terça-feira, 30 de julho de 2013

a força das crônicas nascidas na rua (durante as manifs no Rio)

«Tem a Mídia Ninja, a grande sensação dos meios de comunicação, a TV que transmite por telefone diretamente de onde o pau estiver quebrando, e tem a partir deste momento, aqui também pela internet, a Crônica Ninja.

É aquela que enrola a camiseta na cabeça dos bons modos de redigir, deixa de fora apenas os olhos de ver a emoção nas ruas, os narizes de respirar o vento das almas carregadas de gás lacrimogêneo – e vai transmitindo o que sai aos borbotões pelo coração, pela veia quântica da jugular. Tudo na certeza de que a edição, o pensar duas vezes, a pontuação escorreita, tudo que não for ao vivo e de primeira acaba frio como aquele prato de dobradinha fria que o Fernando Pessoa comeu como vingança quente em algum poema que a Bethania deve ter lido num show dos anos 80.

A Crônica Ninja, esta que agora aqui se vos apresenta digitalmente, liga a tecla F e sai mostrando o que antes não devia ser visto porque, diziam os técnicos, não tinha qualidade ou não era o que estava na grade. A Crônica Ninja não obedece regras, desdenha o ponto e vírgula e todos os salamaleques portugueses trazidos pelos herdeiros de Cabral e seus asseclas.

Desprezamos a imagem perfeita e a necessidade de um sinal claro de satélite. Apostamos no mesmo borrão dos impressionistas do século passado e na urgência de acima de tudo dizer o que passa na cidade, na memória dos cidadãos ou no desejo de quem quiser se expressar. Vale tudo. Valem todas as vírgulas e principalmente a ausência delas, pois são todos cacoetes ultrapassados, barreiras reacionárias e de tempos menos aflitos.
Chega das primaveras líricas dos velhos cronistas, libere-se a escrita a quem  queira. Às favas com os parágrafos que se abrem, cobrem cinco linhas, se fecham novamente, abrem em mais cinco linhas e assim vão formando um texto careta e previsível. A partir de agora vai um tijolaço. Hoje não tem revisão, é tudo de primeira e sem o novo dicionário ortográfico ao lado. Chega do culto ao texto burilado, que passou pelo copydesk. A redação está na rua, quebrando todos os parâmetros e metendo a língua aonde nunca foi chamada. A Crônica Ninja prefere o rascunho, os erros de sintaxe e as perplexidades das sensações. Não estamos mais interessados no cronista cheio de certezas, que pensa no que vai falar e trabalha a performance com todos os recursos de estilo. Vazem, otários. Não transmitiremos mais os colóquios de Fernando Sabino. Todo este mundo de clássicos, de câmera firme, imagens definidas, tudo isso ficou velho demais diante do novo modo Ninja de ver as coisas. O sujo, o não policiado, o papo livre, eis os vencedores. Estamos do outro lado do que se acostumou chamar de forças da ordem culta, das leis gramaticais e seus agentes ocultos, P2 que não se sabem mais se sujeitos ou predicados. A Crônica Ninja é a plataforma urgente para flanar nas ruas da cidade, nem aí para a necessidade do autor estar sindicalizado, com a carteira assinada, os impostos pagos ao INSS dos burocratas. ABRIMOS O VERBO E ELE VAI ASSIM, CRU, PARA AS REDES [maiúsculas nossas]. Colocamos as nossas incertezas e novas razões dentro de uma garrafa com qualquer inflamável. Atiramos contra os que querem a limpeza gramatical, vandalizamos a coerência semântica e outras academias mais. É pau, é pedra, é o fim das vidraças, das prateleiras e todos os academicismos da ordem vernacular. Tenho dito. Soltem o Amarildo. Rubem Braga não me representa.»

Fonte: AQUI

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