segunda-feira, 31 de maio de 2010

Prêmio Camões 2010

Ferreira Gullar

O Prêmio Camões, criado em 1989 e considerado o mais importante prêmio literário da língua portuguesa, foi atribuído este ano a Ferreira Gullar como reconhecimento ao conjunto da sua obra, dedicada não só à poesia - o centro da sua criação -, mas também ao teatro, ao ensaio, e outros gêneros.

"Quando surge uma idéia, vou para a rua.
Tenho prazer em conceber o poema no meio das pessoas que passam
e nem suspeitam que ali, naquela hora ele está nascendo."

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Tipografia: industrialismo & métodos artesanais

Gill Sans

Enquanto - por não querer me adiantar aos editores - não posso comentar livros que revi nos últimos tempos, e que estão no prelo, trago um interessante texto de contracapa da edição da Almedina, Ensaio sobre tipografia, de Eric Gill (1882-1940), designer tipográfico e criador da fonte Gill Sans (a minha preferida...). Objeto irresistível para os aficionados, esta tão bem cuidada edição portuguesa baseia-se na versão fac-similada da editora Lund Humphries, publicada pela primeira vez em 1988.

"O tema deste livro é a Tipografia, e a Tipografia tal como é influenciada pelas condições do ano de 1931. O conflito entre industrialismo & os antigos métodos dos artesãos, que deu origem à confusão do século XIX, está agora a aproximar-se do fim.
Mas embora o industrialismo tenha agora conseguido uma vitória quase total, as artes manuais não estão mortas, & não podem ser radicalmente extintas, porque satisfazem uma necessidade inerente, indestrutível e constante do ser humano.
Os dois mundos podem ver-se, um ao outro, como diferentes e sem recriminações, reconhecendo ambos o que há de bom no outro - o poder do industrialismo, a humanidade do artesanato. Já não há justificação para a confusão de objetivos, incongruência de métodos ou hibridismo na produção; cada um dos mundos pode deixar o outro tranquilo na sua própria esfera.
Que o industrialismo tenha, ou não, 'vindo para ficar' não é questão que nos interesse, mas o artesanato acompanhar-nos-á sempre - como os pobres. E os dois mundos são agora completamente distintos. O trabalho de imitação de 'obras de época' e o comércio do artesanato de imitação estão, por certo, condenados. Os critérios das artes manuais são tão absurdos para a indústria mecanizada como os critérios mecânicos o são para o artesão.
A aplicação destes princípios à feitura de letras e de livros é a matéria principal deste livro."

Ensaio sobre tipografia
Eric Gill
166 pp
Introdução de Luís Ferreira
Tradução de Luís Varela
Revisão científica de Guilhermina Mota
Edições Almedina
Abril de 2003


Outras publicações afins:
Manual tipográfico de Giambattista Bodoni
João Bicker
148 pp
Edições Almedina
2001

A Forma das Letras - um manual de anatomia tipográfica
Maria Ferrand e João Manuel Bicker
66 pp
Edições Almedina
2000


quinta-feira, 6 de maio de 2010

Falando em Turguéniev


O melhor deste livro está na notável diagnose da vida política e intelectual russa de meados do século XIX. Ao menos, é este o nível que me parece mais bem resolvido no livro; não deixa de ser um cenário para a história de amor – que de resto termina muito civilizadamente, sem cataclismos... – que conduz a narrativa, mas um cenário pintado com tintas magníficas pela verve do autor.

«À volta da árvore russa – à l´'Arbre russe – reuniam-se normalmente os nossos simpáticos compatriotas; vinham altivamente, negligentemente, elegantemente, à moda, cumprimentavam-se majestosamente, elegantemente, familiarmente, como compete a seres que se encontram no pináculo da cultura moderna. Mas, depois de se encontrarem, já sentados, decididamente não sabiam o que dizer uns aos outros, e caíam na tagarelice triste ou na fala barata, vulgar, e nas anedotas extremamente impudicas de um ex-literato francês, antiquado, falador e palhaço, com uns miseráveis sapatos judaicos nos pés e uma pequena barba desprezível na face ignóbil.» (p. 8)


Fumo Ivan Turguéniev
216 pp
Tradução a partir do russo e Notas de Manuel Seabra
Relógio D'Água Editores
Lisboa, Fevereiro de 2010


Ivan Turguéniev nasceu em Orel, no Império Russo, em 1818. É considerado uma das figuras mais importantes da literatura russa, ao lado de Dostoiévski e Tolstoi. Oriundo de uma família abastada, passou a infância em Spaskoe, onde conheceu de perto a vida no campo. O seu livro Pais e Filhos (1862) deu origem a grande controvérsia, o que fez com que o autor abandonasse a Rússia. Depois de viver em Baden-Baden e em Londres, fixou-se nos arredores de Paris, onde faleceu em 1883.


Sugestões de Leitura:
Pais e Filhos
Ivan Turguéniev
256 pp
Traduzido do russo por António Pescada
Posfácio de Vladimir Nabokov
Relógio D'Água Editores
Lisboa, Maio de 2007


O Crepúsculo do Amor [sobre a vida de Turguéniev]Robert Dessaix
266 pp
Tradução de José Lima
Oceanos/ASA Editores
Lisboa, Fevereiro de 2007



terça-feira, 4 de maio de 2010

e pensar que, não faz muito tempo, os livros eram compostos assim...

Depois que os Chineses introduziram na Europa o papel e a xilogravura, o caminho para o surgimento da tipografia estava aberto. Do emprego da xilogravura, que data de inícios do século XV, para o procedimento tipográfico foi um passo.
O primeiro objectivo da mecanização tipográfica, além da concorrência com a indústria de manuscritos, era evitar a incidência de erros tal como havia nas reproduções manuscritas, intenção sempre contrariada pelos frequentes e inquietantes acidentes de impressão, de modo que uma página, linha, palavra ou letra podiam sair impressos de forma diferente em exemplares distintos.
Hoje, com todos os recursos proporcionados pela tecnologia informática, esta padronização e qualidade de impressão atingiram o seu mais alto nível, eliminando do processo qualquer vestígio do seu passado artesanal, cujo produto, falível e diferenciado, adquiriu hoje um outro estatuto, de carácter artístico, ocupando um pequeno (mas nem por isso menos importante) nicho num mercado massificado e voraz.

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