sexta-feira, 1 de junho de 2012
Os Buddenbrook
Terminei ontem de ler o livro de Thomas Mann, Os Buddenbrook. Com pena de ter chegado ao ansiado fim. Pena porque esse sentimento sempre me ocorre quando estou a terminar uma leitura de que gostei e que já fazia parte dos meus dias. Ansiado fim porque desejava concluir, afinal, o ciclo deste livro e pensar sobre ele. E há muito que pensar, pois trata de questões sempre atuais, naquele tempo ou neste que vivemos.
O interesse particular por este livro e por outros que virão em breve está na sequência de um estudo sobre o século XX - mais exactamente fim do XIX, início do XX até aos anos que se seguem à II Grande Guerra. Relacionar Literatura e História é o que mais me interessa no momento.
Devo dizer que no primeiro terço do livro fui quase displicente na leitura, porque a mim tudo me soava essencialmente descritivo – embora as descrições de T.M. nunca sejam inocentes, e eu sabia disso. Mesmo assim, só a partir de certa altura é que comecei a perceber: havia ali pelo menos duas ou três entre as principais personagens que eram na verdade muito mais que elas mesmas e que estavam destinadas a uma crescente complexidade enquanto representantes de um mundo que com elas também terminava. Novos tempos estavam a abrir caminho porque precisavam vir.
(E mais uma vez constato: como me faltam conhecimentos de História! E como são essenciais para se perceber qualquer coisa.)
«Que razões poderão levar um leitor do século XXI a interessar-se por Os Buddenbrook, cento e dez anos decorridos sobre a data da sua primeira publicação?» - lê-se no Posfácio da edição portuguesa. Esta é uma pergunta que fica inteiramente respondida quando viramos a última página do livro, quando acabamos de acompanhar o desmoronamento de Thomas Buddenbrook e de um mundo que já não tem como se sustentar. Quando, perplexos, assistimos ao fim dos gestos vazios, repetitivos, obsessivos e inúteis «que traduzem o empobrecimento de uma vida interior, sacrificada às mãos da prosperidade e dos sucesso mercantil». Thomas, que ao longo da história é forçado a se defrontar consigo mesmo através do irmão, Christian, e depois do filho, Hanno, é o representante da terceira geração de uma família bem estabelecida na cidade de Lübeck, no Norte da Alemanha. Nele «começam a insinuar-se os primeiros movimentos pendulares de uma tensão muito cara ao autor: a oscilação contrapontística entre a realidade burguesa, pragmática e implacável, e a vida, mais profunda, do espírito».
Uma palavra à excelente tradução de Gilda Lopes Encarnação, tradutora premiada, que nos faz degustar cada frase.
Edição da Dom Quixote
em Abril de 2011
638 páginas
«Thomas (sentado) e o irmão Heinrich Mann numa fotografia tirada por volta de 1900. Nesta altura Heinrich tinha já publicado pelo menos dois livros, enquanto Os Buddenbrook de Thomas estava prestes a sair.
Thomas Mann ganhou repercussão internacional, aos 26 anos, com Os Buddenbrook, sua primeira obra. Fortemente inspirado na história de sua própria família, o romance foi lido com especial interesse pelos leitores de Lübeck que descobriram ali muitos traços de personalidades conhecidas. A publicação deste livro valeu a Thomas Mann uma reprimenda de um tio, que o acusou de ser um "pássaro que emporcalhou o próprio ninho". » (Wikipédia)
Prémio Nobel de Literatura de 1929.
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