Às vezes tenho a nítida sensação de que chego sempre «atrasada» para as coisas, mas de alguma forma esse tempo é o meu tempo, e
por isso deve estar certo. Hoje, por exemplo, li pela primeira vez Banho de mar, uma crônica de Clarice Lispector, ela ainda criança indo
aos banhos de mar em Olinda, com a família, onde assistiam ao nascer do
sol. Eis umas «frases-versos»: "Eu nunca fui tão feliz quanto naquelas temporadas de banhos em
Olinda, Recife."/"Como explicar o que eu
sentia de presente inaudito em sair de casa de madrugada e pegar o
bonde vazio que nos levaria para Olinda ainda na escuridão? De noite eu
ia dormir, mas o coração se mantinha acordado, em expectativa."/"A quem
devo pedir que na minha vida se repita a felicidade? Como sentir com a
frescura da inocência o sol vermelho se levantar? Nunca mais? Nunca
mais. Nunca."
In: Conversa de burros, banhos de mar e outras crónicas exemplares, Edições Cotovia, Lisboa, 2006
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