domingo, 7 de março de 2010

o Rio de Ruy Castro e de todos nós


Há livros assim. Não sei se são eles desiguais ou eu, mas o facto é que somente agora estou a terminar de ler Rio de Janeiro - Carnaval de fogo, em edição da ASA. Aproveito para alimentar o meu imaginário fervilhante de recordações e saudades da minha cidade com esta crónica generosa de Ruy Castro.
Daí fico a saber que houve quem quisesse desmontar o Pão de Açúcar para arejar a cidade - o que realmente foi feito com os morros do Castelo e de Santo António -, e mais uns tantos absurdos saídos das penas e papeis de arquitetos (ou menos que isso). Até mesmo Le Corbusier apresentou um projecto urbanístico que previa a construção de viaduto desde o centro da cidade até ao Leblon, pelo litoral! - bem, sem comentários...

Desigualdades ou intermitências à parte, é um livro imperdível para cariocas ou somente para apaixonados pelo Rio. Ou então para os que simplesmente gostam das histórias de uma cidade - e em 500 anos, ali houve muitas.

o "projeto" de Le Corbusier, o racionalismo levado a um extremo que poderia ter violentado a cidade...


Rio de Janeiro - Carnaval de Fogo

Ruy Castro
290 pp
Colecção O Escritor e a Cidade
Edições ASA
Julho de 2006, Lisboa

sábado, 27 de fevereiro de 2010

design editorial

Capa: bandeira da Festa de Santa Helena

Projeto à espera de publicação - o admirável trabalho da fotógrafa Consuelo Abreu não merece menos do que isso.

Título: os dias santos de Minas Gerais
Fotografia: Consuelo Abreu
Edição e design gráfico: Ana Lúcia Parga
Textos: Guimarães Rosa e Adélia Prado (fontes citadas no projeto)
Formato: 24 x 24 cm
44 pp
Projeto editorial de conclusão do curso de design gráfico da ETIC.

Algumas páginas da maquete:


quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

sem comentários

Editora erra o nome de Paulo Coelho em capa espanhola.



"The streets were dark with something more than night." Raymond Chandler










Letra e Música
272 pp
Oceanos
Lisboa, Novembro de 2008
...........................
Fora de Horas

264 pp
Oceanos
Lisboa, Fevereiro de 2009




Na leitura de ambos os livros de Paulo Castilho, encontrei um estilo de que gosto muito: directo, coloquial, com finas camadas de ironia. São livros que dialogam com o leitor de forma inteligente e lúcida.

Cito um texto da contracapa de Fora de Horas: "Aparentemente a estação de caminho-de-ferro do Union Pacific está ainda intacta, tal como descrita em Playback. Estação que eu tinha visitado em filmes sem conta. Mas faltava em tudo aquilo qualquer coisa de essencial. Demasiada luz. Uma inundação de claridade. Era isso. Faltava a noite. Faltavam as sombras. Faltava a chuvada negra do Big Sleep. Faltava a face obscura com que os homens contagiam as cidades que povoam. Faltava a lucidez gelada da escuridão. Faltava também o Humphrey Bogart. Faltava a Lauren Bacall.
Eventualmente faltaremos todos. Permanecendo, porém, como deuses imortais, os sítios para continuarem a prestar o seu indiferente testemunho de silêncio."



Acordo: sim ou não?

Tenho procurado manter aqui o português de antes do Acordo - opção da grande maioria dos editores portugueses e não só.
Por outro lado, sei de autores portugueses que já aderiram ao Acordo.
E mais: as novas normas terão de vingar mais cedo ou mais tarde, independentemente das preferências pessoais.

Em resumo: este blog está indeciso, mas não deveria manter a indecisão por muito tempo...

revelação


Dulce Maria Cardoso
Prémio da União Europeia para a Literatura 2009
com o livro Os Meus Sentimentos



É uma noite de temporal. A noite do acidente. Há uma gota de água suspensa num estilhaço de vidro que teima em não cair.
Há um instante que se eterniza. Reflectida na gota, Violeta mergulha nessa eternidade e recorda o que pode ter sido o
último dia da sua vida, e nesse dia, toda a vida, e nessa vida,
os pais, a filha, a criada, o bastardo, e em todos, a urgência da vida que prossegue indiferente como estrada de onde ainda
agora se despistou. Nessa posição instável, de cabeça para baixo, presa pelo cinto de segurança, parece que tudo se desamarra.
O presente perde a opacidade com que o quotidiano o resguarda e Violeta afunda-se nos passados de que é feita, uma espiral alucinada de transparências e ecos. (...) Para onde foi o futuro?
(da badana de Os Meus Sentimentos)

Os Meus Sentimentos
312 pp
Edições ASA
Lisboa, Agosto de 2009


Perturbadores e belíssimos, os romances de Dulce Maria Cardoso criam personagens inesquecíveis enredadas em vidas que nos emocionam tanto quanto nos permitem olhar o mundo de uma forma atenta, inteligente e muitas vezes inesperada.
(da contracapa de O Chão dos Pardais)

O Chão dos Pardais
224 pp
Edições ASA
Lisboa, Outubro de 2009



terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Kundera

... os seus saltos soando no passeio fazem-me pensar nos caminhos que não percorri e que se dividem como ramos de uma árvore. Você despertou em mim a obsessão da minha primeira juventude: imaginava a vida à minha frente como uma árvore. Chamava-lhe então a árvore das possibilidades. Só durante curtos momentos se vê a vida assim. Depois ela surge como uma estrada imposta de uma vez para sempre, como um túnel donde não se pode sair. Contudo, o antigo aparecimento da árvore permanece em nós sob a forma de uma indelével nostalgia. Você recordou-me essa árvore, e, em troca, quero transmitir-lhe a imagem dela, fazer-lhe ouvir o seu murmúrio feiticeiro.

Do livro A Identidade, de Milan Kundera
54 pp
Edições Asa






Má tradução é texto fadado à insuficiência, por mais que o revisor leia e releia.
Má tradução associada a prazos curtos: não há revisor que dê jeito.

Real Gabinete Português de Leitura - Rio de Janeiro

fachada


interior


Instituição fundada em 1837 por imigrantes portugueses.
Edifício projectado pelo arquiteto português Rafael da Silva e Castro.

pedaços de História – O Rastro do Jaguar






1º Prémio LeYa
Março de 2009
568 pp




O autor Murilo Carvalho leva-nos ao virar do século XIX em Congonhas do Campo, Minas Gerais.
Um antigo jornalista de origem portuguesa, acompanhado do amigo Pierre, conduz-nos ao interior do Brasil e testemunha os conflitos que deram origem a uma das guerras mais sangrentas do hemisfério sul – a Guerra do Paraguai.
É também a guerra pelo espaço vital das populações índias, que desde então tentam recuperar a sua Terra Mítica. E ainda a guerra pessoal do próprio Pierre à procura de suas origens.

Baseado em factos verídicos e personagens reais, O Rastro do Jaguar retrata os intensos choques culturais e sociais que marcaram o século XIX e a relação dos europeus com as suas antigas colónias.

Um épico, às vezes desigual entre o que pretende e o que consegue, mas sem dúvida um retrato impressionante de um Brasil em busca do seu destino.

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