«Virei tradutor por circunstâncias de ordem objetiva e por um certo
iluminismo ingênuo que, em determinado momento, se deu conta de que
havia obras maravilhosas que ainda não haviam chegado ao leitor
brasileiro e quis suprir lacunas. Eu comecei a escrever ficção bem cedo,
quando comecei a escrever. Registrava minhas impressões sobre o mundo e
sobre as pessoas em notas de caderno que já tinham o arcabouço que só
muitos anos mais tarde vim a saber que era aforístico (...).»
Leia aqui toda a entrevista: Falta, carência e tremor
sexta-feira, 6 de dezembro de 2013
segunda-feira, 25 de novembro de 2013
Livros de chumbo
Os 70 livros de metal encontrados em caverna na Jordânia podem mudar a nossa visão da história bíblica e do Apocalipse.
Para os estudiosos da fé e da história, é um tesouro precioso demais. Esta antiga coleção de 70 livros pequenos, com páginas de chumbo amarrados com arame, pode desvendar alguns dos segredos dos primórdios do cristianismo. Os acadêmicos estão divididos quanto à sua autenticidade, mas dizem que se verificou serem tão fundamentais quanto a descoberta dos Manuscritos do Mar Morto, em 1947.Ver mais AQUI
domingo, 24 de novembro de 2013
sexta-feira, 1 de novembro de 2013
lema dos revisores
«Age quod agis: "faze o que fazes", isto é, aplica-te completamente ao que estás fazendo. Provérbio.
Seu lema [o dos revisores] deverá ser Age quod agis, isto é, faze o que estás fazendo no momento, não te distraias em outra coisa; aplica toda a tua atenção, porque ao mais ligeiro descuido lá se escapa um erro, às vezes grave e sem remédio." (Eduardo Frieiro, Os Livros Nossos Amigos, Capítulo XXVII)»
Verbete do livro Não Perca o Seu Latim, de Paulo Rónai, Editora Nova Fronteira, 4ª edição, Rio de Janeiro, 1980.
Seu lema [o dos revisores] deverá ser Age quod agis, isto é, faze o que estás fazendo no momento, não te distraias em outra coisa; aplica toda a tua atenção, porque ao mais ligeiro descuido lá se escapa um erro, às vezes grave e sem remédio." (Eduardo Frieiro, Os Livros Nossos Amigos, Capítulo XXVII)»
Verbete do livro Não Perca o Seu Latim, de Paulo Rónai, Editora Nova Fronteira, 4ª edição, Rio de Janeiro, 1980.
sábado, 26 de outubro de 2013
por Camila
Molho shoyo
Na fila do restaurante por quilo, um menino de uns 7 ou 8 anos me pede sem mais nem menos:
- Tia, paga um lanchinho pra mim?
....
ler o restante aqui: Recordar, Repetir e Elaborar
domingo, 29 de setembro de 2013
revisão pra quê?
«O Revisão para quê? é um site dedicado à Língua Portuguesa e à revisão de textos. Procuramos tratar com bom humor situações que vivemos no dia a dia e que antes compartilhávamos apenas entre os amigos mais próximos.
Aqui, de maneira alguma incentivamos o preconceito linguístico, apenas temos em mente que a linguagem falada é diferente da escrita; portanto, nesse caso, julgamos adequado seguir os padrões da norma culta, principalmente quando os textos são publicados por veículos de grande audiência.
Esperamos que aproveitem as dicas e se divirtam com os textos, pois essa é a ideia!»
Conheça o site: REVISÃO PRA QUÊ?
sábado, 28 de setembro de 2013
Lady Chatterley
«O romance que parecia lento acaba no ápice. É como se todo o livro fosse um grande relacionamento. Do primeiro olhar ao gozo triunfante. A busca dos personagens é pela satisfação completa, independente de sua classe, idade ou da opinião pública. Busca pelo prazer – não o prazer hedonista de orgias, eternas bebedeiras, grandes gastos -, mas um prazer quase epicurista do amor, da boa comida, da diversão possível.»
Para ler toda a resenha, veja AQUI
capa da edição (ano?) da Editora Civilização Brasileira S. A.
D. H. Lawrence (1885-1930)
Link sobre o autor: http://en.wikipedia.org/wiki/D._H._Lawrence
Os 100 melhores livros de sempre e os "esquecidos"
A listagem (publicada no Expresso de 8 de julho) é de 2009, mas trouxe assim mesmo. São referências que não mudam:
2. 1984, George Orwell, 1949
16. E Tudo o Vento Levou, Margaret Mitchell, 1936
39. Pela Estrada Fora, Jack Kerouac, 1957
66. À Beira do Abismo, Raymond Chandler, 1939
91. A Primavera Silenciosa, Rachel Carson, 1962
O Homem Sem Qualidades, Robert Musil, 1943
OS CEM MELHORES LIVROS:
2. 1984, George Orwell, 1949
3. Ulisses, James Joyce, 1922
4. Lolita, Vladimir Nabokov, 1955
5. O Som e a Fúria, William Faulkner, 1929
6. O Homem Invisível, Ralph Ellison, 1952
7. Rumo ao Farol, Virginia Woolf, 1927
8. Ilíada e Odisseia, Homero, século VIII a.c.
9. Orgulho e Preconceito, Jane Austen, 1813
10. A Divina Comédia, Dante Alighieri, 1321
11. Os Contos de Cantuária, Geoffrey Chaucer, século XV
12. As Viagens de Gulliver, Jonathan Swift, 1726
13. A Vida Era Assim em Middlemarch, George Eliot, 1874
14. Quando Tudo se Desmorona, Chinua Achebe, 1958
16. E Tudo o Vento Levou, Margaret Mitchell, 1936
17. Cem Anos de Solidão, Gabriel García Márquez, 1967
18. O Grande Gatsby, Scott Fitzgerald, 1925
19. Catch 22, Joseph Heller, 1961
20. Beloved, Toni Morrison, 1987
21. As Vinhas da Ira, John Steinbeck, 1939
22. Os Filhos da Meia-Noite, Salman Rushdie, 1981
23. Admirável Mundo Novo, Aldous Huxley, 1932
24. Mrs. Dalloway, Virgínia Woolf, 1925
25. O Filho Nativo, Richard Wright, 1940
26. Da Democracia na América, Alexis de Tocqueville, 1835
27. A Origem das Espécies, Charles Darwin, 1859
28. Histórias, Heródoto, 440 a.c.
29. O Contrato Social, Jean-Jacques Rosseau, 1762
30. O Capital, Karl Marx, 1867
31. O Príncipe, Nicolau Maquiavel, 1532
32. Confissões, Santo Agostinho, século IV
33. Leviatã, Thomas Hobbes, 1651
34. História da Guerra do Peloponeso, Tucídides, 431 a.c.
35. O Senhor dos Anéis, J.R.R. Tolkien, 1954
36. Winnie The Pooh, A. A. Milne, 1926
37. O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa, C. S. Lewis, 1950
39. Pela Estrada Fora, Jack Kerouac, 1957
40. Por Favor Não Matem a Cotovia, Harper Lee, 1960
41. A Bíblia Sagrada
42. Laranja Mecânica, Anthony Burgess, 1962
43. Luz em Agosto, William Faulkner, 1932
44. As Almas da Gente Negra, W. E. B. Du Bois, 1903
45. Vasto Mar de Sargaços, Jean Rhys, 1966
46. Madame Bovary, Gustave Flaubert, 1857
47. O Paraíso Perdido, John Milton, 1667
48. Anna Karenina, Lev Tolstoi, 1877
49. Hamlet, William Shakespeare, 1603
50. Rei Lear, William Shakespeare, 1608
51. Otelo, William Shakespeare, 1622
52. Sonetos, William Shakespeare, 1609
53. Folhas de Erva, Walt Whitman, 1855
54. As Aventuras de Huckleberry Finn, Mark Twain, 1885
55. Kim, Rudyard Kipling, 1901
56. Frankenstein, Mary Shelley, 1818
57. Song of Solomon, Toni Morrison, 1977
58. Voando Sobre um Ninho de Cucos, Ken Kesey, 1962
59. Por Quem os Sinos Dobram, Ernest Hemingway, 1940
60. Matadouro Cinco, Kurt Vonnegut, 1969
61. O Triunfo dos Porcos, George Orwell, 1945
62. O Deus das Moscas, William Golding, 1954
63. A Sangue Frio, Truman Capote, 1965
64. O Caderno Dourado, Doris Lessing, 1962
66. À Beira do Abismo, Raymond Chandler, 1939
67. Na Minha Morte, William Faulkner, 1930
68. O Sol Nasce Sempre (Fiesta), Ernest Hemingway, 1926
69. Eu, Cláudio, Robert Graves, 1934
70. Coração, Solitário Caçador, Carson McCullers, 1940
71. Filhos e Amantes, D. H. Lawrence, 1913
72. All The King's Men, Robert Penn Warren, 1946
73. Go Tell It on The Mountain, James Baldwin, 1953
74. A Menina e o Porquinho, E. B. White, 1952
75. O Coração das Trevas, Joseph Conrad, 1902
76. Noite, Elie Wiesel, 1958
77. Corre, Coelho, John Updike, 1960
78. A Idade da Inocência, Edith Wharton, 1920
79. O Complexo de Portnoy, Philip Roth, 1969
80. Uma Tragédia Americana, Theodore Dreiser, 1925
81. O Dia dos Gafanhotos, Nathanael West, 1939
82. Trópico de Câncer, Henry Miller, 1934
83. O Falcão de Malta, Dashiell Hammett, 1930
84. Mundos Paralelos, Philip Pullman, 1995
85. Death Comes for the Archbishop, Willa Cather, 1927
86. A Interpretação dos Sonhos, Sigmund Freud, 1900
87. A Educação de Henry Adams, Henry Adams, 1918
88. O Livro Vermelho, Mao Tsé Tung, 1964
89. As Variedades da Experiência Religiosa, William James, 1902
91. A Primavera Silenciosa, Rachel Carson, 1962
92. A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda, John Maynard Keynes, 1936
93. Lord Jim, Joseph Conrad, 1900
94. Goodbye to All That, Robert Graves, 1929
95. A Sociedade da Abundância, John Kenneth Galbraith, 1958
96. O Vento nos Salgueiros, Kenneth Grahame, 1908
97. A Autobiografia de Malcolm X, Alex Haley e Malcolm X, 1965
98. Eminent Victorians, Lytton Strachey, 1918
99. A Cor Púrpura, Alice Walker, 1982
100. Memórias da Segunda Guerra Mundial, Winston Churchill, 1948
ESQUECIDOS:
Os dez livros que faltam
As listas dos 'melhores' livros de sempre são como as sondagens: valem o que valem. No top-100
da "Newsweek", à subjectividade que qualquer escolha deste tipo sempre
acarreta, juntam-se dois factores que lhe limitam o alcance e a
utilidade: a desproporção de referências literárias anglófonas (81% dos
títulos), que remete o resto do mundo a uma injustíssima quase
inexistência, e o facto de alguns autores estarem representados por dois
ou três livros. Para um europeu, é incompreensível que estejam ausentes
nomes como os de Camões, Cervantes, Balzac, Eça de Queirós, Oscar
Wilde, Pirandello, Pessoa, Camus, Beckett, Italo Calvino, Yasunari
Kawabata, Elias Canetti, Julio Cortázar, J. M. Coetzee, Orhan Pamuk, por
troca com autores menores como W. E. B. Du Bois, Ken Kesey, James
Baldwin, E. B. White ou Willa Cather. Entre as grandes obras que esta
lista ignora, contam-se estas dez:
Orlando Furioso, Ludovico Ariosto, 1516
Os Lusíadas, Luís Vaz de Camões, 1572
Dom Quixote, Miguel de Cervantes, 1605-1615
Tristram Shandy, Laurence Sterne, 1759-1767
Crime e Castigo, Dostoiévski, 1866
Contos, Tcheckov
O Homem Sem Qualidades, Robert Musil, 1943
Ficções, Jorge Luis Borges, 1944
O Quarteto de Alexandria, Lawrence Durrell, 1960
terça-feira, 24 de setembro de 2013
Língua: modos de usar
«É possível falar em certo e errado em relação à língua?
Quais os critérios para essa definição? O linguista Sírio Possenti e o
filósofo Danilo Marcondes apresentam aqui o que pensam sobre o tema.»
«Durante muito tempo, ninguém duvidou que o desempenho dos falantes pudesse ser qualificado em certo e errado. Mas, há pelo menos dois séculos, essa tese caiu em desuso. A questão ainda não é bem compreendida, mas a confusão atual é um indício de avanço. Bem ou mal, as variedades (antes) tidas por erradas são levadas em conta, até aceitas, desde que fiquem em seu lugar. Mais na prática do que na teoria, diria.
Para tentar esclarecer a questão, proponho um conjunto de teses que se complementam.»
Ler todo o texto aqui: lingua-modos-de-usar
quinta-feira, 5 de setembro de 2013
«Um bom preparador se contrói com muito tempo, experiência e calmantes.»
«Se houvesse bom-senso no mundo, “preparador de texto” seria uma
afecção mental categorizada pelo CID-10 (Classificação Internacional de
Doenças e de Problemas Relacionados a Saúde, Décima Revisão).
Nas editoras, o preparador é aquela pobre alma responsável pela primeira revisão de um livro, ainda no arquivo de Word. É a mais trabalhosa, que busca limpar o texto, corrigi-lo e aperfeiçoá-lo. O trabalho de preparação consiste em adequar o original às normas editoriais, seguindo um gigantesco manual de padronização que dispõe sobre citações, versaletes, colocação pronominal, pontuação, galicismos, siglas, topônimos estrangeiros e coisas como o singular de “gnocchi”, que é “gnocco” e não pode ser aportuguesado para “inhoco”.
Trata-se de uma leitura atenta, escorada por vasto material de apoio e dicionários vernáculos. Inúmeros detalhes devem ser considerados — itens como sintaxe, coerência, ortografia, ambiguidade, repetição desnecessária, vícios de linguagem, ecos de língua estrangeira, falsos cognatos, ritmos frasais e outras questões de cunho literário. O texto deve fluir bem, sem engasgos.
É obrigação do preparador formatar o arquivo original e bater todos os parágrafos (verificando se o tradutor não pulou nenhum trecho). Essa é uma tarefa particularmente apreciada pelos mais neuróticos, que ajeitam quebras de página e formatam títulos com o entusiasmo de quem toma Berlim.
Um bom preparador é caso psiquiátrico. Convém que ele sofra de um leve transtorno obsessivo-compulsivo e seja persistente, perfeccionista e incansável. É preciso gostar de pesquisar minúcias como a composição química do tricofitobezoar, interessar-se por dispositivos bélicos da Segunda Guerra, especializar-se em generais bizantinos, possuir um dicionário de gírias de milicos e ler tudo sobre a moda seiscentista só para checar se a infanta Margarida usava calcinhas de elástico.
O preparador de originais é um xiita vocabular. Em Ser feliz, de Will Ferguson, há uma frase que resume a categoria: “O preparador de texto enlouqueceu”, exclama May. A personagem é editora de livros e até entende que o preparador é pago para ser minucioso, conferir gramática, pontuação e uso do idioma. “Mas esse sujeito passou das medidas. Passou mesmo. Ele assinalou a frase ‘manuscrito escrito à mão’, disse que era redundância, que a raiz em latim é manus, que significa ‘mão’.”
Tem todo o meu apoio.
O preparador é aquele sujeito que chega a sacrificar uma lagartixa só para ver se ela escorre pela parede ou desaba de uma vez no chão. Minha mãe quase chegou a esse ponto — sim, pois a preparação é um ofício que passa de geração em geração, só que ao contrário. Minha avó será a próxima.
Tem alma de preparador aquele que desconfia de tudo e se gaba publicamente ao encontrar algum erro gritante no original, como passagens bíblicas equivocadas num livro sobre São Francisco de Assis ou um tradutor que topou com a expressão “coolie-hating” e, distraído, salpicou um desvairado “ódio aos cães da raça collie”.
Corre a lenda sobre um profissional que achou uma incongruência no enredo de A invenção de Morel, de Adolfo Bioy Casares. Desde já, um mito entre seus pares.
Quando o distinto Paulo Werneck (ex-editor da Companhia e hoje no caderno Ilustríssima, da Folha de S.Paulo) me convidou para trabalhar para a editora, resgatando-me de um deprimente cargo de revisora num site de fofocas, ele revelou a principal qualidade do preparador: a desconfiança. Duvidar de tudo, até da grafia de Shakespeare, Tolstói e Getulio Vargas. (Sobre essa última, a lendária preparadora Márcia Copola deu a palavra final: após pesquisar documentos da época, viu que o Pai dos Pobres não acentuava o nome ao assinar, e assim ficou estabelecido).
Em termos de mania, a inverossimilhança e a impossibilidade física fazem salivar qualquer preparador. Uma frase pronta para a intervenção: “Com os cotovelos apoiados no ombro, ele se sentou correndo sobre a panturrilha esquerda, movendo o cenho na direção oposta”. (A não ser que o livro tenha motivos circenses. Nesse caso, convém ter à mão o telefone do Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Picadeiro para esclarecer eventuais dúvidas.)
Como último e derradeiro sintoma da moléstia, o preparador de texto deve sofrer de dupla personalidade, pois precisa se mostrar respeitoso e arrogante a um só tempo. Respeitoso com o estilo do autor e com as soluções do tradutor, mas arrogante o suficiente para passar a tesoura e reformular os trechos que julgue necessário.
Um bom preparador se constrói com muito tempo, experiência e calmantes. Embora eu já demonstrasse pendor para a atividade em meus tempos de revisora de fofocas — títulos de minha lavra: “Gatuno rouba peruca de Jennifer Lopez” e “Julio Iglesias tira o sapato em cadeia nacional” —, minha consagração na área de copy-editing veio mesmo na Companhia das Letras, onde exasperei editores com meus comentários longos, engraçadinhos e desnecessários, e causei poderosas enxaquecas em tradutores renomados com minhas dúvidas e anseios estilísticos.
Nas palavras de FERGUSON 2002, pp. 71-2: “Preparadores de texto, ah! Todos malucos. Malucos, estou te dizendo!”.»
Texto de Vanessa Bárbara, jornalista e tradutora. Tirado DAQUI.
Nas editoras, o preparador é aquela pobre alma responsável pela primeira revisão de um livro, ainda no arquivo de Word. É a mais trabalhosa, que busca limpar o texto, corrigi-lo e aperfeiçoá-lo. O trabalho de preparação consiste em adequar o original às normas editoriais, seguindo um gigantesco manual de padronização que dispõe sobre citações, versaletes, colocação pronominal, pontuação, galicismos, siglas, topônimos estrangeiros e coisas como o singular de “gnocchi”, que é “gnocco” e não pode ser aportuguesado para “inhoco”.
Trata-se de uma leitura atenta, escorada por vasto material de apoio e dicionários vernáculos. Inúmeros detalhes devem ser considerados — itens como sintaxe, coerência, ortografia, ambiguidade, repetição desnecessária, vícios de linguagem, ecos de língua estrangeira, falsos cognatos, ritmos frasais e outras questões de cunho literário. O texto deve fluir bem, sem engasgos.
É obrigação do preparador formatar o arquivo original e bater todos os parágrafos (verificando se o tradutor não pulou nenhum trecho). Essa é uma tarefa particularmente apreciada pelos mais neuróticos, que ajeitam quebras de página e formatam títulos com o entusiasmo de quem toma Berlim.
Um bom preparador é caso psiquiátrico. Convém que ele sofra de um leve transtorno obsessivo-compulsivo e seja persistente, perfeccionista e incansável. É preciso gostar de pesquisar minúcias como a composição química do tricofitobezoar, interessar-se por dispositivos bélicos da Segunda Guerra, especializar-se em generais bizantinos, possuir um dicionário de gírias de milicos e ler tudo sobre a moda seiscentista só para checar se a infanta Margarida usava calcinhas de elástico.
O preparador de originais é um xiita vocabular. Em Ser feliz, de Will Ferguson, há uma frase que resume a categoria: “O preparador de texto enlouqueceu”, exclama May. A personagem é editora de livros e até entende que o preparador é pago para ser minucioso, conferir gramática, pontuação e uso do idioma. “Mas esse sujeito passou das medidas. Passou mesmo. Ele assinalou a frase ‘manuscrito escrito à mão’, disse que era redundância, que a raiz em latim é manus, que significa ‘mão’.”
Tem todo o meu apoio.
O preparador é aquele sujeito que chega a sacrificar uma lagartixa só para ver se ela escorre pela parede ou desaba de uma vez no chão. Minha mãe quase chegou a esse ponto — sim, pois a preparação é um ofício que passa de geração em geração, só que ao contrário. Minha avó será a próxima.
Tem alma de preparador aquele que desconfia de tudo e se gaba publicamente ao encontrar algum erro gritante no original, como passagens bíblicas equivocadas num livro sobre São Francisco de Assis ou um tradutor que topou com a expressão “coolie-hating” e, distraído, salpicou um desvairado “ódio aos cães da raça collie”.
Corre a lenda sobre um profissional que achou uma incongruência no enredo de A invenção de Morel, de Adolfo Bioy Casares. Desde já, um mito entre seus pares.
Quando o distinto Paulo Werneck (ex-editor da Companhia e hoje no caderno Ilustríssima, da Folha de S.Paulo) me convidou para trabalhar para a editora, resgatando-me de um deprimente cargo de revisora num site de fofocas, ele revelou a principal qualidade do preparador: a desconfiança. Duvidar de tudo, até da grafia de Shakespeare, Tolstói e Getulio Vargas. (Sobre essa última, a lendária preparadora Márcia Copola deu a palavra final: após pesquisar documentos da época, viu que o Pai dos Pobres não acentuava o nome ao assinar, e assim ficou estabelecido).
Em termos de mania, a inverossimilhança e a impossibilidade física fazem salivar qualquer preparador. Uma frase pronta para a intervenção: “Com os cotovelos apoiados no ombro, ele se sentou correndo sobre a panturrilha esquerda, movendo o cenho na direção oposta”. (A não ser que o livro tenha motivos circenses. Nesse caso, convém ter à mão o telefone do Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Picadeiro para esclarecer eventuais dúvidas.)
Como último e derradeiro sintoma da moléstia, o preparador de texto deve sofrer de dupla personalidade, pois precisa se mostrar respeitoso e arrogante a um só tempo. Respeitoso com o estilo do autor e com as soluções do tradutor, mas arrogante o suficiente para passar a tesoura e reformular os trechos que julgue necessário.
Um bom preparador se constrói com muito tempo, experiência e calmantes. Embora eu já demonstrasse pendor para a atividade em meus tempos de revisora de fofocas — títulos de minha lavra: “Gatuno rouba peruca de Jennifer Lopez” e “Julio Iglesias tira o sapato em cadeia nacional” —, minha consagração na área de copy-editing veio mesmo na Companhia das Letras, onde exasperei editores com meus comentários longos, engraçadinhos e desnecessários, e causei poderosas enxaquecas em tradutores renomados com minhas dúvidas e anseios estilísticos.
Nas palavras de FERGUSON 2002, pp. 71-2: “Preparadores de texto, ah! Todos malucos. Malucos, estou te dizendo!”.»
Texto de Vanessa Bárbara, jornalista e tradutora. Tirado DAQUI.
quarta-feira, 4 de setembro de 2013
segunda-feira, 26 de agosto de 2013
sábado, 24 de agosto de 2013
Ipsis litteris
«É corrente a crença de que os sentidos antigos das palavras são mais
verdadeiros do que os atuais. É um caso específico do mito da língua
perfeita, que teria existido em algum momento, em algum lugar. A crença
explica o sucesso de livrinhos sobre a origem das palavras.
Ora, nunca se poderá descobrir o pretenso sentido original. Não se pode ir ao início dos tempos. Sempre há o limite dos documentos. A pesquisa deve se deter em um momento dado da história, que não é seu início. Além disso, em geral, descobre-se que então os sentidos já eram muitos...
Apesar de tudo, a crença permanece. Um de seus efeitos menos inteligentes é certa mania recente de ‘corrigir’ as interpretações correntes, atuais, populares. A tendência ataca indistintamente expressões idiomáticas, textos populares e provérbios, entre outros.(...)»
Muito bom artigo, que vale a pena ler completo AQUI
Ora, nunca se poderá descobrir o pretenso sentido original. Não se pode ir ao início dos tempos. Sempre há o limite dos documentos. A pesquisa deve se deter em um momento dado da história, que não é seu início. Além disso, em geral, descobre-se que então os sentidos já eram muitos...
Apesar de tudo, a crença permanece. Um de seus efeitos menos inteligentes é certa mania recente de ‘corrigir’ as interpretações correntes, atuais, populares. A tendência ataca indistintamente expressões idiomáticas, textos populares e provérbios, entre outros.(...)»
Muito bom artigo, que vale a pena ler completo AQUI
segunda-feira, 19 de agosto de 2013
a língua e muito mais
«(...) a língua não baixou do céu dada por Deus ou pelos deuses, que ela é
fruto humano. Perfeito. O único problema é que a ideia de arbitrariedade
passou a ser confundida por alguns com vale-tudo: se tudo é convenção,
tudo pode ser mudado. Ora, vivemos de convenções de todos os tipos e
achamos normal respeitá-las, porque foram feitas para isso, mas as da
língua são altamente questionáveis aos olhos de muitos. Por que essa
sanha? Por causa do seu valor simbólico.» (do blogue de Ivone Benedetti)
Vale a pena ler o texto completo AQUI e dar uma espiadela no blogue A Grenha.
Vale a pena ler o texto completo AQUI e dar uma espiadela no blogue A Grenha.
sexta-feira, 9 de agosto de 2013
recordar "Cem Anos de Solidão"
Desenhos de Carybé para o livro.
«Arte por meio da escrita é o que fez o colombiano Gabriel García Márquez em sua obra definitiva, Cem Anos de Solidão. Construiu a história latino-americana tão repleta de guerras e solidão a partir da árvore genealógica de uma família.
A América Latina é uma região diferenciada do mundo — quanto à história da construção de sua identidade. As instabilidades políticas, aliadas à insuficiência de recursos, muito contribuiu para a eclosão de movimentos típicos da alma latino-americana: ditaduras, guerras, guerrilhas, repressões, exílios e exportação de refugiados são fatos próprios de nossa história. Uma história de solidão, como bem definiu um de seus maiores intérpretes. Na visão desse intérprete, isso se deve a um nó que evidencia “a insuficiência dos recursos convencionais para tornar nossa vida acreditável”.
Esse mesmo intérprete delineou, com a inteligência que lhe é
peculiar, o perfil inerente ao
continente latino-americano. Continente
que revela o muito que tem de demente, mesmo após a libertação do
império espanhol, que por anos dominou a maioria dos países
latino-
americanos. Transcrevamos parte de um discurso desse
intelectual, quando do
recebimento da maior honraria que um homem de
letras pode receber neste mundo: o Prêmio Nobel de Literatura.»
Link pra o artigo completo: AQUI
segunda-feira, 5 de agosto de 2013
tradutor poeta ou poeta tradutor?
Link para o texto completo: AQUI
«Se a obra de arte é o meio onde podem ser encontradas as respostas para as indagações da sociedade, o modernismo respondeu ao século 20 trocando a simetria pela irregularidade, pelo contraste, pela dissonância, pelo efeito do imprevisível e inesperado. Embora tivesse implícita uma democracia que não exigia que suas inovações fossem adotadas com exclusividade, dando espaço, também, àqueles que utilizassem os padrões fixos. É nesse cenário que surge Manuel Bandeira. Poeta modernista brasileiro, que chocou a sociedade com o poema “Os sapos” na Semana de Arte de 1922. A irreverência, a ausência de rimas, os elementos inesperados de construções metafóricas, os temas sociais em evidência são características marcantes da poesia de Bandeira.»
O parágrafo acima pertence ao texto de Cristina Patriota: «Manuel Bandeira: tradutor poeta ou poeta tradutor?»
«Se a obra de arte é o meio onde podem ser encontradas as respostas para as indagações da sociedade, o modernismo respondeu ao século 20 trocando a simetria pela irregularidade, pelo contraste, pela dissonância, pelo efeito do imprevisível e inesperado. Embora tivesse implícita uma democracia que não exigia que suas inovações fossem adotadas com exclusividade, dando espaço, também, àqueles que utilizassem os padrões fixos. É nesse cenário que surge Manuel Bandeira. Poeta modernista brasileiro, que chocou a sociedade com o poema “Os sapos” na Semana de Arte de 1922. A irreverência, a ausência de rimas, os elementos inesperados de construções metafóricas, os temas sociais em evidência são características marcantes da poesia de Bandeira.»
O parágrafo acima pertence ao texto de Cristina Patriota: «Manuel Bandeira: tradutor poeta ou poeta tradutor?»
Manuel Bandeira, poeta e tradutor, um dos mais
importantes autores de Língua Portuguesa.
Os Sapos
Enfunando os papos,
Saem da penumbra,
Aos pulos, os sapos.
A luz os deslumbra.
Em ronco que aterra,
Berra o sapo-boi:
- "Meu pai foi à guerra!"
- "Não foi!" - "Foi!" - "Não foi!".
O sapo-tanoeiro,
Parnasiano aguado,
Diz: - "Meu cancioneiro
É bem martelado.
Vede como primo
Em comer os hiatos!
Que arte! E nunca rimo
Os termos cognatos.
O meu verso é bom
Frumento sem joio.
Faço rimas com
Consoantes de apoio.
Vai por cinquüenta anos
Que lhes dei a norma:
Reduzi sem danos
A fôrmas a forma.
Clame a saparia
Em críticas céticas:
Não há mais poesia,
Mas há artes poéticas..."
Urra o sapo-boi:
- "Meu pai foi rei!"- "Foi!"
- "Não foi!" - "Foi!" - "Não foi!".
Brada em um assomo
O sapo-tanoeiro:
- A grande arte é como
Lavor de joalheiro.
Ou bem de estatuário.
Tudo quanto é belo,
Tudo quanto é vário,
Canta no martelo".
Outros, sapos-pipas
(Um mal em si cabe),
Falam pelas tripas,
- "Sei!" - "Não sabe!" - "Sabe!".
Longe dessa grita,
Lá onde mais densa
A noite infinita
Veste a sombra imensa;
Lá, fugido ao mundo,
Sem glória, sem fé,
No perau profundo
E solitário, é
Que soluças tu,
Transido de frio,
Sapo-cururu
Da beira do rio...
Saem da penumbra,
Aos pulos, os sapos.
A luz os deslumbra.
Em ronco que aterra,
Berra o sapo-boi:
- "Meu pai foi à guerra!"
- "Não foi!" - "Foi!" - "Não foi!".
O sapo-tanoeiro,
Parnasiano aguado,
Diz: - "Meu cancioneiro
É bem martelado.
Vede como primo
Em comer os hiatos!
Que arte! E nunca rimo
Os termos cognatos.
O meu verso é bom
Frumento sem joio.
Faço rimas com
Consoantes de apoio.
Vai por cinquüenta anos
Que lhes dei a norma:
Reduzi sem danos
A fôrmas a forma.
Clame a saparia
Em críticas céticas:
Não há mais poesia,
Mas há artes poéticas..."
Urra o sapo-boi:
- "Meu pai foi rei!"- "Foi!"
- "Não foi!" - "Foi!" - "Não foi!".
Brada em um assomo
O sapo-tanoeiro:
- A grande arte é como
Lavor de joalheiro.
Ou bem de estatuário.
Tudo quanto é belo,
Tudo quanto é vário,
Canta no martelo".
Outros, sapos-pipas
(Um mal em si cabe),
Falam pelas tripas,
- "Sei!" - "Não sabe!" - "Sabe!".
Longe dessa grita,
Lá onde mais densa
A noite infinita
Veste a sombra imensa;
Lá, fugido ao mundo,
Sem glória, sem fé,
No perau profundo
E solitário, é
Que soluças tu,
Transido de frio,
Sapo-cururu
Da beira do rio...
terça-feira, 30 de julho de 2013
a força das crônicas nascidas na rua (durante as manifs no Rio)
«Tem a Mídia Ninja, a grande sensação dos meios de comunicação, a TV
que transmite por telefone diretamente de onde o pau estiver quebrando, e
tem a partir deste momento, aqui também pela internet, a Crônica Ninja.
É aquela que enrola a camiseta na cabeça dos bons modos de redigir, deixa de fora apenas os olhos de ver a emoção nas ruas, os narizes de respirar o vento das almas carregadas de gás lacrimogêneo – e vai transmitindo o que sai aos borbotões pelo coração, pela veia quântica da jugular. Tudo na certeza de que a edição, o pensar duas vezes, a pontuação escorreita, tudo que não for ao vivo e de primeira acaba frio como aquele prato de dobradinha fria que o Fernando Pessoa comeu como vingança quente em algum poema que a Bethania deve ter lido num show dos anos 80.
A Crônica Ninja, esta que agora aqui se vos apresenta digitalmente, liga a tecla F e sai mostrando o que antes não devia ser visto porque, diziam os técnicos, não tinha qualidade ou não era o que estava na grade. A Crônica Ninja não obedece regras, desdenha o ponto e vírgula e todos os salamaleques portugueses trazidos pelos herdeiros de Cabral e seus asseclas.
Desprezamos a imagem perfeita e a necessidade de um sinal claro de satélite. Apostamos no mesmo borrão dos impressionistas do século passado e na urgência de acima de tudo dizer o que passa na cidade, na memória dos cidadãos ou no desejo de quem quiser se expressar. Vale tudo. Valem todas as vírgulas e principalmente a ausência delas, pois são todos cacoetes ultrapassados, barreiras reacionárias e de tempos menos aflitos.
Chega das primaveras líricas dos velhos cronistas, libere-se a escrita a quem queira. Às favas com os parágrafos que se abrem, cobrem cinco linhas, se fecham novamente, abrem em mais cinco linhas e assim vão formando um texto careta e previsível. A partir de agora vai um tijolaço. Hoje não tem revisão, é tudo de primeira e sem o novo dicionário ortográfico ao lado. Chega do culto ao texto burilado, que passou pelo copydesk. A redação está na rua, quebrando todos os parâmetros e metendo a língua aonde nunca foi chamada. A Crônica Ninja prefere o rascunho, os erros de sintaxe e as perplexidades das sensações. Não estamos mais interessados no cronista cheio de certezas, que pensa no que vai falar e trabalha a performance com todos os recursos de estilo. Vazem, otários. Não transmitiremos mais os colóquios de Fernando Sabino. Todo este mundo de clássicos, de câmera firme, imagens definidas, tudo isso ficou velho demais diante do novo modo Ninja de ver as coisas. O sujo, o não policiado, o papo livre, eis os vencedores. Estamos do outro lado do que se acostumou chamar de forças da ordem culta, das leis gramaticais e seus agentes ocultos, P2 que não se sabem mais se sujeitos ou predicados. A Crônica Ninja é a plataforma urgente para flanar nas ruas da cidade, nem aí para a necessidade do autor estar sindicalizado, com a carteira assinada, os impostos pagos ao INSS dos burocratas. ABRIMOS O VERBO E ELE VAI ASSIM, CRU, PARA AS REDES [maiúsculas nossas]. Colocamos as nossas incertezas e novas razões dentro de uma garrafa com qualquer inflamável. Atiramos contra os que querem a limpeza gramatical, vandalizamos a coerência semântica e outras academias mais. É pau, é pedra, é o fim das vidraças, das prateleiras e todos os academicismos da ordem vernacular. Tenho dito. Soltem o Amarildo. Rubem Braga não me representa.»
Fonte: AQUI
É aquela que enrola a camiseta na cabeça dos bons modos de redigir, deixa de fora apenas os olhos de ver a emoção nas ruas, os narizes de respirar o vento das almas carregadas de gás lacrimogêneo – e vai transmitindo o que sai aos borbotões pelo coração, pela veia quântica da jugular. Tudo na certeza de que a edição, o pensar duas vezes, a pontuação escorreita, tudo que não for ao vivo e de primeira acaba frio como aquele prato de dobradinha fria que o Fernando Pessoa comeu como vingança quente em algum poema que a Bethania deve ter lido num show dos anos 80.
A Crônica Ninja, esta que agora aqui se vos apresenta digitalmente, liga a tecla F e sai mostrando o que antes não devia ser visto porque, diziam os técnicos, não tinha qualidade ou não era o que estava na grade. A Crônica Ninja não obedece regras, desdenha o ponto e vírgula e todos os salamaleques portugueses trazidos pelos herdeiros de Cabral e seus asseclas.
Desprezamos a imagem perfeita e a necessidade de um sinal claro de satélite. Apostamos no mesmo borrão dos impressionistas do século passado e na urgência de acima de tudo dizer o que passa na cidade, na memória dos cidadãos ou no desejo de quem quiser se expressar. Vale tudo. Valem todas as vírgulas e principalmente a ausência delas, pois são todos cacoetes ultrapassados, barreiras reacionárias e de tempos menos aflitos.
Chega das primaveras líricas dos velhos cronistas, libere-se a escrita a quem queira. Às favas com os parágrafos que se abrem, cobrem cinco linhas, se fecham novamente, abrem em mais cinco linhas e assim vão formando um texto careta e previsível. A partir de agora vai um tijolaço. Hoje não tem revisão, é tudo de primeira e sem o novo dicionário ortográfico ao lado. Chega do culto ao texto burilado, que passou pelo copydesk. A redação está na rua, quebrando todos os parâmetros e metendo a língua aonde nunca foi chamada. A Crônica Ninja prefere o rascunho, os erros de sintaxe e as perplexidades das sensações. Não estamos mais interessados no cronista cheio de certezas, que pensa no que vai falar e trabalha a performance com todos os recursos de estilo. Vazem, otários. Não transmitiremos mais os colóquios de Fernando Sabino. Todo este mundo de clássicos, de câmera firme, imagens definidas, tudo isso ficou velho demais diante do novo modo Ninja de ver as coisas. O sujo, o não policiado, o papo livre, eis os vencedores. Estamos do outro lado do que se acostumou chamar de forças da ordem culta, das leis gramaticais e seus agentes ocultos, P2 que não se sabem mais se sujeitos ou predicados. A Crônica Ninja é a plataforma urgente para flanar nas ruas da cidade, nem aí para a necessidade do autor estar sindicalizado, com a carteira assinada, os impostos pagos ao INSS dos burocratas. ABRIMOS O VERBO E ELE VAI ASSIM, CRU, PARA AS REDES [maiúsculas nossas]. Colocamos as nossas incertezas e novas razões dentro de uma garrafa com qualquer inflamável. Atiramos contra os que querem a limpeza gramatical, vandalizamos a coerência semântica e outras academias mais. É pau, é pedra, é o fim das vidraças, das prateleiras e todos os academicismos da ordem vernacular. Tenho dito. Soltem o Amarildo. Rubem Braga não me representa.»
Fonte: AQUI
segunda-feira, 10 de junho de 2013
quinta-feira, 30 de maio de 2013
Mia Couto – Prémio Camões 2013
“Eu
nasci para estar calado. Minha única vocação é o silêncio. Foi meu pai
que me explicou: tenho inclinação para não falar, um talento para apurar
silêncios. Escrevo bem, silêncios, no plural. Sim, porque não há um
único silêncio. E todo o silêncio é música em estado de gravidez.
Quando me viam, parado e recatado, no meu invisível recanto, eu não
estava pasmado. Estava desempenhado, de alma e corpo ocupados: tecia os
delicados fios com que se fabrica a quietude. Eu era um afinador de
silêncios.”
Mia Couto, no livro Antes de Nascer o Mundo
quinta-feira, 23 de maio de 2013
sexta-feira, 17 de maio de 2013
As capas de "Cem Anos de Solidão"
30 designs de capa, em 30 línguas diferentes, para Cem Anos de Solidão,
de Gabriel García Márquez. Na ordem: espanhol, búlgaro, grego, tcheco,
alemão, eslovaco, árabe, sueco, holandês, francês, italiano, armênio,
japonês, norueguês, português, russo, dinamarquês, catalão, turco,
polonês, inglês, hebraico, chinês, persa, finlandês, bósnio, húngaro,
albanês, coreano.
quinta-feira, 16 de maio de 2013
The last bookshop
Curta-metragem inglês The last bookshop (“A última livraria”),
de Richard Dadd e Dan Fryer, produção independente recente
que imagina um futuro onde só resta uma única – e maravilhosa – livraria. Essa notável
resistência comercial se deve exclusivamente à teimosia do velho dono,
que não vê um cliente cruzar a porta da loja há vinte e cinco anos. Até
que um dia aparece por lá um garoto e...
através de The Paris Review
A biblioteca Mindlin abre ao público
Depois de anos de muito trabalho (e expectativa) a Biblioteca Mindlin abriu suas portas ao público.
“Não faço nada sem alegria” é uma exposição de longa
duração com painéis, fotos e vídeos sobre a vida de Guita e José, a
formação do acervo da Biblioteca, a construção do edifício, a cultura do
livro, a história da imprensa e o prazer da leitura. (São Paulo, Brasil.)
quarta-feira, 15 de maio de 2013
terça-feira, 14 de maio de 2013
the daily routines of famous writers
"Kurt Vonnegut’s recently published daily routine made we wonder how other beloved writers organized their days. So I
pored through various old diaries and interviews — many from the
fantastic Paris Review archives — and culled a handful of writing routines from some of my favorite authors. Enjoy." (Maria Popova)
Link: Brain Pickings
Link: Brain Pickings
Anaïs Nin
"I write my stories in the morning, my diary at night."
Cadê os críticos? - por Norma Couri (in 'Observatório da Imprensa')
A barbárie das edições de livros brasileiros volta a incomodar quando
lemos a resenha/crítica da “Ilustríssima” de domingo (12/5), “Narrativa
das Narrativas”. Uma página inteira chamou atenção para a importância do lançamento pela Record de Uma História das Histórias: de Heródoto e Tucídites ao século 20,
de Josep Fontana, tradução de Nana Vaz de Castro. Os historiadores,
cansados de ler histórias gerais da historiografia editadas em Portugal,
aplaudiram a chegada da tradução brasileira. Mas só até comparar as
duas edições. Mais da metade do artigo de Rogério Forastieri da Silva
tratou de incorreções de nomes e datas, supressão de palavras, erros
primários.
Campônios foram traduzidos por palhaços, “preços da época Tudor” viraram “príncipes Tudor”, “não gregos” se tornaram “bárbaros”, Jürgen Habermas passou a ser Norbert Elias, 1641 virou 1691, século 16 virou 17 e o 20, 21. O que chocou o resenhista foi a inserção nada acadêmica de expressões como “já era”, “cada vez mais badalada”, “a micro-história pega”. A tradutora ainda introduziu o milho na Antiguidade e na Idade Média europeia, quando o cereal só chegou à Europa depois da colonização do chamado Novo Mundo.
O desrespeito ao leitor brasileiro, sempre privado de índices onomásticos e rodapés que constam nas edições originais, confirma o que Mário Vargas Llosa vem alardeando sobre os processos de banalização da cultura e a exaltação do entretenimento banal, light. A coisa continua como está porque no Brasil pouca gente reclama, e os poucos interessados vão comprar suas obras pela Amazon, Estante Virtual ou no exterior.
Continuar a ler no Link: Cadê os críticos?
Campônios foram traduzidos por palhaços, “preços da época Tudor” viraram “príncipes Tudor”, “não gregos” se tornaram “bárbaros”, Jürgen Habermas passou a ser Norbert Elias, 1641 virou 1691, século 16 virou 17 e o 20, 21. O que chocou o resenhista foi a inserção nada acadêmica de expressões como “já era”, “cada vez mais badalada”, “a micro-história pega”. A tradutora ainda introduziu o milho na Antiguidade e na Idade Média europeia, quando o cereal só chegou à Europa depois da colonização do chamado Novo Mundo.
O desrespeito ao leitor brasileiro, sempre privado de índices onomásticos e rodapés que constam nas edições originais, confirma o que Mário Vargas Llosa vem alardeando sobre os processos de banalização da cultura e a exaltação do entretenimento banal, light. A coisa continua como está porque no Brasil pouca gente reclama, e os poucos interessados vão comprar suas obras pela Amazon, Estante Virtual ou no exterior.
Continuar a ler no Link: Cadê os críticos?
sexta-feira, 26 de abril de 2013
dias contados?
"A Associação de Editores de Madri acaba de lançar uma campanha publicitária, assinada pela agência espanhola Grey, em que ilustres representantes da cultura literária de todos os tempos são impiedosamente exterminados por representantes da cultura audiovisual contemporânea. (...) A campanha é voltada para o público jovem e tem, evidentemente, o objetivo de promover a literatura, exaltando suas incomparáveis qualidades em contraste com a suposta pobreza cultural dos “adversários” audiovisuais. De forma curiosa (...) acaba por atingir o resultado oposto. Isso não se dá apenas porque adota a linguagem visual dos videogames que procura criticar, o que poderia ser visto como uma esperta ironia. A leitura atenta dos anúncios madrilenhos revela o falecimento de qualquer ironia intencional aos pés de um humor involuntário e suicida."
Da coluna Todo Prosa, de Sérgio Rodrigues. Leia o texto completo AQUI
domingo, 21 de abril de 2013
Inspiring Workspaces
E. B. White, escritor
From tiny writing desks to giant painting studios, the only thing all of these creative studios have in common is that they inspired their successful inhabitants to create greatness.
Link: 40 Inspiring Workspaces of the Famously Creative
domingo, 14 de abril de 2013
entrevista com Bernardo Carvalho
Entrevista com Bernardo Carvalho: AQUI
Trecho do livro de Bernardo Carvalho, NOVE NOITES:
Isto é para quando você vier. É preciso estar preparado. Alguém terá que preveni-lo. Vai entrar numa terra em que a verdade e a mentira não têm mais os sentidos que o trouxeram até aqui. Pergunte aos índios. Qualquer coisa. O que primeiro lhe passar pela cabeça. E amanhã, ao acordar, faça de novo a mesma pergunta. E depois de amanhã, mais uma vez. Sempre a mesma pergunta. E a cada dia receberá uma resposta diferente. A verdade está perdida entre todas as contradições e os disparates. Quando vier à procura do que o passado enterrou, é preciso saber que estará às portas de uma terra em que a memória não pode ser exumada, pois o segredo, sendo o único bem que se leva para o túmulo, é também a única herança que se deixa aos que ficam, como você e eu, à espera de um sentido, nem que seja pela suposição do mistério, para acabar morrendo de curiosidade. Virá escorado em fatos que até então terão lhe parecido incontestáveis.quinta-feira, 4 de abril de 2013
a literatura russa chega ao Brasil pela Editora 34
Como editar autores de uma língua na qual não se é versado? “É
complicado, mas não é impossível”, diz Piquet. “O que sempre fiz foi o
cotejo indireto, a comparação com outras traduções. Não é o ideal.
Quando você lê um texto traduzido, o seu primeiro mapa é o texto em si.
Ler com atenção, com profundidade, para todas as camadas do texto.
Quando se lê com atenção, percebe-se onde pode haver problemas de
tradução. O trabalho de edição de texto é uma leitura aprofundada e
desconfiada. Se você confiar que a tradução está certa, sem erros, você
não vai levantar nenhum problema e não vai mexer no texto. Mexerá só na
camada mais superficial. É um trabalho investigativo também, de certa
forma”.
Ao trabalhar com Dostoiévski, cotejava com as traduções em inglês, italiano e espanhol. “Você começa a sentir os cacoetes de tradução de cada língua. Franceses têm a tendência a embelezar a tradução dos russos do século XIX. Há casos famosos de editores que alteravam realmente o livro, de como acrescentavam, cortavam etc. Os anglófonos são mais pragmáticos, e frequentemente atropelam as sutilezas ou zonas obscuras do texto. As traduções do espanhol deixavam muito a desejar e parei de usar. Os italianos eram, de longe, os melhores tradutores do russo, coisa que aprendi com o tempo.” [palavras do editor Cide Piquet].
Ler toda a matéria aqui: a literatura russa chega ao Brasil
Ao trabalhar com Dostoiévski, cotejava com as traduções em inglês, italiano e espanhol. “Você começa a sentir os cacoetes de tradução de cada língua. Franceses têm a tendência a embelezar a tradução dos russos do século XIX. Há casos famosos de editores que alteravam realmente o livro, de como acrescentavam, cortavam etc. Os anglófonos são mais pragmáticos, e frequentemente atropelam as sutilezas ou zonas obscuras do texto. As traduções do espanhol deixavam muito a desejar e parei de usar. Os italianos eram, de longe, os melhores tradutores do russo, coisa que aprendi com o tempo.” [palavras do editor Cide Piquet].
Ler toda a matéria aqui: a literatura russa chega ao Brasil
quinta-feira, 28 de março de 2013
quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013
sábado, 2 de fevereiro de 2013
A Vida num Instante
Mais um projeto concretizado pela LIVRO DE AUTOR: design e assessoria editorial.
Hoje, 2/2, em Arruda dos Vinhos, Portugal, apresentação do livro de fotografias A VIDA NUM INSTANTE, de Fidalgo Pedrosa.
Hoje, 2/2, em Arruda dos Vinhos, Portugal, apresentação do livro de fotografias A VIDA NUM INSTANTE, de Fidalgo Pedrosa.
«Fidalgo Pedrosa fotografa desde 1975. Com extrema sensibilidade, retrata principalmente o elemento humano, conseguindo extrair com a sua câmara aquilo que normalmente não se vê, o subjetivo, o translúcido, transmitindo nas suas imagens emoção, surpresa, inquietação. O quotidiano, a casualidade, o humor, a vida em sociedade, a solidão e outras tantas situações reveladas através de uma estética equilibrada, onde estão presentes também elementos como a arquitetura, o grafismo e o contraste de texturas e formas, transformam cada uma das suas fotografias numa história particular, única, com início, meio e fim, onde A VIDA NUM INSTANTE acontece...» (da contracapa)
Fidalgo Pedrosa
terça-feira, 15 de janeiro de 2013
meu cronista preferido
RUBEM BRAGA (Cachoeiro de Itapemirim, 12/1/1913 - Rio de Janeiro, 19/12/1990)
A outra noite
Outro dia fui a São Paulo e resolvi voltar à noite, uma noite de
vento sul e chuva, tanto lá como aqui. Quando vinha para casa de táxi,
encontrei um amigo e o trouxe até Copacabana; e contei a ele que lá em
cima, além das nuvens, estava um luar lindo, de lua cheia; e que as
nuvens feias que cobriam a cidade eram, vistas de cima, enluaradas,
colchões de sonho, alvas, uma paisagem irreal.
Depois que o meu amigo desceu do carro, o chofer aproveitou um sinal fechado para voltar-se para mim:
— O senhor vai desculpar, eu estava aqui a ouvir sua conversa. Mas, tem mesmo luar lá em cima?
Confirmei: sim, acima da nossa noite preta e enlamaçada e torpe havia uma outra — pura, perfeita e linda.
— Mas, que coisa…
Ele chegou a pôr a cabeça fora do carro para olhar o céu fechado de
chuva. Depois continuou guiando mais lentamente. Não sei se sonhava em
ser aviador ou pensava em outra coisa.
— Ora, sim senhor…
E, quando saltei e paguei a corrida, ele me disse um “boa noite” e um
“muito obrigado ao senhor” tão sinceros, tão veementes, como se eu lhe
tivesse feito um presente de rei.
(Rio, setembro, 1959. Do livro AI DE TI, COPACABANA)
LER MAIS sobre Rubem Braga em Monte de Leituras
LER MAIS sobre Rubem Braga em Monte de Leituras
domingo, 13 de janeiro de 2013
Times New Roman
«A história da Times New Roman começa em 1929, quando Stanley Morison escreveu uma dura crítica dirigida aos executivos do jornal “The Times”, de Londres, sobre a maneira como usavam a tipografia. Morison, então consultor da empresa tipográfica Monotype Corporation, alertava para o fato de o jornal ser mal impresso e tipograficamente antiquado, conspirando contra sua reputação construída ao longo dos anos.
O “Times” se orgulhava de ser reconhecido pela tipografia. Em uma das mais famosas aventuras de Sherlock Holmes, “O cão dos Baskervilles”, publicada por Arthur Conan Doyle em 1902, o detetive diz: “A identificação das letras impressas é um dos ramos mais elementares do conhecimento para o especialista em crimes, embora eu confesse que, quando jovem, confundi o ‘Leeds Mercury’ com o ‘Western Morning News’, mas o tipo dos editoriais do ‘Times’ é inconfundível”.
Perplexos com a audácia de Morison, que ousou desafiar o jornal de quase 150 anos, os diretores formaram uma comissão para analisar as críticas. O detalhado artigo de mister Morison, autoridade já consagrada no campo da tipografia, não deixava dúvidas, e os diretores concluíram que, para o bem de seus leitores, era realmente necessário mudar a tipografia do jornal. (...)»
Por Léo Tavejnhansky para o caderno Prosa de O Globo. Ler mais AQUI
quinta-feira, 10 de janeiro de 2013
o fim do livro
«(...) Mais ameaçador do que o livro eletrônico, contudo, é o neo-liberalismo
editorial, ou capitalistalinismo. Estou agora enfiado nas páginas de O Negócio dos Livros – Como as grandes corporações decidem o que você lê
(Casa da Palavra, 2006). O autor é André Schiffrin, ex-editor da
Pantheon Books, que já foi uma das grandes (em qualidade) editoras dos
EUA antes de ser fagocitada pelos conglomerados econômicos que estão,
mais depressa do que qualquer engenhoca feita de pixels, promovendo a
destruição do livro. Não do livro como artefato de folhas de papel
impressas, mas do livro como meio de transmitir idéias. (...)»
Leia mais no blogue de Bráulio Tavares: MUNDO FANTASMO
«É dificil defender somente os e-books sem ser adesista. É dificil defender os livros sem ser saudosista.» (comentário à postagem no blogue)
Leia mais no blogue de Bráulio Tavares: MUNDO FANTASMO
«É dificil defender somente os e-books sem ser adesista. É dificil defender os livros sem ser saudosista.» (comentário à postagem no blogue)
Leitura, cultura, entretenimento
Quando leio para me divertir, procuro um livro que não vai me exigir muito esforço e que provavelmente vai me dar uma experiência não-problemática, relaxante. Claro que de pessoa para pessoa essas receitas variam. Ler Guimarães Rosa (a cujo estilo estou habituado) para mim é uma diversão, mais do que ler certos autores jovens de hoje, nos quais preciso passar meia hora em cada página, porque eles usam uma organização de prosa com que não tenho familiaridade. (...)
"... o entretenimento é uma parte (importante) da cultura. Mas ele tem que ser a sobremesa, não pode substituir a refeição principal."
Ler mais no blogue de Bráulio Tavares: MUNDO FANTASMO
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