Como sabem os que têm paixão pela viagem  das palavras, seu berço oferece indícios de significados sempiternos, ou  então efêmeros, passageiros, às vezes vindo a significar exatamente o  contrário do que significaram na origem.
Na cultura inglesa, o  treinador vinha para o campo de coach e o veículo que o  transportava deu nome a seu ofício. No Brasil, entretanto, apesar de o  futebol ter sido trazido pelo inglês Charles Miller, pouco a pouco as  denominações foram adaptadas ou substituídas por genéricos do português.
O  mais fácil na pronúncia
O goal keeper tornou-se  goleiro apenas. Goal, meta, objetivo, tornou-se gol. Back  virou beque e depois lateral, tomando o nome da área do campo onde  atuava: lateral esquerdo, lateral direito, e mais recentemente os  laterais passaram a ser designados alas. Nas primeiras transmissões dos  jogos de futebol por rádio ainda eram ouvidos quíper, já aportuguesado,  mas também "fau", adaptação do inglês foul, falta.
O  jogador de número 5, hoje designado volante, mas não exclusivamente,  pois a mania da retranca faz com que os técnicos recuem também o  meia-direita, número 8, ou o meia-esquerda, camisa 10, jogando com dois  volantes, e o centroavante, camisa 9, teve na origem designações do  inglês: center half e center forward. Mas por que volante  para o número 5? Há uma lenda a conferir. Entre 1938 e 1943 teria jogado  no Flamengo um argentino chamado Carlos Martin Volante. Ele exercia tão  bem a função de marcar na intermediária que deu nome à posição.
O  inglês football tornou-se futebol no Brasil, dito "futibol" na  maioria das regiões, e futebol em outras. Ball tornou-se bola  apenas. Juiz e árbitro ainda disputam a denominação, mas chamar "árbitro  ladrão" é mais difícil do que "juiz ladrão". A palavra juiz é mais  comum, árbitro é mais rara e além do mais é proparoxítona e na língua  portuguesa predominam as paraxítonas. Cavalo é mais fácil de dizer.  Imagine xingar um zagueiro de "cávalo". É como se, no calor dos  trópicos, a indolência, a preguiça ou o simples cansaço fizessem com que  buscássemos o mais fácil também na pronúncia."