quarta-feira, 18 de abril de 2012

170º aniversário de nascimento de Antero de Quental




Amar! mas dum amor que tenha vida...
Não sejam sempre tímidos arpejos,
Não sejam delírios e desejos
Duma doida cabeça escandecida...

Amor que viva e brilhe! luz fundida
Que penetre o meu ser - e não só beijos
Dados no ar - delírios e desejos -
Mas amor... dos amores que têm vida...

Sim, vivo e quente! e já a luz do dia
Não virá dissipá-lo nos meus braços,
Como névoa da vaga fantasia...

Nem murchará do Sol à chama erguida...
Pois que podem os astros dos espaços
Contra uns débeis amores... se têm vida?


AMOR VIVO
Antero de Quental, Poesia Completa


o mesmo «Crash» – e muitas capas

As diferentes capas do romance de J. G. Ballard acima:  Inglaterra, Croácia, Espanha, França, República Tcheca, Sérvia, Itália, Brasil. 

Uma outra boa seleção pode ser vista no Ballardian, um site inteiro dedicado ao escritor inglês. Eis uma amostra:




domingo, 15 de abril de 2012

FLUPP pensa

 
 
 FLUPP pensa é um processo continuado de formação de leitores e autores. Uma espécie de reality show literário que visa publicar um livro lançando 30 novos autores, sendo 15 oriundos de áreas periféricas dentro da região metropolitana do Rio de Janeiro, e outros 15 da Polícia Militar. Ao mesmo tempo haverá encontros literários em 12 comunidades e, eventualmente, no QG da Polícia Militar. Em cada encontro estará presente um escritor de reconhecido prestígio para a participação em uma mesa aberta ao público.
O texto a seguir é de Zé Luís, da comunidade do morro Santa Marta, participante da FLUPP Pensa.
«Hoje eu me peguei pensando
Do alto do Morro, apreciando
O lugar onde nasci
Lembrei que quando engatinhava
Cá comigo arquitetava:
Um dia vou Andaraí
Alcancei algum progresso
Caminhei com Bonsucesso
Pelas ruas, sem receio
Para mim foi um privilégio
Comecei lá no Colégio
Bem na hora do Recreio
Perambulei Deus sabe aonde
De um Campinho, em Campo Grande
Fui correndo pra Tijuca
Suspirei ao ver a Ilha
Admirei cada Vila
Descansei na Parada de Lucas
Nos Pilares do Castelo
Percebi como era belo
O Engenho Novo da Usina
Sorri para a Portuguesa
Encantado, com certeza
Ofertei-lhe a Flor da Mina
Próximo à Chácara do Céu
Confessei ao Padre Miguel
Todos os segredos meus
Um Amor em cada canto
Orei por Todos os Santos
Aqui na Cidade de Deus
Escondidinho, entrei de fato
Quieto na Boca do Mato
Onde a natureza canta
Passando pela Rocinha
Parei na Cachoeirinha
Mergulhei na Água Santa
Vi um povo abençoado
Rico e pobre misturado
De Ipanema a Acari
Quem não gosta Paciência
Eu tomei uma Providência
Jamais vou sair daqui
Cada um tem sua bandeira
Fluminense em Laranjeiras
Cariocas de toda a nação
Botafogo que incendeia
Vasco da Gama na veia
Flamengo no coração
Canta Galo! Tá na hora!
Aproveite a graça da aurora
Acorda toda a Serrinha
Vamos curtir da Gamboa
A beleza da Coroa
No Engenho da Rainha
Na sombra de uma Mangueira
No Sossego da Pedreira
Eu refaço minha história
Contemplando o Céu Azul
Viajo para Zona Sul
E agradeço toda a Glória
Aqui no pico da favela
Aprecio da janela
A brandura desse clima
E digo: Muito obrigado!
Eu sou um abençoado
Vejo a cidade por cima
É o Rio!
Eu rio.»
A FLUPP é notícia na BBC News: Rio de Janeiro festival brings literature to favelas
e na Revista Arcadia: Retrato de la periferia

Franz Kafka

Franz Kafka (1883-1924), escritor tcheco de língua alemã, considerado um dos principais escritores de literatura moderna. Sua obra retrata as ansiedades e a alienação do homem do século XX.

Um site completo sobre Kafka: AQUI

Foto através da página de Memorable Book Excerpts no Facebook.

sábado, 14 de abril de 2012

Dois filmes sobre Clarice




«‟Eu faço tudo por Clarice.” A frase, dita com sincera paixão, é do norte-americano radicado na Holanda, Benjamin Moser, biógrafo de Clarice Lispector. Depois de lançar em 2009 a biografia Why this World – publicada no Brasil com o título Clarice –, Moser agora está à frente de mais um grande projeto sobre a escritora. Na verdade dois grandes projetos: dois filmes contando a vida de Clarice Lispector. Um documentário e um longa-metragem baseado em sua trajetória.»


Ler toda a matéria e ouvir entrevista com Benjamin Moser: AQUI

o infatigável Gonçalo M. Tavares

«Gonçalo M. Tavares faz parte daquele reduzidíssimo grupo de escritores que alia uma magnífica prosa a uma estonteante produção de escrita. A publicação em simultâneo de dois livros do autor não constitui, por isso, novidade. O que surpreende é a sempre renovada capacidade de, através da sua escrita, interpelar os leitores. Short Movies e Canções Mexicanas, os seus dois mais recentes livros, são disso prova.(...)

Short Movies e Canções Mexicanas são antes de mais uma tomada de consciência do prazer do contador de histórias, que em traços sóbrios e contidos (textos há que não ultrapassam a dezena de linhas) nos revelam um mundo marcado pela violência gratuita, por ameaças brutais, por atitudes e acontecimentos absurdos. Cada história capta fragmentos de um quotidiano, suficientemente costumeiro para o reconhecermos como nosso, mas que se distancia quando mediado pela cáustica voz e irónico olhar do contador.»


CANÇÕES MEXICANAS
Relógio D'Água, 96 pp.


SHORT MOVIES
Caminho, 160 pp.

Ler mais: http://visao.sapo.pt/goncalo-m-tavares-uma-realidade-perturbante=f656836#ixzz1s2JmArLD

Caderno Ípsilon de 27/4/2012. Palavras de Jose Castello, crítico literário brasileiro, Prémio Jabuti com Ribamar, sobre Gonçalo Tavares: «... não tenho dúvidas de que o grande nome da literatura portuguesa hoje é Gonçalo M. Tavares. É um autor muito acima da média, com uma obra radicalmente pessoal, que não se confunde com a de mais ninguém. É, além disso, um homem muito corajoso, pois segue o seu caminho com serenidade, mas sem arrastar os pés de seu destino. Tem uma obra absolutamente singular, que não cessa de me pregar sustos e de me levar a pensar.»

Fernando Pessoa


«O coração, se pudesse pensar, pararia.»



O Livro do Desassossego




ilustrações de Vieira da Silva


O raríssimo livro belamente 
ilustrado 
pela artista portuguesa 
Maria Helena Vieira da Silva, 
na década de 40, 
quando 
esteve exilada no 
Rio de Janeiro 
entre 1941 e 1947.

Através da página de Valéria Lamego no Facebook.

Biblioteca Digital Mundial


A Biblioteca Digital Mundial disponibiliza na Internet, gratuitamente e em formato multilíngue, importantes fontes provenientes de países e culturas de todo o mundo.
Os principais objetivos da Biblioteca Digital Mundial são:
  • Promover a compreensão internacional e intercultural;
  • Expandir o volume e a variedade de conteúdo cultural na Internet;
  • Fornecer recursos para educadores, acadêmicos e o público em geral;
  • Desenvolver capacidades em instituições parceiras, a fim de reduzir a lacuna digital dentro dos e entre os países.
É possível, incluisve, ouvir os verbetes selecionados, no idioma escolhido.
Link: Biblioteca Digital Mundial

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Cadernos de um Caçador

«O leitor talvez já esteja a aborrecer-se com os meus cadernos; vou consolá-lo: prometo limitar-me aos fragmentos já editados; porém, antes de nos despedirmos, não posso evitar dizer algumas palavras sobre a caça.
A caça com espingarda e cão é excelente em si, für sich, como diziam antigamente; imaginemos, no entanto, que o leitor não nasceu com veia de caçador, mas gosta, mesmo assim, da natureza e da liberdade; por isso, não pode deixar de invejar a raça dos caçadores… Oiça.
Sabia, por exemplo, como é delicioso, na Primavera, sair de casa antes de amanhecer? Passamos o umbral… No céu cinzento-escuro cintilam raras estrelas; um ventinho húmido aflui, de vez em quando, numa onda ligeira; ouve-se o sussurro da noite, reservado, incerto; as árvores rumorejam livremente, banhadas em sombras. Agora, põem um tapete dentro da carroça, colocam no fundo dela uma caixa com o samovar. Os cavalos laterais estremecem, bufam e marcam passo com elegância; um par de gansos, acabados de acordar, atravessa silenciosa e vagarosamente o caminho. Por trás da sebe, no jardim, o guarda ressona pacificamente; cada som parece parado no ar imóvel, parado mas sem esmorecer. Sentamo-nos; os cavalos arrancam de imediato, a carroça tamborila… Andamos… passamos a igreja, depois viramos da encosta para a direita, através da barragem… o lago artificial começa a cobrir-se de um ligeiro vapor. Faz um pouco de frio, tapamos a cara com a gola do pacote; mergulhamos em modorra. Os cavalos chapinham sonoramente nos charcos; o cocheiro assobia. Mas já foram feitas cerca de quatro verstás… o horizonte tinge-se de carmesim; nas bétulas, as gralhas de nuca cinzenta acordam e, desajeitadas, voam de um ramo para outro; os pardais chilreiam à beira de medas escuras. O ar clareia, o caminho é mais visível, o céu abre-se, as nuvens branquejam, os campos tingem-se de verde. Nas isbás, as estilhas ardem com chamas vermelhas, por trás dos portões ouvem-se vozes sonolentas. Entretanto, a aurora está a acender-se; já umas faixas douradas se estendem pelo céu, dos barrancos levantam-se vapores; as cotovias desfazem-se num canto sonoro, sopra o vento de madrugada – e o Sol rubro emerge vagarosamente. A luz jorra como um rio; o coração esvoaça no peito que nem uma ave! Frescura, alegria, felicidade! A vista é infinita a toda a volta. Eis uma aldeia por trás do bosque; e ainda outra, mais longe, com uma igreja branca; e uma floresta de bétulas em cima da colina; por trás dela é o pântano, para onde nos dirigimos… Rápido, cavalos, mais rápido! Para frente, a grande trote!… Faltam três verstás, não mais. O Sol levanta-se rapidamente; o céu está limpo… O tempo vai ser óptimo. O gado saiu da aldeia e vem ao nosso encontro. Subimos a encosta… Que vista! O rio serpenteia, estendendo-se por dez verstás, exibindo o seu azul baço através da névoa; por trás dele são os prados de cor verde deslavada; por trás dos prados, as colinas aplanadas; ao longe, os abibes gritam e voam, dando voltas por cima do pântano; através do brilho húmido derramado no ar, o horizonte destaca-se nitidamente… não é como no Verão. O peito respira livremente, os membros movem-se com energia, e todo o corpo, abraçado pelo sopro fresco da Primavera, ganha forças!…»

Tradução e Notas de Nina Guerra e Filipe Guerra
pp. 181-182 da edição portuguesa (Relógio D'Água) 

Ver também neste blogue: Em viagem com Turguénev pela Rússia do séc. XIX



Ivan Turguénev – por Ilya Repin


















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