«Minha doce Ofélia
O momento em que percebemos que a ilusão sucessiva dos dias, ou a sua música, chegou ao fim acaba sempre por chegar. Se era ilusão, é como quando, ao romper do dia, os contornos do real, de esbatidos que eram, são investidos pela luz que cresce e tornam-se nítidos, cortantes como lâminas, e sem remissão. Se era música, é como as notas de uma orquestra, depois do allegro, do scherzoso, do adagio e do allegro maestoso se tornassem solenes e se extinguissem lentamente: as luzes baixam, o concerto acabou.»
Está-se a fazer cada vez mais tarde, Antonio
Tabucchi, Dom Quixote, 2001. (p. 151)