quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Elogio do revisor


"Não sei há quanto tempo se estabeleceu como profissão o trabalho de rever as provas antes de se publicar um livro. O «meu» revisor, ou seja, a pessoa que reviu meticulosamente o romance Nada Mais e o Ciúme, sabê-lo-ia com certeza.

Trindade Coelho, em In Illo Tempore, conta a seguinte história que resumo de memória: num texto em que ele escrevera «dizia-se à saciedade», o tipógrafo emendou «saciedade» por «sociedade»; Trindade Coelho tornou a escrever «saciedade», e o tipógrafo alterou de novo. Até que, ao fim de duas ou três alterações e reposições, o autor falou com o homem, que lhe respondeu: «Ficará como o senhor doutor quiser, mas olhe que toda a gente sabe que se diz "sociedade", não "saciedade".» Existiriam já "revisores profissionais"? Ou era aos tipógrafos expeditos que cabia rever os textos?

Há livros mal revistos ou a que, mais provavelmente, tenha de todo faltado uma revisão. O autor pode ser extraordinário, mas a verdade é que se nota essa diferença. Uma distracção aqui, um desconhecimento ali, uma fragilidade acolá. Em contrapartida, qualquer romance melhora substancialmente se tiver passado pelas mãos de um revisor a sério. Talvez alguns escritores se sintam ameaçados. Não deviam. O revisor não é somente um homem que domina perfeitamente a língua, deve ser uma pessoa superiormente culta, que se passeia com grande à vontade por muitas esferas do saber. Com o "meu" revisor não só fui chamado a prestar atenção a pormenores de pontuação que me haviam escapado, como a erros de conteúdo relativos - por exemplo - aos poderes da raia [zoologia], às regras do sumo [desporto; cultura japonesa]. Detectou referências que eu discretamente fizera, sem querer ostentar, remetendo-as para Hitler [história, política internacional] ou para Nietzsche [filosofia], não, por sua vez, para se exibir, mas para me sugerir que contextualizasse de outro modo.

Em algumas das sugestões que fez pareceu-me evidente alguma ironia. Sobretudo quando se tratava de neologismos que eu ousava. A ironia fere-me, irrita-me. Como se uma mente mais culta ou mais inteligente do que a minha se divertisse à custa das limitações que revelo. Mas que querem? Há na competência e no rigor algo que se confunde facilmente com arrogância. Parece-nos sempre que as pessoas que realmente sabem e se indignam com as falhas que consideram "inadmissíveis" são pouco tolerantes.

Robert Conquest apresentou três leis da política, a primeira das quais determina que «toda a gente é de direita em relação àquilo que sabe melhor». Admito que o termo «direita» seja, aqui, muito ambíguo. Mas trata-se, explica-nos Scruton, de se mostrar «desconfiado em relação ao entusiasmo e à novidade e respeitoso para com a hierarquia, a tradição e os modos estabelecidos». Julgo, é claro, que em literatura, onde a originalidade não deixa de ser fundamental, qualquer apreciação enquistada num «respeito» fundamentalista pela «hierarquia» e pela «tradição» possa pecar por obtusidade. Vasto é o campo onde a visão do artista tem de se impor - e se vale alguma coisa, caberá ao futuro julgar, mais do que ao revisor. Mas mesmo assim. É talvez este critério de pouca abertura que torna, os bons revisores, profissionais escrupulosos e impacientes com os erros.

Perante um revisor como aquele que trabalhou sobre o meu texto, sinto-me frágil e embaraçado. Chego a pensar: «Mas afinal eu não sei escrever.» Todavia, dois minutos após termos concluído a nossa reunião, percebo que o romance que eu escrevera está agora muito melhor, muito mais sólido na forma e com menos imprecisões no conteúdo. Quase - ocorre-me - como se tivesse sido escrito em co-autoria. E agradeço não sei bem a quem ou a quê [ao destino, talvez], que, mais do que o facto de escrever um romance que foi sujeito a uma revisão, esta fosse feita por um revisor de primeira."

do blogue de José Pacheco, em setembro de 2011: http://leitordeprofissao.blogspot.com/2011/09/elogio-do-revisor.html

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012



¡BIBLIOBURRO! Esto es una maravilla. Creativo, tenaz, loco, con sus dos burros, Alfa y Beto, cargados de libros, el profesor Luis Soriano recorre los montes llevando biblioteca, cargando lecturas, textos, cuentos, poemas, diccionarios, enciclopedias, novelas, alfabeto y ciencia a los campesinos del Caribe colombiano.

Imagem e texto através de Guillermo Tedio (facebook)

© English Heritage/NMR. Bombardeio da Biblioteca da Holland House. Londres, 1940.

A Biblioteca da Holland House em Londres foi bombardeada em setembro de 1940. Essa célebre fotografia foi feita após um ataque aéreo alemão que devastou Londres. As paredes da biblioteca ficaram intactas, com suas estantes de livros ordenadamente dispostos. A imagem, de autoria desconhecida, mostra três homens de chapéu que aparecem calmamente folheando livros sob os escombros, alheios ao terror da noite anterior.

Imagem e texto através de Fernando Rabelo: http://www.imagesvisions.blogspot.com/

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Clarice em alemão

A obra de Clarice Lispector será toda traduzida para o alemão. A editora Schöffling & Co. acaba de comprar os direitos.

Vitória do consulado brasileiro em Frankfurt, que vinha buscando interessado desde 2010 – via Programa de Internacionalização da Literatura Brasileira, da Fundação Biblioteca Nacional.

(Notícia do blog de Sonia Racy no Estadao.com.br)

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Amazon põe em alerta as editoras tradicionais - Vida Digital - Notícia - VEJA.com

"A Amazon.com ensinou aos leitores que eles não precisam de livrarias. Agora, ela os está estimulando a deixar de lado seus editores. No outono do hemisfério Norte, a Amazon publicará 122 livros em diversos gêneros, tanto físicos quanto eletrônicos. Essa é uma notável aceleração do programa de edição da Amazon, que colocará o varejista em concorrência direta com as casas de Nova Iorque que são também seus fornecedores mais importantes."

Leia mais aqui: Amazon põe em alerta as editoras tradicionais - Vida Digital - Notícia - VEJA.com

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