sexta-feira, 18 de junho de 2010

o pão e o livro

1922-2010

"O pão não precisa de marketing porque todos nós precisamos de comer pão. No dia em que o livro também não precisasse de marketing, esse seria o dia em que o livro estaria tornado tão necessário como o pão."

José Saramago

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Prémio Príncipe das Astúrias das Letras 2010

O escritor libanês Amin Maalouf recebeu hoje o Prêmio Príncipe das Astúrias das Letras 2010.
Nasceu em Beirute, em 1949. Sua literatura mistura história e ficção e atua como uma ponte entre Oriente e Ocidente.

"Desde que deixei o Líbano, em 1976, para me instalar em França, perguntam-me inúmeras vezes, com as melhores intenções do mundo, se me sinto 'mais francês' ou 'mais libanês'. Respondo invariavelmente: 'Um e outro!' Não por um qualquer desejo de equilíbrio ou equidade, mas porque, se respondesse de outro modo, estaria a mentir. Aquilo que faz com que eu seja eu e não outrem é o facto de me encontrar na ombreira de dois países, de duas ou três línguas, de várias tradições culturais. É precisamente isso que define a minha identidade.
(...) Esta interrogação insistente fez-me sorrir durante muito tempo. Hoje já não sorrio. Porque ela me parece reveladora de uma visão do mundo muito espalhada e, a meu ver, perigosa. (...) quando se incita os nossos contemporâneos a 'afirmarem a sua identidade', como tão frequentemente se faz hoje em dia, o que se lhes diz desse modo é que devem reencontrar no seu íntimo esta pretendida pertença fundamental, muitas vezes religiosa ou nacional, racial ou étnica, e brandi-la orgulhosamente na cara dos outros. Quem reivindique uma identidade mais complexa descobre-se marginalizado."

Retirado do livro As Identidades Assassinas
Publicado por Difel
Tradução de Susana Serras Pereira
Lisboa, 2002
2ª edição
176 pp

estrangeirismos

Texto tirado de "Observatório da Imprensa" e escrito por Deonísio da Silva em 8/6/2010 (http://www.observatoriodaimprensa.com.br)


"Em inglês, técnico de futebol é coach e a palavra está presente em expressões como he is a slow coach – equivalente, no português, a "ele é devagar", "demora a compreender", "é tapadão". Mas por que coach, que significou originalmente apenas coche, carruagem, e ainda significa, veio a designar o técnico de futebol?

No húngaro, onde a palavra surgiu, era kocsi szekér, carro de Kócs, cidadezinha no Norte da Hungria, onde esses veículos foram fabricados pela primeira vez. Quando o filho de Matthias Corvinus (século 15), o mais popular dos reis húngaros, apelidado o Justo, casou-se com uma duquesa de Milão, a palavra espalhou-se por toda a Europa.

No alemão, foi escrito originalmente Kotsche, coche, carruagem, diligência (no alemão atual é Kutsche e deve ser escrito sempre com a inicial maiúscula por se tratar de substantivo). Dali foi para o holandês ets, para o polonês kocz etc. Espanhóis e portugueses escrevem coche, embora os primeiros pronunciem com um "t" intermediário: "cotche".

O veículo deu nome ao ofício

Foi mais ou menos o que ocorreu com a carruagem feita em Berlim, que os franceses escreveram berline, cujas vidraças laterais permitiam ver quais as pessoas que eram ali conduzidas, ensejando os comentários. Hoje, "estar na berlinda" é ser objeto de comentários.

Como sabem os que têm paixão pela viagem das palavras, seu berço oferece indícios de significados sempiternos, ou então efêmeros, passageiros, às vezes vindo a significar exatamente o contrário do que significaram na origem.

Na cultura inglesa, o treinador vinha para o campo de coach e o veículo que o transportava deu nome a seu ofício. No Brasil, entretanto, apesar de o futebol ter sido trazido pelo inglês Charles Miller, pouco a pouco as denominações foram adaptadas ou substituídas por genéricos do português.

O mais fácil na pronúncia

O goal keeper tornou-se goleiro apenas. Goal, meta, objetivo, tornou-se gol. Back virou beque e depois lateral, tomando o nome da área do campo onde atuava: lateral esquerdo, lateral direito, e mais recentemente os laterais passaram a ser designados alas. Nas primeiras transmissões dos jogos de futebol por rádio ainda eram ouvidos quíper, já aportuguesado, mas também "fau", adaptação do inglês foul, falta.

O jogador de número 5, hoje designado volante, mas não exclusivamente, pois a mania da retranca faz com que os técnicos recuem também o meia-direita, número 8, ou o meia-esquerda, camisa 10, jogando com dois volantes, e o centroavante, camisa 9, teve na origem designações do inglês: center half e center forward. Mas por que volante para o número 5? Há uma lenda a conferir. Entre 1938 e 1943 teria jogado no Flamengo um argentino chamado Carlos Martin Volante. Ele exercia tão bem a função de marcar na intermediária que deu nome à posição.

O inglês football tornou-se futebol no Brasil, dito "futibol" na maioria das regiões, e futebol em outras. Ball tornou-se bola apenas. Juiz e árbitro ainda disputam a denominação, mas chamar "árbitro ladrão" é mais difícil do que "juiz ladrão". A palavra juiz é mais comum, árbitro é mais rara e além do mais é proparoxítona e na língua portuguesa predominam as paraxítonas. Cavalo é mais fácil de dizer. Imagine xingar um zagueiro de "cávalo". É como se, no calor dos trópicos, a indolência, a preguiça ou o simples cansaço fizessem com que buscássemos o mais fácil também na pronúncia."

quarta-feira, 2 de junho de 2010

pronominais


Dê-me um cigarro
Diz a gramática
Do professor e do aluno
E do mulato sabido
Mas o bom negro e o bom branco
Da Nação Brasileira
Dizem todos os dias
Deixa disso camarada
Me dá um cigarro


Do livro: Pau-brasil
Oswald de Andrade, 1925

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Prêmio Camões 2010

Ferreira Gullar

O Prêmio Camões, criado em 1989 e considerado o mais importante prêmio literário da língua portuguesa, foi atribuído este ano a Ferreira Gullar como reconhecimento ao conjunto da sua obra, dedicada não só à poesia - o centro da sua criação -, mas também ao teatro, ao ensaio, e outros gêneros.

"Quando surge uma idéia, vou para a rua.
Tenho prazer em conceber o poema no meio das pessoas que passam
e nem suspeitam que ali, naquela hora ele está nascendo."

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Tipografia: industrialismo & métodos artesanais

Gill Sans

Enquanto - por não querer me adiantar aos editores - não posso comentar livros que revi nos últimos tempos, e que estão no prelo, trago um interessante texto de contracapa da edição da Almedina, Ensaio sobre tipografia, de Eric Gill (1882-1940), designer tipográfico e criador da fonte Gill Sans (a minha preferida...). Objeto irresistível para os aficionados, esta tão bem cuidada edição portuguesa baseia-se na versão fac-similada da editora Lund Humphries, publicada pela primeira vez em 1988.

"O tema deste livro é a Tipografia, e a Tipografia tal como é influenciada pelas condições do ano de 1931. O conflito entre industrialismo & os antigos métodos dos artesãos, que deu origem à confusão do século XIX, está agora a aproximar-se do fim.
Mas embora o industrialismo tenha agora conseguido uma vitória quase total, as artes manuais não estão mortas, & não podem ser radicalmente extintas, porque satisfazem uma necessidade inerente, indestrutível e constante do ser humano.
Os dois mundos podem ver-se, um ao outro, como diferentes e sem recriminações, reconhecendo ambos o que há de bom no outro - o poder do industrialismo, a humanidade do artesanato. Já não há justificação para a confusão de objetivos, incongruência de métodos ou hibridismo na produção; cada um dos mundos pode deixar o outro tranquilo na sua própria esfera.
Que o industrialismo tenha, ou não, 'vindo para ficar' não é questão que nos interesse, mas o artesanato acompanhar-nos-á sempre - como os pobres. E os dois mundos são agora completamente distintos. O trabalho de imitação de 'obras de época' e o comércio do artesanato de imitação estão, por certo, condenados. Os critérios das artes manuais são tão absurdos para a indústria mecanizada como os critérios mecânicos o são para o artesão.
A aplicação destes princípios à feitura de letras e de livros é a matéria principal deste livro."

Ensaio sobre tipografia
Eric Gill
166 pp
Introdução de Luís Ferreira
Tradução de Luís Varela
Revisão científica de Guilhermina Mota
Edições Almedina
Abril de 2003


Outras publicações afins:
Manual tipográfico de Giambattista Bodoni
João Bicker
148 pp
Edições Almedina
2001

A Forma das Letras - um manual de anatomia tipográfica
Maria Ferrand e João Manuel Bicker
66 pp
Edições Almedina
2000


quinta-feira, 6 de maio de 2010

Falando em Turguéniev


O melhor deste livro está na notável diagnose da vida política e intelectual russa de meados do século XIX. Ao menos, é este o nível que me parece mais bem resolvido no livro; não deixa de ser um cenário para a história de amor – que de resto termina muito civilizadamente, sem cataclismos... – que conduz a narrativa, mas um cenário pintado com tintas magníficas pela verve do autor.

«À volta da árvore russa – à l´'Arbre russe – reuniam-se normalmente os nossos simpáticos compatriotas; vinham altivamente, negligentemente, elegantemente, à moda, cumprimentavam-se majestosamente, elegantemente, familiarmente, como compete a seres que se encontram no pináculo da cultura moderna. Mas, depois de se encontrarem, já sentados, decididamente não sabiam o que dizer uns aos outros, e caíam na tagarelice triste ou na fala barata, vulgar, e nas anedotas extremamente impudicas de um ex-literato francês, antiquado, falador e palhaço, com uns miseráveis sapatos judaicos nos pés e uma pequena barba desprezível na face ignóbil.» (p. 8)


Fumo Ivan Turguéniev
216 pp
Tradução a partir do russo e Notas de Manuel Seabra
Relógio D'Água Editores
Lisboa, Fevereiro de 2010


Ivan Turguéniev nasceu em Orel, no Império Russo, em 1818. É considerado uma das figuras mais importantes da literatura russa, ao lado de Dostoiévski e Tolstoi. Oriundo de uma família abastada, passou a infância em Spaskoe, onde conheceu de perto a vida no campo. O seu livro Pais e Filhos (1862) deu origem a grande controvérsia, o que fez com que o autor abandonasse a Rússia. Depois de viver em Baden-Baden e em Londres, fixou-se nos arredores de Paris, onde faleceu em 1883.


Sugestões de Leitura:
Pais e Filhos
Ivan Turguéniev
256 pp
Traduzido do russo por António Pescada
Posfácio de Vladimir Nabokov
Relógio D'Água Editores
Lisboa, Maio de 2007


O Crepúsculo do Amor [sobre a vida de Turguéniev]Robert Dessaix
266 pp
Tradução de José Lima
Oceanos/ASA Editores
Lisboa, Fevereiro de 2007



terça-feira, 4 de maio de 2010

e pensar que, não faz muito tempo, os livros eram compostos assim...

Depois que os Chineses introduziram na Europa o papel e a xilogravura, o caminho para o surgimento da tipografia estava aberto. Do emprego da xilogravura, que data de inícios do século XV, para o procedimento tipográfico foi um passo.
O primeiro objectivo da mecanização tipográfica, além da concorrência com a indústria de manuscritos, era evitar a incidência de erros tal como havia nas reproduções manuscritas, intenção sempre contrariada pelos frequentes e inquietantes acidentes de impressão, de modo que uma página, linha, palavra ou letra podiam sair impressos de forma diferente em exemplares distintos.
Hoje, com todos os recursos proporcionados pela tecnologia informática, esta padronização e qualidade de impressão atingiram o seu mais alto nível, eliminando do processo qualquer vestígio do seu passado artesanal, cujo produto, falível e diferenciado, adquiriu hoje um outro estatuto, de carácter artístico, ocupando um pequeno (mas nem por isso menos importante) nicho num mercado massificado e voraz.

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