terça-feira, 18 de outubro de 2011

da série «editores esses idealistas» - Die Insel


















"Alfred Walter Heymel (...) tomou a decisão de fundar na Alemanha onde, como em toda a parte, a edição se baseava fundamentalmente em critérios comerciais, uma editora que, sem ter em vista ganhos materiais, e prevendo mesmo prejuízos constantes, fixou como critério determinante de publicação não as possibilidades de venda, mas sim o valor intrínseco de uma obra. A leitura de entretenimento, por muito lucrativa que fosse, deveria ficar excluída; em contrapartida, dava-se acolhimento até ao que era mais subtil e menos acessível. (...) no orgulhoso propósito de isolamento, começou por se intitular Die Insel (A Ilha) e, mais tarde, Insel-Verlag. Nada aí deveria ser impresso tendo em vista o lucro; pelo contrário, no respeitante às técnicas de concepção de um livro, cada texto devia receber uma forma exterior que correspondesse à sua perfeição interna. Assim, cada obra particular, com o seu frontispício, a sua disposição tipográfica, tipo de letra e de papel, era um problema individual sempre novo;"

Nota: esta editora foi fundada em 1901, em Leipzig. Dentre seus autores publicados mais conhecidos constam Goethe, Rilke, Schiller, Stefan Zweig e Charles Dickens.

Citado do livro: O Mundo de Ontem – recordações de um europeu, p. 187
Stefan Zweig
Assírio & Alvim
Lisboa, 2005

Romance e tradução - Ricardo Piglia

domingo, 16 de outubro de 2011

Coisas esquecidas no meio dos livros - 2


Foram mais de trinta anos de intervalo entre o começo da leitura e o retomar da mesma. Uma vida... O que será que me faz ter novo entusiasmo por um livro abandonado por tanto tempo? Talvez antes não o compreendesse devidamente. Ou os motivos do entusiasmo inicial fossem frágeis.
O facto é que por um acaso reencontrei-o numa estante. E agora, enquanto o lia com renovado interesse, mas ainda com algum descompromisso, descobri entre as páginas um extrato bancário de 1980, em nome de um amigo a quem um dia emprestei o livro. Por conta do simples pedaço de papel vieram de uma vez mil memórias associadas. O livro adquiriu imediatamente, e além de tudo, novo significado.
Desta vez trouxe-o comigo.
Desta vez vou lê-lo até ao fim.

O livro: Memórias, Sonhos, Reflexões
Autor: C. G. Jung
Compilação e prefácio de Aniela Jaffé
2ª edição
Editora Nova Fronteira
Rio de Janeiro, 1975

para compreender as grandes criações

Stefan Zweig (Viena, 1881 - Brasil, 1942)

"... e subscrevo as palavras de Goethe, segundo as quais, para compreendermos inteiramente as grandes criações, não basta vê-las só no seu estado perfeito, temos de surpreendê-las também à medida que se vão constituindo. Mas do ponto de vista óptico, um primeiro rascunho de Beethoven, com os seus traços impetuosos, impacientes, com a desordenada confusão de motivos iniciados e abandonados, com a fúria criadora da sua natureza a transbordar de demoníaco, comprimida nuns quantos riscos feitos a lápis, também me estimula fisicamente, porque o seu aspecto espevita todo o meu espírito; consigo ficar a olhar para uma tal página hieroglífica com o encanto e o amor com que outros apreciam um quadro acabado. Uma página de Balzac com correcções, onde praticamente cada frase se encontra dilacerada, cada linha revolvida, a margem branca mordiscada a preto por traços, sinais, palavras, torna-se perceptível a erupção de um vesúvio humano; e um qualquer poema que eu tenha amado durante anos e que veja pela primeira vez no manuscrito original, na sua primeira manifestação terrena, desperta em mim um sentimento de religiosa veneração; (...)."

Citado do livro O Mundo de Ontem – recordações de um europeu, p. 183
autor: Stefan Zweig
tradução de Gabriela Fragoso
Editora Assírio & Alvim
Março de 2005
Lisboa

domingo, 22 de maio de 2011

apontamento

As editoras portuguesas vão enfim cedendo ao acordo ortográfico (até porque vai passar a ser obrigatório), e eu, por razões diferentes das dos portugueses, vou sentindo falta dos 'c', dos 'p', do 'h' - em húmido, por exemplo. Admito: sou conservadora (sempre fui) quanto à forma das palavras. Se pudesse ainda escreveria pharmácia. Por gosto - nada mais.

sábado, 21 de maio de 2011

e a profecia não se cumpriu

"Reiterada de tempos a tempos, reativada como um programa inevitável a partir do momento em que a Internet e os motores de busca passaram a fazer parte do quotidiano, em meados dos anos 90, a profecia não se cumpriu: a "galáxia de Gutenberg" não passou a ser uma coisa do passado, e a espécie do Homo typographicus continuou a crescer e a multiplicar-se, ainda que a sua condição seja agora híbrida, já que passou também a responder - e todos nós sabemos com que solicitude e velocidade - às solicitações da era digital.
Certo é que o caudal dos livros que se folheiam com os dedos, os livros impressos, não parou de aumentar. Robert Darnton (...), um dos mais importantes historiadores do livro e diretor da Biblioteca Universitária de Harvard, fornece os números desta marcha progressiva, num tempo que se esperava ser de abrandamento: em 1998 foram publicados em todo o mundo 700.000 novos títulos, em 2003 foram 859.000 e em 2007 foram 976.000."
Jornal EXPRESSO de 21/5/2011 : ler toda a matéria neste link

sexta-feira, 13 de maio de 2011

os escritores e seus gatos

Françoise Sagan com Brahms

Ezra Pound com seus três "tesouros"

Elizabeth Bishop com Minnow

Aldous Huxley com Limbo

ver mais fotos no blogue: http://weimarart.blogspot.com

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Visão nocturna da Feira



O espaço da 81ª Feira do Livro de Lisboa está mais interessante e agradável que nos anos anteriores. Vi tendas com autores a falarem para uma plateia até significativa, o que me lembrou a FLIP, a feira literária de Paraty. Também ouvi jazz ao vivo. E comi farturas. Muito movimento - não sei se muitas compras. Desta vez nada me apaixonou, mas comprei: Franny e Zooey, de J. D. Salinger, em edição da Relógio d'Água, e Uma Ideia da Índia, do Alberto Moravia, numa linda edição em capa dura da Tinta da China. Em geral bons preços. Talvez ainda volte outro dia. Termina a 15 de Maio, Domingo.

Coisas esquecidas no meio dos livros - 1


A Biblioteca Municipal de Vila Real organizou, no ano passado, uma exposição sobre "coisas esquecidas no meio dos livros" - marcadores, anotações avulsas, flores secas, poemas anónimos, cartas, bilhetes de namorados, postais ilustrados que durante meio século foram sendo deixados "no meio dos livros" que foram requisitados das suas estantes.
Para isso, serviam também os livros: um bilhete, no meio de um dicionário de Latim, a marcar um encontro junto do muro do liceu; um queixume enternecido e magoado esquecido entre as páginas de uma monografia sobre cerâmica regional. Um bilhete de cinema a fazer de marcador.
O que vem dentro dos livros, às vezes, não é o que vem dentro dos livros. É exactamente o que se perdeu lá dentro.

(tirado da coluna de Francisco José Viegas, 'Diário de Ocasião' - revista LER de Abril 2011)

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