sexta-feira, 10 de setembro de 2010

fontes de consulta

Só agora percebi que neste blogue, que pretende interagir com os colegas de atividade, faltava um item importante: dicas sobre fontes de consulta. Como não pensei nisso antes?!
Acrescento hoje na coluna à direita os sites que mais consulto nos meus trabalhos, e que espero sejam úteis a todos.

A CIDADE DO HOMEM - apresentação


















Ontem ganhei um exemplar do meu mais recente - e difícil, e desafiador - trabalho de revisão: A Cidade do Homem, de Amadeu Lopes Sabino. Um livro entre Portugal e Brasil durante a segunda metade do século XVIII. Um pedaço da História em meio às ideias de liberdade daqueles tempos, que culminaram com a Revolução Francesa na Europa, e no Brasil alimentaram os bastidores da chamada "inconfidência mineira".




Da contra-capa:

Romance, ficção documentada, relato das errâncias de um narrador europeu do século XXI através do universo mental do iluminismo, A Cidade do Homem é a biografia imaginada de António Dinis da Cruz e Silva (1731-1799), magistrado e poeta árcade que viveu, trabalhou e poetou em Portugal e no Brasil. Participante ativo nas polémicas que, durante o consulado de Pombal, agitaram o Reino e a Europa, foi juiz militar em Elvas e autor de O Hissope, sátira à querela protocolar entre o bispo e o deão da Sé da cidade alentejana. Presente desde o início no imaginário do protagonista, o Brasil torna-se o cenário da narrativa com a transferência de Cruz e Silva para a Relação do Rio de Janeiro em 1776. A partir desse ano, servidor da Justiça e de Apolo, julgou e poetou nas capitanias do Sul, sobretudo em comarcas do Rio e de Minas, privando com os juristas e árcades locais. Em 1792, seria membro do tribunal que julgou e condenou na capital do Brasil os inconfidentes mineiros, entre eles os seus companheiros mais próximos nas lides judiciais e na poesia. Numa digressão através da História e das ideias em busca da polis racional, A Cidade do Homem centra-se na condenação dos conspiradores à morte ou ao degredo, evocando uma época que, na Europa, em Portugal e no Brasil nas vésperas da independência, prenunciou os antagonismos e as hecatombes do nosso tempo.

A Cidade do Homem
Amadeu Lopes Sabino
568 pp
Sextante Editora
Lisboa, Setembro de 2010

O livro foi apresentado em Elvas, cidade de nascimento de Amadeu Sabino, e em Lisboa a 21 de Outubro, na Livraria Bulhosa.
Esta obra será em breve publicada também no Brasil.

Agora também editado no Brasil, pela editora Record:

sábado, 4 de setembro de 2010

alegrias e tristezas do trabalho

Ontem recebi o meu exemplar de oferta por ter feito a revisão de mais este livro de Alain de Botton.
Em tempos em que se pensa tanto sobre a forma de trabalhar, e em que o próprio trabalho é disputado a peso de ouro, refletir sobre vários contextos e situações da nossa atividade profissional, seja esta qual for e onde for, é no mínimo bastante útil; e além de útil pode ser bastante interessante, se acompanharmos os relatos e as considerações deste espirituoso autor.

Aquilo a que normalmente nos dedicamos quando vamos entrar para a universidade, ou quando estamos num momento crítico da nossa atividade - isto é, pensar de forma concentrada sobre que rumo dar à nossa vida profissional -, aqui, ao longo da leitura do livro, é possível fazer muito naturalmente, com mais perspectiva, e até divertidos, mas nem por isso menos envolvidos. E ainda que as rotinas e as pessoas que o autor traz sejam um pouco ou mesmo muito diferentes de nós, percebemos que são idênticos os anseios de realização e de complementação do nosso sentido de vida através do trabalho.

Da contracapa:
"Com uma perspectiva filosófica e a sua característica combinação de perspicácia e sabedoria, Alain de Botton conduz-nos numa jornada que abarca toda uma gama propositadamente eclética de actividades profissionais, desde a ciência aeroespacial até ao fabrico de biscoitos, da contabilidade às belas artes, com o objectivo de explorar o que faz o nosso trabalho ser gratificante ou desalentador."



Alegrias e Tristezas do Trabalho
Alain de Botton
Tradução de Lídia Geer
Publicações Dom Quixote
Alfragide, Abril de 2010
384 pp

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

'E agora, José?'

Num determinado momento deste blogue tive de me definir quanto a utilizar ou não as normas do novo Acordo Ortográfico. Mesmo ciente de que eventualmente poderia sucumbir à grande confusão em torno das tais normas, lá fui eu. Mas hoje, ao ler este comentário sobre a palavra dia-a-dia (ou dia a dia?), é que percebi onde me tinha metido!

"De facto, na 5.ª edição do Vocabulário Ortográfico da Academia Brasileira de Letras, a palavra dia a dia aparece grafada sem hífen.
Na Base XV, n.º 6, é indicado que nas locuções de qualquer tipo não se aplica o hífen, a não ser em palavras cujo uso já esteja consagrado, como, por exemplo, «água-de-colónia», «arco-da-velha», «cor-de-rosa».
Deste modo, a 5.ª edição do Vocabulário Ortográfico da Academia Brasileira não consagra esta palavra com hífen. Podemos então admitir que no Brasil a grafia realmente muda.
Todavia, no Portal da Língua Portuguesa (www.portaldalinguaportuguesa.org), sobre a ortorgrafia desta palavra, lê-se: «A grafia da palavra dia-a-dia não muda com o novo acordo.» Em Portugal, ainda não é possível afirmar com certeza o que irá acontecer."
(Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, 02/06/2009)

Se é assim... volto ao hífen que já tinha eliminado do subtítulo deste blogue.

Mas notem bem: no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, de João Malaca Casteleiro, da Porto Editora, a palavra consta sem hífen, e sem variante. - 'E agora, José?'

número 1 da Revista PESSOA


PESSOA é uma recém-lançada revista dedicada à divulgação da literatura portuguesa no espaço lusófono. Presidente do conselho editorial: Luiz Ruffato. Periodicidade: trimestral. Veja mais em http://www.revistapessoa.com/

domingo, 15 de agosto de 2010

"Falar uma língua não é fazer o que a língua diz"


Leio numa curiosa entrevista com Daniel Heller-Roazen, linguista, pesquisador, algo que não conhecia: as misturas de línguas nos poemas medievais. Poemas que começam, por exemplo, em árabe, mas terminam em português ou espanhol; ou então que alternam entre latim e francês, ou galego e provençal. O que interessa a Daniel é a ideia de um texto cuja língua era incerta, ou mesmo impossível de se identificar. Como ele diz, "são textos escritos numa língua de ninguém".
Recentemente, Daniel H-R publicou um livro chamado Escolalias - Sobre o Esquecimento das Línguas, onde, entre outros temas, fala sobre a noção de pertença da língua, que ele comenta também na entrevista: "A preocupação com a conservação das línguas expressa uma concepção de linguagem que é, em minha opinião, contestável. Quem tem, enfim, o poder de decidir o que as pessoas falam, ou como elas falam? Uma língua pertence igualmente a todos que a falam, não é inalienável, como uma propriedade."
E ainda: "Falar uma língua não é fazer o que a língua diz, mas se envolver com ela, mudá-la, alterá-la."

Achei útil citar tais ideias, além da menção ao livro do autor, em tempos em que tantas dúvidas e questões de norma trazem a língua portuguesa para o debate quotidiano - e um debate, diga-se de passagem, bastante acalorado, e que ainda vai longe de terminar.

Escolalias: Sobre o Esquecimento das Línguas
Daniel Heller-Roazen
Tradução de Fábio Akceirud Durão
216 pp
Editora Unicamp
2010

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

129.864.880 de livros


O mundo tem hoje cerca de 129 milhões de livros. Quem se deu ao trabalho de fazer essa conta foi o Google, tendo como base seu ambicioso projeto de digitalização de livros, o Google Books. O número impressiona quando se pensa na Biblioteca de Alexandria, a maior da antiguidade. Segundo a previsão mais otimista, feita pelo físico Carl Sagan na série Cosmos, ela teria perto de um milhão de pergaminhos, possivelmente muitos deles duplicados.

O engenheiro de software Leonid Taycher explicou no blog do Google Books o complexo processo utilizado pela empresa para fazer o cálculo. O Google coleta informações de várias fontes como bibliotecas, livrarias e outros catálogos. Com um arquivo bruto que já ultrapassa um bilhão de registros, a empresa então analisa esses dados para diminuir a quantidade de duplicações em cada uma das fontes, baixando o número a 600 milhões.

A partir daí é preciso um ajuste fino para diminuir as duplicações que permanecem entre as diferentes fontes. Como exemplo, Taycher conta que existem 96 registros diferentes em 46 fontes do livro "Programando em Perl, 3ª edição". Duas vezes por semana a equipe unifica todos esses registros em volumes separados, levando em conta todos os atributos de cada um deles, como nome do livro, autor, editora, ISBN, ano de publicação, etc.

Após todo esse trabalho o algoritmo do Google entregou cerca de 210 milhões de volumes, mas esse número muda sempre que a conta é refeita, por causa dos novos dados que chegam e das mudanças para aperfeiçoar o algoritmo.

O número final foi alcançado após a exclusão de microfilmes, gravações de áudio, mapas e outras obras que não deveriam ser classificadas como livros: 129.864.880.

Em um de seus projetos mais polêmicos, o Google quer digitalizar todos os livros do mundo, o que tem lhe valido uma grande briga com editoras e autores. O Google Books já foi criticado até mesmo pelo Departamento de Justiça dos EUA, que acusa a empresa de não dar a devida proteção ao direitos dos autores das obras.

Fonte: O GLOBO de 06/8/2010: http://oglobo.globo.com/tecnologia/mat/2010/08/06/google-diz-que-mundo-tem-129-864-880-de-livros-917330576.asp

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

antiga Livraria José Olympio Editora

Rua do Ouvidor, 110

Imagem a propósito do lançamento do livro Rua do Ouvidor 110 - Uma História da Livraria José Olympio, na Livraria da Travessa, Rio.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Voyage to Brazil

Não sei se isto acontece sempre que estamos a viver em outro lugar que não o nosso, original. Mas o facto é que, de longe, o meu olhar em direção à minha cidade vem se demorando cada vez mais, interessado na sua história, à espera do que a sua paisagem, modificada ao longo dos séculos, ainda é capaz de contar; dos segredos das suas ruas que já tiveram tantos nomes; do casario que ainda consegue estar de pé em meio à indiferença de muitos - mas não de todos.
Estar longe de casa certamente tem a ver com esse desejo de estabelecer pontes onde, antes, pouco ou nada eu via.
Talvez por tais caminhos é que tenha vindo ao meu encontro, pelas mãos de uma amiga, este Journal of a Voyage to Brazil, escrito por Maria Graham.

"Rio de Janeiro, sábado, 15 de dezembro de 1821. - Nada do que vi até agora é comparável, em beleza, à baía. Nápoles, o Firth of Forth, o porto de Bombaim e Trincomalee, cada um dos quais julgava perfeito em seu gênero de beleza, todos lhe devem render preito, porque esta baía excede cada uma das outras em seus vários aspectos. Altas montanhas, rochedos como colunas superpostas, florestas luxuriantes, ilhas de flores brilhantes, margens de verdura, tudo misturado com construções brancas, cada pequena eminência coroada com sua igreja ou fortaleza, navios ancorados, ou em movimento, (...) em um tão delicioso clima, tudo isso se reúne para tornar o Rio de Janeiro a cena mais encantadora que a imaginação pode conceber. 19 de dezembro. - Passeei a cavalo, ao lado de Langford, por um dos pequenos vales ao pé do Corcovado. É chamado Laranjeiros [Laranjeiras], por causa das numerosas árvores de laranjas que crescem dos dois lados do pequeno rio que o embeleza e fertiliza. Logo à entrada do vale, uma pequena planície verde espraia-se para ambos os lados, através da qual corre o riacho sobre seu leito de pedras, oferecendo um lugar tentador para grupos de lavadeiras (...)."

Maria Graham (Inglaterra, 1785-1842) é responsável por um dos mais fidedignos e atentos depoimentos sobre o Brasil da década de 20 do século XIX. No Rio de Janeiro, testemunha os acontecimentos do chamado Dia do Fico e visita os arredores da cidade, desenhando e fazendo inúmeras anotações. Conquista então a amizade da Imperatriz D. Leopoldina, que a escolhe como preceptora da princesa D. Maria da Glória. Ficou no Brasil até 1826, quando volta definitivamente à Inglaterra.


Diário de Uma Viagem ao Brasil
Maria Graham
424 pp
Coleção Reconquista do Brasil, volume 157
Editora Itatiaia Ltda
Belo Horizonte, 1990


quarta-feira, 21 de julho de 2010

os livros, os autores e os editores

Tirado do blogue da Companhia das Letras. Escrito por André Conti, editor da Companhia das Letras.

“O sr. pode confimar se essa frase em francês está certa?” (Foto de Henry James por William M. Vander Weyde)

"Quando comecei a trabalhar com os livros da Penguin, a primeira reação foi de alívio: por se tratar de um selo dedicado a clássicos em domínio público, meu autor mais jovem teria morrido, pelo menos, em 1939.

Não entendam errado, gosto de trabalhar com autores vivos. Em sua imensa maioria, eles querem o mesmo que o editor: o livro bem-feito, a capa bonita, o lançamento no prazo. E alguns acabam até por se tornar bons amigos.

Mas a edição de um livro é também um momento difícil na vida de qualquer autor — uma espécie de limbo entre a entrega dos originais e o momento da publicação —, muito propício a crises de ansiedade, insegurança e, aqui e ali, de loucura generalizada.

E o autor vivo também acarreta ansiedade no editor: aquele livro prometido em 2007, no qual você depositou todas as suas expectativas, e que simplesmente não aparece na caixa de entrada. Ou a capa que você gostou, mas que acaba recusada sabe-se lá por quê. E mesmo alguns autores estrangeiros já colaboraram para o meu envelhecimento precoce.

De modo que a oportunidade de trabalhar com os mortos e, em especial, com os mortos há muitos séculos — sem herdeiros, espólio, agentes — pareceu uma barbada. O trabalho em si era o mesmo: achar tradutores bons, cuidar do texto, escolher capa, resolver as dezenas de problemas que cada livro apresenta. A diferença é que as decisões caberiam agora ao Matinas Suzuki (coordenador da empreitada Penguin) e a mim, e não a um autor temperamental, pronto para reescrever o capítulo doze no último minuto.

Ótimo, então. Vamos fechar os livros.

A saudade dos meus autores vivos bateu imediatamente. Porque com os vivos, mesmo os neuróticos, podemos tirar dúvidas. Confirmar trechos mais cabeludos. Fazer sugestões. No caso dos clássicos, para se tirar uma dúvida é preciso recorrer à fortuna crítica da obra. E os acadêmicos, como se sabe, raramente concordam entre si. Mais: alguns desses livros têm séculos de idade, e o próprio idioma original já se transformou. Uma palavra que tinha um determinado sentido na época em que o livro saiu, hoje pode ter se transformado completamente. Quem responde por isso?

O crédito vai ao esforço monumental dos tradutores, que não raro se embrenham em biografias e estudos críticos sobre os autores que estão traduzindo. Pois é preciso também conhecer o contexto em que a obra foi escrita. Assim, uma frase que pode soar estranha aos ouvidos modernos tem uma justificativa histórica para ficar daquela maneira. O fato é que, ao contrário dos autores vivos, não podemos simplesmente telefonar para o Henry James e confirmar se aquela frase em francês está mesmo correta (estava).

Em outros livros, você descobre que justamente o trecho que empacou tudo, e para o qual você buscava uma resposta desde janeiro, vem sendo discutido há décadas, sem nenhuma espécie de consenso ou definição. Nesses casos, há algumas opções: recorrer a edições críticas da obra, levantar a dubiedade do trecho em uma nota de rodapé ou, a minha preferida, chorar copiosamente.

Acho que não existe autor perfeito, e nem editor. Um livro é um bicho com dezenas de cabeças, um problema resolvido leva ao surgimento de outros doze, e é preciso um pouco de paciência até que tudo se acerte. Em se tratando de autores vivos, às vezes é fácil, às vezes dá briga, mas podemos sugerir coisas, dirimir dúvidas, tomar uma cerveja em comemoração ao lançamento. Com os mortos, não há reclamação do autor. Todavia, há séculos de leituras sobre a obra, dezenas de especialistas que entendem mais do que você do assunto, enfim, o chamado escrutínio da rapaziada.

No fim, o mais importante é que nada disso — as discussões, os problemas, as dúvidas — transpareça no livro. Dentro da obra, é fundamental que o editor seja invisível. Fora, você pode ver um punhado deles por aí, chorando pelos cantos, abraçados na gramática do Bechara e falando em gerúndios."

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