segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

as enciclopédias ontem - e hoje?


 Uma das minhas melhores experiências como assistente editorial foi a participação na edição de alguns livros do ano da edição brasileira da enciclopédia World Book, que no Rio era publicada por um pequeno departamento da antiga editora Guanabara-Koogan, hoje parte do Grupo GEN (Grupo Editorial Nacional).
O chamado Livro do Ano era uma forma de manter minimamente actualizada a enciclopédia como um todo, onde se incluíam, ampliados em relação ao original, verbetes específicos da realidade brasileira.
Ainda melhor foi, posteriormente, ter a oportunidade de actualizar alguns volumes da própria enciclopédia, cujos verbetes nacionais já se encontravam por demais desfasados.

Hoje, com a Wikipedia e muitas outras fontes de consulta na internet, não consigo imaginar qual terá sido o destino das enciclopédias impressas, com o espaço limitado do papel facilmente ultrapassado pelo espaço ilimitado da web. Haverá alguém interessado em folhear os exemplares que eventualmente ainda se encontrem nas casas de algumas famílias que um dia os adquiriram em prestações?



Revista LER, Abril 2011. Comentário elucidativo de Umberto Eco: "A internet tem o problema de não ser filtrada. Há todo o tipo de informação possível. No entanto, a cultura é feita de filtragem. O que é a enciclopédia? É o conjunto das notícias controladas pela comunidade científica que nos diz que vale a pena saber isto e não vale a pena saber aquilo."

Matéria publicada em 15/03/2012 no jornal Folha de S. Paulo sobre o fim da Enciclopédia Britânica: http://livrosetc.blogfolha.uol.com.br/2012/03/14/enciclopedia-x-wikipedia/

"(...) A web, como se sabe, é a principal concorrente. Os números de queda nas vendas dão a medida do estrago: em 1990, foram compradas 120 mil coleções, em 2010, apenas 8.500. E a concorrente é principalmente a Wikipedia, como também se sabe, com seus 3, 9 milhões de verbetes, atualizados a cada instante por infinitos voluntários em todo o mundo. A Britânica reúne 120 mil verbetes, que só podiam ser mudados a cada nova edição bienal – e se você pensar que ninguém renova a enciclopédia de casa a cada dois anos, é ainda maior o estado de desatualização do leitor fiel que, por algum motivo insondável, se recuse a procurar mais sobre o assunto na internet. (...)"


Encyclopædia Britannica, 1768-2012

diminutivo à brasileira (Mário de Andrade e Manuel Bandeira / 29-XII-1924)













(...)
Quanto aos diminutivos são uma coisa deliciosa na tua obra. A pena foi serem feitos quase sempre à portuguesa. Você já reparou que o diminutivo brasileiro ainda é mais carinhoso que o português? Eu creio que isso nos veio do fundo amoroso do negro. Bodezinho pra nós ficou bodinho, que é uma maravilha e a que nada se compara no mundo das línguas que conheço. É engraçado, agora que começo a escrever brasileiro, tenho usado uma quantidade enorme de diminutivos. Você compreende: a gente não pode fingir, quer falar brasileiro mas isso não basta. É preciso sentir brasileiro também. Pus isso num poema que estou fazendo, pequenininho aliás, "O poeta come amendoim", e que assim que ficar pronto te mandarei, já está pronto até, mas tem umas coisas que não gosto, eu pus um diminutivo que é um achado, veja:

"A noite era pra descansar. As gargalhadas brancas dos mulatos.
Silêncio! O imperador medita os seus versinhos.
Os Caramurus conspiram na sombra das mangueiras."


Não achas estupendo aqueles "versinhos"? É uma caçoadinha cheia de respeito, cheia de amor nosso, bem brasileiro. Acho um encanto.
(...)

Tirado do livro Seria uma rima, não seria uma solução - a poesia modernista
336 pp
Livros Cotovia
Lisboa, 2005

aférese (ou um nome misterioso para algo simples)

Em muitos livros que leio a trabalho acabo por encontrar, mais cedo ou mais tarde, situações que me obrigam a uma pesquisa mais demorada. Mas a fonte que quase sempre me ajuda muito, pelo menos com algumas pistas que me levam aonde quero, é o Ciberdúvidas. Estive há pouco a pesquisar o - no lugar de está. O autor do livro em que vinha trabalhando tinha escrito t'á, o que pra mim não fazia sentido porque o apóstrofo marcaria a supressão de uma letra que de facto não existe entre o t e o a.
Fui ao Ciberdúvidas e não deu outra: o , sem qualquer apóstrofo, está correcto. Assim como o tou no lugar de estou. Explicam como sendo um caso de aférese, que é quando uma forma perdeu a sílaba inicial.

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