Como editar autores de uma língua na qual não se é versado? “É
complicado, mas não é impossível”, diz Piquet. “O que sempre fiz foi o
cotejo indireto, a comparação com outras traduções. Não é o ideal.
Quando você lê um texto traduzido, o seu primeiro mapa é o texto em si.
Ler com atenção, com profundidade, para todas as camadas do texto.
Quando se lê com atenção, percebe-se onde pode haver problemas de
tradução. O trabalho de edição de texto é uma leitura aprofundada e
desconfiada. Se você confiar que a tradução está certa, sem erros, você
não vai levantar nenhum problema e não vai mexer no texto. Mexerá só na
camada mais superficial. É um trabalho investigativo também, de certa
forma”.
Ao trabalhar com Dostoiévski, cotejava com as traduções em inglês,
italiano e espanhol. “Você começa a sentir os cacoetes de tradução de
cada língua. Franceses têm a tendência a embelezar a tradução dos russos
do século XIX. Há casos famosos de editores que alteravam realmente o
livro, de como acrescentavam, cortavam etc. Os anglófonos são mais
pragmáticos, e frequentemente atropelam as sutilezas ou zonas obscuras
do texto. As traduções do espanhol deixavam muito a desejar e parei de
usar. Os italianos eram, de longe, os melhores tradutores do russo,
coisa que aprendi com o tempo.” [palavras do editor Cide Piquet].
Ler toda a matéria aqui: a literatura russa chega ao Brasil
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