domingo, 25 de novembro de 2012

"The daily routine of famous writers"

tirado do Brain Pickings: ver AQUI
«(...) o que existe, acima de tudo, é uma certa necessidade de expressão, que é muito misteriosa. Porque é que se experimenta essa necessidade, não sei, mas há situações e reflexões que pedem para ser escritas e ditas, inexplicavelmente.»

– palavras de M. Yourcenar em entrevista a Matthieu Galey em De Olhos Abertos)

de novo e sempre Guimarães Rosa

João Guimarães Rosa

"MANUELZÃO E MIGUILIM
(resenha [de Alfredo Monte] publicada originalmente em A TRIBUNA de Santos, em 04 de fevereiro de 2006)

Guimarães Rosa publicou suas duas principais obras, Corpo de Baile Grande Sertão: Veredas em 1956. A primeira delas apareceu em janeiro e mesmo quem já apreciara Sagarana (1946) ficou impactado. Até há pouco tempo, os sete textos que a compõem encontravam-se divididos em 3 volumes (uma edição especial da Nova Fronteira restaurou a ordem original). Neste artigo, falaremos de um deles, Manuelzão e Miguilim.
   Miguilim é o protagonista de Campo Geral, certamente  o texto mais famoso de Guimarães Rosa, depois de Grande Sertão e de  “A Terceira Margem do Rio”. E embora haja várias narrativas incríveis evocando o mundo da infância (a primeira parte de Em Busca do Tempo Perdido, de Proust, A Harpa de Ervas, de Truman Capote, por exemplo), é provável que nenhuma seja tão inesquecível quanto a história do menininho que vive “em ponto remoto, no Mutúm”. Hiper-sensível, míope (até que lhe coloquem óculos), ligadíssimo na mãe e no irmãozinho Dito (cuja morte é o centro dramático do texto), com um pai ignorante, violento e desconfiado, Miguilim faz com que participemos da sua “descoberta do mundo” de uma forma que nos devolve nosso próprio sentimento de infância. É uma ótima iniciação para quem quiser conhecer pela primeira vez o universo do nosso maior escritor pós-Machado.
 A beleza emocionante de Campo Geral sempre eclipsou injustamente o outro texto desse volume de Corpo de BaileUma Estória de Amor (Festa de Manuelzão), uma obra-prima. Seu protagonista é o encarregado da  fazenda Samarra, o qual, finalmente estabelecido na vida, resolve inaugurar uma capelinha nas terras do seu patrão (o pessoal da região, entretanto, vê em Manuelzão a encarnação da autoridade) e, por conta disso, suspender a labuta da vida numa grande festa: 'Amanhã é que ia ser mesmo a festa, a missa, o todo do povo, o dia inteiro. Dião de dia!' " (continua AQUI)


Continuação do estudo, agora sobre Tutaméia

terça-feira, 20 de novembro de 2012

acasos e encontros

Adicionei hoje, à lista de blogues de interesse, o Monte de Leituras, de Alfredo Monte, professor-doutor em literatura pela USP, leitor voraz e crítico atento. E quem me fez encontrá-lo nesse espaço quase "infinito" da internet foi Marguerite Yourcenar – tentava eu um modo de baixar algum dos seus livros, diante da dificuldade de encontrar uma edição portuguesa recente. (Tenho ainda de procurar nos alfarrabistas.)

Ultrapassada pelo tempo e pelas inúmeras oportunidades de ler Memórias de Adriano ou A Obra ao Negro ou outro dos seus belos textos, deixei passar a chance de entrar em contato com a sua narrativa poderosa. Mas não completamente. O acaso tem tido um papel essencial nesses meus encontros tardios, como é o caso também de Thomas Mann...
O acaso é sábio.

Mas como cheguei até Yourcenar? Se por um lado não me interessam lá muito as biografias, por outro não resisto a pelo menos folhear as páginas de uma entrevista bem feita, em que o entrevistado – e em particular quando se trata de um escritor – tenha o espaço necessário para falar da sua criação, de todo o seu processo, das suas escolhas, dos porquês... Tenho um pouco esse espírito de investigação (ou será de coscuvilhice...?). E foi assim que comprei e estou a ler De Olhos Abertosconversas com Matthieu Galey.
Muitas vezes encontro esse modo de entrar no universo de um autor, de ser apresentada à sua obra: vou "rodeando" até chegar lá. Mas muitas vezes isso acontece por mero acaso, ou por mãos de outro autor que me conduz até ele, como foi o caso de Robert Dessaix que me apresentou  Turguénev... (mas esta é outra conversa).



Já não me lembro o que me levou a comprar De Olhos Abertos, mas algo aconteceu e me despertou. E como se não bastasse ser apresentada a Adriano e a Zenão – e às suas respectivas vidas –  pelos comentários da própria autora (pois agora, seduzida, ando à procura dos seus títulos), deu-se novo encontro: Thomas Mann. Yourcenar dedicou um capítulo do seu A Benefício de Inventário a Thomas Mann, que ela comenta na entrevista, sem idolatrias. Acontece que também estou a ler A Montanha Mágica, e tudo como que se completa, e se compõe no sentido mais acertado, e desejado (sem que eu soubesse).

Voltando ao blogue de Alfredo Monte, fui lá parar quando buscava os livros de Yourcenar; e lá encontrei, classificado como "o meu autor favorito", Thomas Mann, cujos livros são fartamente comentados.
Como se não bastasse, os posts estão recheados de fotos das capas de diversas edições.



A quem tiver lido até ao fim esta minha experiência de leitora, recomendo não só os livros citados (caso já não os tenha lido), como também uma espiadela no blogue Monte de Leituras.

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Bonde da leitura


«Essa é uma iniciativa bacana de Curitiba. O Bondinho da Leitura fica no calçadão da R. XV de Novembro. O bonde está nesse local desde 1973, para atender às crianças, enquanto seus pais faziam compras na região, mas só foi transformado em biblioteca em 20 de novembro de 2010. Funciona de segunda a sábado. São emprestados até 2 livros por vez, gratuitamente, basta apresentar documento de identidade.» (do blogue NacoZinha)

domingo, 4 de novembro de 2012

Writers are not just people who sit down and write. They hazard themselves. Every time you compose a book your composition of yourself is at stake.

E.L. Doctorow

as revistas literárias brasileiras mais influentes

Convite para o lançamento do Álbum com 182 títulos catalogados das revistas literárias brasileiras que marcaram a nossa vida literária durante o século XX.

sábado, 3 de novembro de 2012

Mercado editorial brasileiro e outros




Mercado editorial segue em plena reoxigenação (por Michelle Strzoda, no Facebook: http://facebook.com/michelle.strzoda

"Desde 2011, mudanças no mercado editorial brasileiro têm se anunciado mais frequentes. A maré de mudança não se restringiu ao Brasil, já acontecia em âmbito mundial.

Forçados a se reinventar
pelas duas seguidas crises econômicas mundiais e pelas mudanças apresentadas em função do novo cenário digital, grupos editoriais, editoras pequenas e médias, diretores editoriais, editores e profissionais do livro mudaram de empresas ou investiram na criação de seu próprio negócio, com perfis diferenciados. A plataforma editorial segue em expansão, aquecida, e o mercado de livros brasileiro é visto com interesse e atenção pelos grupos e agentes mundo afora.

Fruto da fusão dos megagrupos editoriais Penguin e Randon House, maior gigante editorial do mundo se apresenta esta semana. O novo conglomerado se chama Penguin Randon House.

Mercado brasileiro já anuncia mudanças de gestão editorial. A Companhia das Letras, braço da Penguin no Brasil, já divulgou mudança gradual em sua equipe de editores, a começar em dezembro de 2012.
Segundo a reportagem de André Miranda em O Globo hoje, Maria Emília Bender e Marta Garcia já têm data para deixar a Companhia das Letras.
Ambas são grandes editoras. Com experiência de mais de duas décadas de mercado - Maria Emília desde a época da Brasiliense e primórdios da Companhia das Letras, com Luiz Schwarcz -, foram responsáveis por grandes lançamentos da Companhia, uma das mais conceituadas casas editoriais brasileiras.
Boa parte do time de editores do grupo agora deverá responder a Otávio Marques da Costa, que manterá mais outros editores, entre eles Matinas Suzuki em outros selos, paralelamente."

No link abaixo, matéria da Deutsche Welle sobre a fusão:
http://www.dw.de/fusão-entre-penguin-e-random-house-cria-maior-grupo-editorial-do-planeta/a-16340191

A vida nas editoras

Revisores, editores e demais trabalhadores do ramo, vejam isto: A vida nas editoras


sexta-feira, 2 de novembro de 2012

fidelidade ao lirismo

Do blogue da Cosac Naify (link), um texto de Manuel Bandeira, de 1930, no jornal A Província, sobre o ainda quase desconhecido Carlos Drummond de Andrade:

Um poeta mineiro de rara sensibilidade
Por Manuel Bandeira 

Não sei se o nome de Carlos Drummond de Andrade é conhecido em Pernambuco fora do pequeno círculo de pessoas que se interessam pela poesia modernista. Quero acreditar que não. Sem livro até agora, o seu nome não aparecera senão nas revistinhas efêmeras de vanguarda, que não chegam ao conhecimento do grande público. Aos pernambucanos que se tenham interessado pelo número mineiro do O Jornal por causa dos admiráveis desenhos do meu xará, não terá escapado o belo poema de Carlos Drummond inspirado na tradicional romaria de Congonhas do Campo.
O poeta é mineiro e deve andar pelos trinta anos. Antes da renovação modernista fizera versos medidos e rimados, creio que naquela cor desmaiada de Samain que aqui chamaram penumbrista. Quando os rapazes de São Paulo começaram a batalha, o senhor Carlos Drummond de Andrade escreveu na imprensa de Belo Horizonte uma série de artigos sobre as figuras principais daquele movimento. Mais tarde, com João Alphonsus, Pedro Nava, Martins de Almeida, Emílio Moura e outros editou A Revista, de que só apareceram três números. Mas desde então o nome de Carlos Drummond de Andrade era caro a todos que se ocupavam de poesia no Brasil.
Em Drummond a perfeição técnica não resulta do gosto e trabalho do artista, mas da fidelidade do poeta ao movimento lírico da sensibilidade.
Agora o poeta comparece em livro. E esse livro nos revela, logo ao primeiro exame, um dos mais puros e belos da nossa poesia. Não pode haver dúvida: Carlos Drummond de Andrade é um dos grandes poetas do Brasil. Grande pelo fundo de sensibilidade e lirismo como grande pela técnica impecável de seus poemas. Aliás esses dois aspectos são inseparáveis nos versos de Alguma poesia (assim se intitula o seu livro). Em Carlos Drummond de Andrade a perfeição técnica não resulta, como em Guilherme de Almeida, do gosto e trabalho do artista, mas da fidelidade do poeta ao movimento lírico da sensibilidade. Daí a frescura desse lirismo que sabe à fruta comida ao pé da árvore. Na expressão esse poeta é sempre simples, natural, quotidiano. Vê-se como ele vive, meio amolado com aquele anjo torto que lhe disse quando ele nasceu: “Carlos, vai ser goche na vida”. Fala pouco e não diz, pelo menos intencionalmente, nada que possa parecer sublime. Antes tem ele um senso de humor sempre vigilante e pronto a cortar as asas a tudo que possa indicar alguma atitude menos desabusada. Os seus maiores entusiasmos se exprimem como nos deliciosos versos da “Lagoa”:

Eu não vi o mar.
Não sei se o mar é bonito,
não sei se ele é bravo.
O mar não me importa.
Eu vi a lagoa.
A lagoa, sim.
A lagoa é grande
e calma também.
Na chuva de cores
da tarde que explode
a lagoa brilha
a lagoa se pinta
de todas as cores.
Eu não vi o mar,
Eu vi a lagoa…

Carlos Drummond de Andrade aborrece as “atitudes inefáveis”, “os inexprimíveis delíquios”, os “êxtases, espasmos, beatitudes”, tão do gosto daquele sujeito gozado da “Fuga”: “Povo feio, moreno, bruto”, diz o tal. “Vou perder-me nas mil orgias/ do pensa- mento greco-latino”.

Vai para a Europa.
Enquanto os bárbaros sem barbas
sob o Cruzeiro do Sul
se entregam perdidamente
sem anatólios nem capitólios
aos deboches americanos

O lirismo é uma coisa perigosa. Faz a gente dizer bestidades, extravagâncias, sentimentalonidades. O pior são os lugares-comuns [...] em que o desgraçado poetinha parece querer virar gênio. Com o senhor Carlos Drummond de Andrade não se corre nunca esse risco. Ninguém pensa em águias. Também não se pensa em cisnes. Aqui haverá talvez vôo versátil, graça inteligente de andorinha. Vejam se está certo:

Quero me casar
na noite, na rua,
no mar ou no céu
quero me casar.
Procuro uma noiva
loura morena
preta ou azul
uma noiva verde
uma noiva no ar
como um passarinho.
Depressa, que o amor
não pode esperar!

Que poema brilhantíssimo não faria o senhor Martins Fontes ou o senhor Luís Carlos, que doce e fidalgo poema não arquitetaria o senhor Olegário Mariano com esse tema do Amor através das Idades! É de ver como o mineiro Carlos Drummond de Andrade se imaginou com a namorada; grego, romano, pirata mouro, corte- são de Versalhes e moço moderno. A poesia é longa demais para estas colunas, mas um episódio apenas:

Virei soldado romano,
perseguidor de cristãos.
Na porta da catacumba
encontrei-te novamente.
Mas quando vi você nua
caída na areia do circo
e o leão que vinha vindo,
dei um pulo desesperado
e o leão comeu nós dois.

Talvez fosse preciso ter sangue mineiro, ter vivido longamente nas “cidadezinhas quaisquer” de Minas, para, com ser poeta de rara sensibilidade e, não esquecer, inteligentíssimo, exprimir-se assim com tanta graça natural. Me parece que por Minas se pode e se deve explicar esse senso de humor, tão raro em nossos poetas, e no entanto comum nos mineiros que não são poetas. Ou nos poetas mineiros quando não se acham em estado de transe…
A Província, 25 de maio de 1930


quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Escrever é...



«Escrever é tentar saber o que escreveríamos se escrevêssemos.» - Vila-Matas citando Marguerite Yourcenar

«Decidir escrever é penetrar num espaço perigoso, porque se entra num túnel escuro sem fim, porque jamais e chega à satisfação plena, nunca se chega a escrever a obra perfeita ou genial, e isso causa a maior das mágoas. Aprende-se melhor a morrer do que a escrever. E ser-se (…) escritor, quando já se sabe escrever, é converter-se num estranho, num estrangeiro: tens de começar a traduzir-te a ti mesmo. Escrever é fazer-se passar por outro, escrever é deixar de ser escritor ou de quereres parecer-te a Mastroianni para simplesmente escrever, escrever o que simplesmente escreverias se escrevesses.»

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