Esta semana entreguei um trabalho que posso referir como o mais difícil que já fiz. A primeira dificuldade foi trabalhar diretamente com o autor, e nós sabemos - autores, editores e revisores - que esta não costuma ser uma relação fácil. O autor tem razões que o revisor "desconhece" - e vice-versa.
Por todos os motivos a intermediação do editor é muito importante, e é o que acontece na grande maioria das vezes; mas acontece, também, de termos de lidar com situações em que este moderador não está presente.
O autor tem uma muito compreensível e forte ligação com aquilo que produziu: o seu livro. O revisor tem um compromisso profissional e um desejo de perfeição e adequação. Mas a questão é que, pelo meio, surgem as incertezas, as imperfeições, as limitações de cada um. Não é simples...
Acrescente-se ainda o nível de exigência do texto. Num texto erudito, com inúmeras referências e citações, e cujo contexto nos remete para outros séculos, há que ter uma atenção redobrada ou mais que isso: exige leituras e releituras; exige pesquisa atenta.
Foi, enfim, um desafio desses raros que acontecem, mas foi também um prazer de ler. E motivo de muito aprendizado. Fui obrigada mais uma vez a recordar que, como em todas as atividades humanas, também em revisão de texto não há certezas: as normas mudam, conforme o tempo e o lugar, e porque a língua é mutável. Quase nada é definitivo, ou automático; e tudo pode e deve ser repensado, averiguado, confirmado.
E, sobre tudo isso, há, ainda e sempre, a vontade soberana do autor; a sua 'licença poética', que é só dele e de mais ninguém.
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