domingo, 29 de setembro de 2013
revisão pra quê?
«O Revisão para quê? é um site dedicado à Língua Portuguesa e à revisão de textos. Procuramos tratar com bom humor situações que vivemos no dia a dia e que antes compartilhávamos apenas entre os amigos mais próximos.
Aqui, de maneira alguma incentivamos o preconceito linguístico, apenas temos em mente que a linguagem falada é diferente da escrita; portanto, nesse caso, julgamos adequado seguir os padrões da norma culta, principalmente quando os textos são publicados por veículos de grande audiência.
Esperamos que aproveitem as dicas e se divirtam com os textos, pois essa é a ideia!»
Conheça o site: REVISÃO PRA QUÊ?
sábado, 28 de setembro de 2013
Lady Chatterley
«O romance que parecia lento acaba no ápice. É como se todo o livro fosse um grande relacionamento. Do primeiro olhar ao gozo triunfante. A busca dos personagens é pela satisfação completa, independente de sua classe, idade ou da opinião pública. Busca pelo prazer – não o prazer hedonista de orgias, eternas bebedeiras, grandes gastos -, mas um prazer quase epicurista do amor, da boa comida, da diversão possível.»
Para ler toda a resenha, veja AQUI
capa da edição (ano?) da Editora Civilização Brasileira S. A.
D. H. Lawrence (1885-1930)
Link sobre o autor: http://en.wikipedia.org/wiki/D._H._Lawrence
Os 100 melhores livros de sempre e os "esquecidos"
A listagem (publicada no Expresso de 8 de julho) é de 2009, mas trouxe assim mesmo. São referências que não mudam:
2. 1984, George Orwell, 1949
16. E Tudo o Vento Levou, Margaret Mitchell, 1936
39. Pela Estrada Fora, Jack Kerouac, 1957
66. À Beira do Abismo, Raymond Chandler, 1939
91. A Primavera Silenciosa, Rachel Carson, 1962
O Homem Sem Qualidades, Robert Musil, 1943
OS CEM MELHORES LIVROS:
2. 1984, George Orwell, 1949
3. Ulisses, James Joyce, 1922
4. Lolita, Vladimir Nabokov, 1955
5. O Som e a Fúria, William Faulkner, 1929
6. O Homem Invisível, Ralph Ellison, 1952
7. Rumo ao Farol, Virginia Woolf, 1927
8. Ilíada e Odisseia, Homero, século VIII a.c.
9. Orgulho e Preconceito, Jane Austen, 1813
10. A Divina Comédia, Dante Alighieri, 1321
11. Os Contos de Cantuária, Geoffrey Chaucer, século XV
12. As Viagens de Gulliver, Jonathan Swift, 1726
13. A Vida Era Assim em Middlemarch, George Eliot, 1874
14. Quando Tudo se Desmorona, Chinua Achebe, 1958
16. E Tudo o Vento Levou, Margaret Mitchell, 1936
17. Cem Anos de Solidão, Gabriel García Márquez, 1967
18. O Grande Gatsby, Scott Fitzgerald, 1925
19. Catch 22, Joseph Heller, 1961
20. Beloved, Toni Morrison, 1987
21. As Vinhas da Ira, John Steinbeck, 1939
22. Os Filhos da Meia-Noite, Salman Rushdie, 1981
23. Admirável Mundo Novo, Aldous Huxley, 1932
24. Mrs. Dalloway, Virgínia Woolf, 1925
25. O Filho Nativo, Richard Wright, 1940
26. Da Democracia na América, Alexis de Tocqueville, 1835
27. A Origem das Espécies, Charles Darwin, 1859
28. Histórias, Heródoto, 440 a.c.
29. O Contrato Social, Jean-Jacques Rosseau, 1762
30. O Capital, Karl Marx, 1867
31. O Príncipe, Nicolau Maquiavel, 1532
32. Confissões, Santo Agostinho, século IV
33. Leviatã, Thomas Hobbes, 1651
34. História da Guerra do Peloponeso, Tucídides, 431 a.c.
35. O Senhor dos Anéis, J.R.R. Tolkien, 1954
36. Winnie The Pooh, A. A. Milne, 1926
37. O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa, C. S. Lewis, 1950
39. Pela Estrada Fora, Jack Kerouac, 1957
40. Por Favor Não Matem a Cotovia, Harper Lee, 1960
41. A Bíblia Sagrada
42. Laranja Mecânica, Anthony Burgess, 1962
43. Luz em Agosto, William Faulkner, 1932
44. As Almas da Gente Negra, W. E. B. Du Bois, 1903
45. Vasto Mar de Sargaços, Jean Rhys, 1966
46. Madame Bovary, Gustave Flaubert, 1857
47. O Paraíso Perdido, John Milton, 1667
48. Anna Karenina, Lev Tolstoi, 1877
49. Hamlet, William Shakespeare, 1603
50. Rei Lear, William Shakespeare, 1608
51. Otelo, William Shakespeare, 1622
52. Sonetos, William Shakespeare, 1609
53. Folhas de Erva, Walt Whitman, 1855
54. As Aventuras de Huckleberry Finn, Mark Twain, 1885
55. Kim, Rudyard Kipling, 1901
56. Frankenstein, Mary Shelley, 1818
57. Song of Solomon, Toni Morrison, 1977
58. Voando Sobre um Ninho de Cucos, Ken Kesey, 1962
59. Por Quem os Sinos Dobram, Ernest Hemingway, 1940
60. Matadouro Cinco, Kurt Vonnegut, 1969
61. O Triunfo dos Porcos, George Orwell, 1945
62. O Deus das Moscas, William Golding, 1954
63. A Sangue Frio, Truman Capote, 1965
64. O Caderno Dourado, Doris Lessing, 1962
66. À Beira do Abismo, Raymond Chandler, 1939
67. Na Minha Morte, William Faulkner, 1930
68. O Sol Nasce Sempre (Fiesta), Ernest Hemingway, 1926
69. Eu, Cláudio, Robert Graves, 1934
70. Coração, Solitário Caçador, Carson McCullers, 1940
71. Filhos e Amantes, D. H. Lawrence, 1913
72. All The King's Men, Robert Penn Warren, 1946
73. Go Tell It on The Mountain, James Baldwin, 1953
74. A Menina e o Porquinho, E. B. White, 1952
75. O Coração das Trevas, Joseph Conrad, 1902
76. Noite, Elie Wiesel, 1958
77. Corre, Coelho, John Updike, 1960
78. A Idade da Inocência, Edith Wharton, 1920
79. O Complexo de Portnoy, Philip Roth, 1969
80. Uma Tragédia Americana, Theodore Dreiser, 1925
81. O Dia dos Gafanhotos, Nathanael West, 1939
82. Trópico de Câncer, Henry Miller, 1934
83. O Falcão de Malta, Dashiell Hammett, 1930
84. Mundos Paralelos, Philip Pullman, 1995
85. Death Comes for the Archbishop, Willa Cather, 1927
86. A Interpretação dos Sonhos, Sigmund Freud, 1900
87. A Educação de Henry Adams, Henry Adams, 1918
88. O Livro Vermelho, Mao Tsé Tung, 1964
89. As Variedades da Experiência Religiosa, William James, 1902
91. A Primavera Silenciosa, Rachel Carson, 1962
92. A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda, John Maynard Keynes, 1936
93. Lord Jim, Joseph Conrad, 1900
94. Goodbye to All That, Robert Graves, 1929
95. A Sociedade da Abundância, John Kenneth Galbraith, 1958
96. O Vento nos Salgueiros, Kenneth Grahame, 1908
97. A Autobiografia de Malcolm X, Alex Haley e Malcolm X, 1965
98. Eminent Victorians, Lytton Strachey, 1918
99. A Cor Púrpura, Alice Walker, 1982
100. Memórias da Segunda Guerra Mundial, Winston Churchill, 1948
ESQUECIDOS:
Os dez livros que faltam
As listas dos 'melhores' livros de sempre são como as sondagens: valem o que valem. No top-100
da "Newsweek", à subjectividade que qualquer escolha deste tipo sempre
acarreta, juntam-se dois factores que lhe limitam o alcance e a
utilidade: a desproporção de referências literárias anglófonas (81% dos
títulos), que remete o resto do mundo a uma injustíssima quase
inexistência, e o facto de alguns autores estarem representados por dois
ou três livros. Para um europeu, é incompreensível que estejam ausentes
nomes como os de Camões, Cervantes, Balzac, Eça de Queirós, Oscar
Wilde, Pirandello, Pessoa, Camus, Beckett, Italo Calvino, Yasunari
Kawabata, Elias Canetti, Julio Cortázar, J. M. Coetzee, Orhan Pamuk, por
troca com autores menores como W. E. B. Du Bois, Ken Kesey, James
Baldwin, E. B. White ou Willa Cather. Entre as grandes obras que esta
lista ignora, contam-se estas dez:
Orlando Furioso, Ludovico Ariosto, 1516
Os Lusíadas, Luís Vaz de Camões, 1572
Dom Quixote, Miguel de Cervantes, 1605-1615
Tristram Shandy, Laurence Sterne, 1759-1767
Crime e Castigo, Dostoiévski, 1866
Contos, Tcheckov
O Homem Sem Qualidades, Robert Musil, 1943
Ficções, Jorge Luis Borges, 1944
O Quarteto de Alexandria, Lawrence Durrell, 1960
terça-feira, 24 de setembro de 2013
Língua: modos de usar
«É possível falar em certo e errado em relação à língua?
Quais os critérios para essa definição? O linguista Sírio Possenti e o
filósofo Danilo Marcondes apresentam aqui o que pensam sobre o tema.»
«Durante muito tempo, ninguém duvidou que o desempenho dos falantes pudesse ser qualificado em certo e errado. Mas, há pelo menos dois séculos, essa tese caiu em desuso. A questão ainda não é bem compreendida, mas a confusão atual é um indício de avanço. Bem ou mal, as variedades (antes) tidas por erradas são levadas em conta, até aceitas, desde que fiquem em seu lugar. Mais na prática do que na teoria, diria.
Para tentar esclarecer a questão, proponho um conjunto de teses que se complementam.»
Ler todo o texto aqui: lingua-modos-de-usar
quinta-feira, 5 de setembro de 2013
«Um bom preparador se contrói com muito tempo, experiência e calmantes.»
«Se houvesse bom-senso no mundo, “preparador de texto” seria uma
afecção mental categorizada pelo CID-10 (Classificação Internacional de
Doenças e de Problemas Relacionados a Saúde, Décima Revisão).
Nas editoras, o preparador é aquela pobre alma responsável pela primeira revisão de um livro, ainda no arquivo de Word. É a mais trabalhosa, que busca limpar o texto, corrigi-lo e aperfeiçoá-lo. O trabalho de preparação consiste em adequar o original às normas editoriais, seguindo um gigantesco manual de padronização que dispõe sobre citações, versaletes, colocação pronominal, pontuação, galicismos, siglas, topônimos estrangeiros e coisas como o singular de “gnocchi”, que é “gnocco” e não pode ser aportuguesado para “inhoco”.
Trata-se de uma leitura atenta, escorada por vasto material de apoio e dicionários vernáculos. Inúmeros detalhes devem ser considerados — itens como sintaxe, coerência, ortografia, ambiguidade, repetição desnecessária, vícios de linguagem, ecos de língua estrangeira, falsos cognatos, ritmos frasais e outras questões de cunho literário. O texto deve fluir bem, sem engasgos.
É obrigação do preparador formatar o arquivo original e bater todos os parágrafos (verificando se o tradutor não pulou nenhum trecho). Essa é uma tarefa particularmente apreciada pelos mais neuróticos, que ajeitam quebras de página e formatam títulos com o entusiasmo de quem toma Berlim.
Um bom preparador é caso psiquiátrico. Convém que ele sofra de um leve transtorno obsessivo-compulsivo e seja persistente, perfeccionista e incansável. É preciso gostar de pesquisar minúcias como a composição química do tricofitobezoar, interessar-se por dispositivos bélicos da Segunda Guerra, especializar-se em generais bizantinos, possuir um dicionário de gírias de milicos e ler tudo sobre a moda seiscentista só para checar se a infanta Margarida usava calcinhas de elástico.
O preparador de originais é um xiita vocabular. Em Ser feliz, de Will Ferguson, há uma frase que resume a categoria: “O preparador de texto enlouqueceu”, exclama May. A personagem é editora de livros e até entende que o preparador é pago para ser minucioso, conferir gramática, pontuação e uso do idioma. “Mas esse sujeito passou das medidas. Passou mesmo. Ele assinalou a frase ‘manuscrito escrito à mão’, disse que era redundância, que a raiz em latim é manus, que significa ‘mão’.”
Tem todo o meu apoio.
O preparador é aquele sujeito que chega a sacrificar uma lagartixa só para ver se ela escorre pela parede ou desaba de uma vez no chão. Minha mãe quase chegou a esse ponto — sim, pois a preparação é um ofício que passa de geração em geração, só que ao contrário. Minha avó será a próxima.
Tem alma de preparador aquele que desconfia de tudo e se gaba publicamente ao encontrar algum erro gritante no original, como passagens bíblicas equivocadas num livro sobre São Francisco de Assis ou um tradutor que topou com a expressão “coolie-hating” e, distraído, salpicou um desvairado “ódio aos cães da raça collie”.
Corre a lenda sobre um profissional que achou uma incongruência no enredo de A invenção de Morel, de Adolfo Bioy Casares. Desde já, um mito entre seus pares.
Quando o distinto Paulo Werneck (ex-editor da Companhia e hoje no caderno Ilustríssima, da Folha de S.Paulo) me convidou para trabalhar para a editora, resgatando-me de um deprimente cargo de revisora num site de fofocas, ele revelou a principal qualidade do preparador: a desconfiança. Duvidar de tudo, até da grafia de Shakespeare, Tolstói e Getulio Vargas. (Sobre essa última, a lendária preparadora Márcia Copola deu a palavra final: após pesquisar documentos da época, viu que o Pai dos Pobres não acentuava o nome ao assinar, e assim ficou estabelecido).
Em termos de mania, a inverossimilhança e a impossibilidade física fazem salivar qualquer preparador. Uma frase pronta para a intervenção: “Com os cotovelos apoiados no ombro, ele se sentou correndo sobre a panturrilha esquerda, movendo o cenho na direção oposta”. (A não ser que o livro tenha motivos circenses. Nesse caso, convém ter à mão o telefone do Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Picadeiro para esclarecer eventuais dúvidas.)
Como último e derradeiro sintoma da moléstia, o preparador de texto deve sofrer de dupla personalidade, pois precisa se mostrar respeitoso e arrogante a um só tempo. Respeitoso com o estilo do autor e com as soluções do tradutor, mas arrogante o suficiente para passar a tesoura e reformular os trechos que julgue necessário.
Um bom preparador se constrói com muito tempo, experiência e calmantes. Embora eu já demonstrasse pendor para a atividade em meus tempos de revisora de fofocas — títulos de minha lavra: “Gatuno rouba peruca de Jennifer Lopez” e “Julio Iglesias tira o sapato em cadeia nacional” —, minha consagração na área de copy-editing veio mesmo na Companhia das Letras, onde exasperei editores com meus comentários longos, engraçadinhos e desnecessários, e causei poderosas enxaquecas em tradutores renomados com minhas dúvidas e anseios estilísticos.
Nas palavras de FERGUSON 2002, pp. 71-2: “Preparadores de texto, ah! Todos malucos. Malucos, estou te dizendo!”.»
Texto de Vanessa Bárbara, jornalista e tradutora. Tirado DAQUI.
Nas editoras, o preparador é aquela pobre alma responsável pela primeira revisão de um livro, ainda no arquivo de Word. É a mais trabalhosa, que busca limpar o texto, corrigi-lo e aperfeiçoá-lo. O trabalho de preparação consiste em adequar o original às normas editoriais, seguindo um gigantesco manual de padronização que dispõe sobre citações, versaletes, colocação pronominal, pontuação, galicismos, siglas, topônimos estrangeiros e coisas como o singular de “gnocchi”, que é “gnocco” e não pode ser aportuguesado para “inhoco”.
Trata-se de uma leitura atenta, escorada por vasto material de apoio e dicionários vernáculos. Inúmeros detalhes devem ser considerados — itens como sintaxe, coerência, ortografia, ambiguidade, repetição desnecessária, vícios de linguagem, ecos de língua estrangeira, falsos cognatos, ritmos frasais e outras questões de cunho literário. O texto deve fluir bem, sem engasgos.
É obrigação do preparador formatar o arquivo original e bater todos os parágrafos (verificando se o tradutor não pulou nenhum trecho). Essa é uma tarefa particularmente apreciada pelos mais neuróticos, que ajeitam quebras de página e formatam títulos com o entusiasmo de quem toma Berlim.
Um bom preparador é caso psiquiátrico. Convém que ele sofra de um leve transtorno obsessivo-compulsivo e seja persistente, perfeccionista e incansável. É preciso gostar de pesquisar minúcias como a composição química do tricofitobezoar, interessar-se por dispositivos bélicos da Segunda Guerra, especializar-se em generais bizantinos, possuir um dicionário de gírias de milicos e ler tudo sobre a moda seiscentista só para checar se a infanta Margarida usava calcinhas de elástico.
O preparador de originais é um xiita vocabular. Em Ser feliz, de Will Ferguson, há uma frase que resume a categoria: “O preparador de texto enlouqueceu”, exclama May. A personagem é editora de livros e até entende que o preparador é pago para ser minucioso, conferir gramática, pontuação e uso do idioma. “Mas esse sujeito passou das medidas. Passou mesmo. Ele assinalou a frase ‘manuscrito escrito à mão’, disse que era redundância, que a raiz em latim é manus, que significa ‘mão’.”
Tem todo o meu apoio.
O preparador é aquele sujeito que chega a sacrificar uma lagartixa só para ver se ela escorre pela parede ou desaba de uma vez no chão. Minha mãe quase chegou a esse ponto — sim, pois a preparação é um ofício que passa de geração em geração, só que ao contrário. Minha avó será a próxima.
Tem alma de preparador aquele que desconfia de tudo e se gaba publicamente ao encontrar algum erro gritante no original, como passagens bíblicas equivocadas num livro sobre São Francisco de Assis ou um tradutor que topou com a expressão “coolie-hating” e, distraído, salpicou um desvairado “ódio aos cães da raça collie”.
Corre a lenda sobre um profissional que achou uma incongruência no enredo de A invenção de Morel, de Adolfo Bioy Casares. Desde já, um mito entre seus pares.
Quando o distinto Paulo Werneck (ex-editor da Companhia e hoje no caderno Ilustríssima, da Folha de S.Paulo) me convidou para trabalhar para a editora, resgatando-me de um deprimente cargo de revisora num site de fofocas, ele revelou a principal qualidade do preparador: a desconfiança. Duvidar de tudo, até da grafia de Shakespeare, Tolstói e Getulio Vargas. (Sobre essa última, a lendária preparadora Márcia Copola deu a palavra final: após pesquisar documentos da época, viu que o Pai dos Pobres não acentuava o nome ao assinar, e assim ficou estabelecido).
Em termos de mania, a inverossimilhança e a impossibilidade física fazem salivar qualquer preparador. Uma frase pronta para a intervenção: “Com os cotovelos apoiados no ombro, ele se sentou correndo sobre a panturrilha esquerda, movendo o cenho na direção oposta”. (A não ser que o livro tenha motivos circenses. Nesse caso, convém ter à mão o telefone do Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Picadeiro para esclarecer eventuais dúvidas.)
Como último e derradeiro sintoma da moléstia, o preparador de texto deve sofrer de dupla personalidade, pois precisa se mostrar respeitoso e arrogante a um só tempo. Respeitoso com o estilo do autor e com as soluções do tradutor, mas arrogante o suficiente para passar a tesoura e reformular os trechos que julgue necessário.
Um bom preparador se constrói com muito tempo, experiência e calmantes. Embora eu já demonstrasse pendor para a atividade em meus tempos de revisora de fofocas — títulos de minha lavra: “Gatuno rouba peruca de Jennifer Lopez” e “Julio Iglesias tira o sapato em cadeia nacional” —, minha consagração na área de copy-editing veio mesmo na Companhia das Letras, onde exasperei editores com meus comentários longos, engraçadinhos e desnecessários, e causei poderosas enxaquecas em tradutores renomados com minhas dúvidas e anseios estilísticos.
Nas palavras de FERGUSON 2002, pp. 71-2: “Preparadores de texto, ah! Todos malucos. Malucos, estou te dizendo!”.»
Texto de Vanessa Bárbara, jornalista e tradutora. Tirado DAQUI.
quarta-feira, 4 de setembro de 2013
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